“Moletom” é o primeiro romance de Julio Azevedo, responsável pelas tirinhas maravilhosas da página Eu Moletom. O trabalho foi publicado no final do ano passado pela editora Globo Alt e pude adquirir meu exemplar autografado e conhecer o autor durante a CCXP 2017 lá no Artist’s Alley.
Na trama, Pedro, um jovem homossexual, se vê obrigado a sair de casa e passar um tempo na casa de sua tia, quando a situação com seus pais se torna insustentável. Com todo o peso da situação, encontra na convivência com sua tia e prima Amanda a tranquilidade que precisava para colocar a cabeça no lugar enquanto dá tempo para que seus pais assimilem as coisas.
Rebrotar pode ser cansativo, mas memórias de quando fui primavera continuam me mantendo vivo.
Em meio a uma tempestade, Pedro entra em um café para salvar seus manuscritos de serem destruídos pela chuva e é nesse estabelecimento que conhece Lucas, um dos garçons do local.
Tímido e atrapalhado, Pedro logo chama a atenção de Lucas que se espanta ao ver o descontrole emocional do garoto assim que ele entra no café. O garçom tenta puxar conversa e amenizar de alguma forma o aparente nervosismo do cliente, porém, a tentativa é vã e só serve para deixar o garoto ainda mais atrapalhado, tão atrapalhado que ele vai embora sem reparar que esqueceu a sua mochila com seus manuscritos no local.
No dia seguinte, Pedro volta ao café para reaver sua mochila e encontra em Lucas uma amizade que não demora muito para despertar sentimentos dos quais ele sempre fugiu. Dessa amizade, surge um sentimento maior e ele é retratado pelo autor de forma natural, o que deixa a história ainda mais fluída e gostosa de acompanhar.
É claro que nem tudo são flores, Lucas também possui seus traumas, medos e inseguranças por ainda não ter aceito sua condição plenamente e isso com toda a certeza atrapalha a relação dos dois garotos, porém, eles se unem em nome de um sentimento que é maior do que qualquer medo, insegurança ou preconceito, sarando assim suas feridas mutualmente enquanto juntos fazem descobertas sobre o amor, o amar e auto-conhecimento.
Mas como disse, nem tudo são flores, e Pedro sabe que sua estada na casa de sua tia e naquela cidade é apenas temporária, então, eles precisam encontrar um jeito de aproveitar todo o pouco tempo que terão juntos.
A narrativa e escrita da obra é bem simples e fluída, mas não entenda isso como se a trama fosse efêmera, pelo contrário, ser simples é ainda mais difícil do que ser complexo. Julio demonstra controle sobre seu ofício nesse primeiro romance, mesclando em sua narrativa poemas e ilustrações que fazem da obra algo ainda mais especial e significativo.
Ao mesclar experiências, que creio serem suas, com ficção, o autor faz com que o acompanhar da jornada dos personagens seja ainda mais fascinante, uma vez que é possível enxergar realidade em cada palavra lida aqui.
“Moletom” é um livro lindo, daqueles que deixam o coração e a alma mais quentes, como se tivéssemos acabado de receber um abraço. É uma leitura leve e fluída, li o livro em uma sentada só e quando percebi já estava no final, sobre um tema que inexplicavelmente ainda é considerado tabu nos dias de hoje e por isso, acerta ao abordar o assunto de forma natural, demonstrando o quão nocivo e quanto o preconceito pode causar traumas nas pessoas.
Por mais trabalhos assim sendo publicados no Brasil, parabéns Julio!
Para adquirir a obra e ainda colaborar com o blog > Moletom – Julio Azevedo
Quantos cafés “Moletom” merece?