Café Derramado: Medir dor

Medir dor não faz sentido, dia desses indo para o trabalho escutei uma mulher conversando com uma amiga e dizendo que a filha de alguém estava com depressão e por isso, pediu demissão do emprego e agora fica em casa o tempo todo, não ajudando em nada e só deixando os pais preocupados e com despesas a mais para arcar, como se não fosse o suficiente a outra solta um: ” – Que depressão que nada, pra mim isso é frescura!”.

Não é, e infelizmente não será a última vez que alguém no mundo desdenha da dor de alguém, eu sei disso, e também sei que as pessoas raramente mudam sua forma de pensar acerca de coisas das quais já estão convictas, mas não custa nada tentar né?

A depressão, por exemplo, é um distúrbio do humor que leva à persistente sensação de tristeza e perda de interesse que pode levar a uma ampla gama de problemas não só emocionais, como físicos. Incluem a incapacidade de dormir ou de se concentrar em tarefas, além de alterações do apetite, redução de níveis de energia e não é incomum notar-se pensamentos suicidas.

Suas causas incluem desde o desequilíbrio químico do cérebro até acontecimentos desgastantes emocionalmente ou fisicamente, como a perda de um ente querido, o término de um relacionamento ou até mesmo o rompimento de um contrato de trabalho ou a dificuldade de se recolocar no mercado.

E você ainda pensa que a depressão é uma frescura? Quem em sã consciência tem predileção por sofrer a ser feliz?

Uma coisa que também já escutei diversas vezes é a comparação de sofrimento ou o ato de menosprezar sentimentos alheios:

  • Nossa, você está assim só por ter perdido o emprego?
  • Ela fica chorando o tempo todo por ter perdido o namorado, eu tenho três filhos para criar, estou desempregada e não estou deitada no quarto ou chorando o tempo todo!

A dor é uma artista cujos poderes são tão diversos quanto os instrumentos nos quais toca seus lamentos para os mortos, despertando em alguns as notas mais agudas e penetrantes e em outros os acordes mais baixos e graves que palpitam repetidamente como as cadências lentas de um tambor distante.

Alguns temperamentos, ela alarma; outros, entorpece. Há quem ela atinja feito uma flecha, excitando-lhe a suscetibilidade para uma vida mais ativa; há quem ela abata como uma clava que, num golpe, paralisa a vítima.

Ambrose BierceA Janela Vedada

O ser humano está tão viciado com questões de padrões que esquecem que essencialmente somos humanos e ser humano não é somente ter um polegar opositor e ter a capacidade de pensar, raciocinar e se comunicar, ser humano é saber utilizar a capacidade que tem. Se somos capazes de nos comunicar e raciocinar, por que não raciocinamos antes de nos comunicar? Por que muitos de nós invalidamos a maioria das características que nos diferenciam dos outros animais?

Não há padrões no sofrer, não há padrões no pensar, no agir, no amar, o ser humano é complexo e tentar colocar um padrão em qualquer aspecto do ser humano é limitá-lo.

Medir dor não faz sentido, as pessoas fariam mais sentido se usassem seu tempo livre para amenizar dores, a empatia é uma coisinha muito interessante que deveria ser mais utilizada por todos nós.

7 comentários sobre “Café Derramado: Medir dor

  1. Thamiris Alves disse:

    Concordo Luke, o que serve para um não serve para o outro. E às vezes uma palavra amiga ao invés de um julgamento é tudo que a pessoa precisa. E se vc não tem nada a acrescentar fica calado que faz melhor hahah bjo

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  2. Jeniffer Geraldine disse:

    A gente tem mania de julgar até a dor do outro, né? E temos tb a infeliz mania de olhar pro outro a partir das nossas convicções e experiências de vida. Falta empatia, bom senso e tantas outras coisas.
    Gostei das reflexões.
    Bjos

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  3. Ana Ramos disse:

    Que sensibilidade, Luke! Julgamos as pessoas inconscientemente o tempo todo. Virar a chave e tentar se por no lugar do outro é um exercício mais difícil, mas que tornaria esse tipo de medição menos frequente… Eu tento fazer isso. Falhou miseravelmente várias vezes, mas sigo tentando. Quem sou eu p determinar como a pessoa deve se sentir diante de sua própria dor, sabe-se lá que fantasmas ela tem…
    Adorei o texto!
    Beijos!

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    • Lucas Moreira disse:

      Exatamente Ana, é um exercício diário e bem difícil, mas é importante termos essa noção de que precisamos mudar isso em nós mesmo. A ação de pensar assim por si só já é um grande avanço.
      Um beijo o muito obrigado pelo carinho!!!

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  4. Mércia Machado disse:

    Oi Lucas!
    Belo texto e de uma sensibilidade incrível… Infelizmente o ser humano não costuma apenas “medir dor”, mas também as conquistas… Só que nas dores, a do outro é sempre menor e nos Sucessos, o de si próprio foi bem mais merecido.
    #Empatia – Um palavra simples e por muitos desconhecida, se não conhecem nem o significado, como exercer esse sentimento?
    Beijão!

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