MÊS DO HORROR: Jogo Perigoso – Stephen King

Jogo Perigoso (Gerald’s Game) é um livro do escritor estadunidense Stephen King, publicado em 1992, o livro possui pelo menos quatro edições diferentes publicadas no Brasil, sendo a mais recente pela editora Suma de Letras e uma recente adaptação pela Netflix.

Não! — berrou, e puxou com mais força. — Me recuso a morrer deste jeito! Está me ouvindo? ME RECUSO A MORRER DESTE JEITO!

Gerald é um advogado de meia idade bem sucedido que decide tirar uma folga do trabalho para passar um tempo em sua casa no lago com a sua esposa Jessie e assim, esquentar um pouco a relação dos dois. Porém, a ideia de Gerald de calor é um tanto quanto diferente da ideia de sua parceira, que já demonstra estar cansada de seus jogos sexuais.

Há algum tempo Gerald apresentava certos problemas em suas relações com Jessie, até que descobriu que quando usava um pouco de violência ou se colocava em uma posição de dominador, chegando a amarrar os braços da parceira, seu vigor sexual voltava a aparecer. O problema é que o que inicialmente começou com algo para apimentar a relação, tornou-se algo intrínseco ao sexo e Jessie aos poucos foi cansando da ideia de ser amarrada e até mesmo sufocada durante o ato.

Verdade. Porque não era um jogo dos dois; era um jogo só dele. Ela continuara a participar apenas porque Gerald quis que o fizesse. E isso agora já não bastava.

Contudo, uma vez que estavam ali para reacender a relação, Jessie topa jogar com Gerald mais uma vez, mais por gostar de ver o parceiro tendo prazer do que por sentir prazer, e estende seus dois braços às cabeceiras da cama e é algemada por seu parceiro. Porém, muitas coisas dão errado e Gerald acaba sofrendo um ataque cardíaco durante a relação, se é que pode-se chamar o que houve de relação.

Então, Jessie se vê no quarto algemada à cama, tendo por companhia apenas o cadáver frio, duro e roxo de seu marido, com sede, dores, falta de circulação nos braços e câimbras terríveis. Como se não fosse suficiente estar em situação tão complicada, a casa do lago fica isolada e o caseiro e os funcionários foram dispensados por Gerald.

Além disso, Príncipe, um cão abandonado pelo seu dono e faminto aparece no quarto ao sentir cheiro de carne fresca e um visitante noturno extremamente assustador aparece em meio às sombras para validar a insanidade da personagem ou para lhe oferecer o impulso final que precisava para tomar uma atitude definitiva.

Stephen King narra minunciosamente a queda-livre na sanidade de Jessie e por meio de vozes da própria personagem em idades diferentes e vozes de amigas de tempos diferentes, acompanhamos o desenvolvimento dela.

Com todas as cartas postas à mesa, descobrimos que as algemas que prendem Jessie na cama é uma incrível alegoria aos diversos traumas aos quais a personagem ainda está presa e para se libertar das algemas, precisará se libertar também de todos esses terríveis traumas do passado e do presente. Não vou mencionar aqui quais traumas são, mas garanto que você vai se sentir muito desconfortável durante essa leitura extremamente claustrofóbica e inquietante.

Não é que ele não consiga entendê-la; é que às vezes, boneca, ele não quer entendê-la.

Deixando um pouquinho a obra de lado, preciso comentar um pouco sobre a adaptação que foi lançada no final do mês passado pela Netflix. A adaptação dirigida por Mike Flanagan com Carla Gugino e Bruce Greenwood é simplesmente perfeita em absolutamente todos os aspectos, ela é fiel na medida certa. As liberdades de roteiro que foram tomadas, principalmente quanto as vozes de Jessie, foram muito bem feitas, sem dúvida é mais uma excelente adaptação de obras do King esse ano, pelo menos até então, Torre Negra foi a única decepção.

Como não poderia ser diferente, o livro está recheado de referências e auto-referências, temos aqui uma auto-referência sutil ao livro “Cujo” (1981) e uma bem menos sutil, na verdade a história dessa obra se passa no mesmo universo e há até mesmo uma conexão entre as personagens, ao livro “Eclipse Total” (1992); além disso King cita o conto “O Coração Denunciador” de Edgar Allan Poe e o filme “O Exorcista”.

“Jogo Perigoso” é uma obra que King dedicou à seis mulheres e isso não é a toa. A obra diz muito sobre o papel da mulher na sociedade, como ela é vista pelo homem e pelas próprias mulheres inseridas em uma sociedade machista. O livro constantemente provoca ao repetir qual é a função e o lugar da mulher, porém, enquanto esse despautério é repetido, Jessie toma atitudes que invalidam esse argumento, toma seu poder feminino nas mãos e com ele vai se libertando de cada trauma que lhe foi incutido e ao final da obra não resta dúvida alguma quanto ao lugar e a função da mulher na sociedade: a função e lugar que ela bem quiser conquistar.

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Quantos cafés Jogo Perigoso merece?

6 comentários sobre “MÊS DO HORROR: Jogo Perigoso – Stephen King

    • Lucas Moreira disse:

      Já cheguei a ler Desespero e super queria a edição complementar de Justiceiros, como não encontrei, não cheguei a ler ele ainda kkkk. Fico feliz que tenha gostado da resenha 🙂

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  1. Isa Cereser disse:

    Primeiramente obrigada por me esperar e ler este livro comigo.
    Segundo, eu gostei desta obra e de acompanhar como King retratou a mulher, este homem é uma caixa de surpresas real/oficial. Confesso, que no meio do livro a historia fica meia chatinha, lentinha, mas vale a pena continuar. Gostei e semana que vem sai minha resenha, falta eu ver o filme, corre Isa.. kkkk.
    Beijão

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