Badida é o primeiro volume de um quadrinho independente desenvolvido pelos irmãos Aldo Solano e Camilo Solano (Desengano), lançado em 2017. A ideia para criar o quadrinho é antiga, lá em 2014, Camilo chegou a postar algumas páginas do trabalho mostrando uma de várias situações cujo personagem do quadrinho se envolve, você pode conferir esse registro no site do quadrinista.
Em um dos seus primeiros DVD’s a cantora Pitty disse que o complicado era realizar o simples, e isso me soa cada vez mais verdade. Tomando por exemplo a literatura, sabemos o quão trabalhoso é o ofício da escrita, o quão dispendioso é criar um universo, amarrar pontas soltas e escrever um calhamaço, porém, uma história curta muitas das vezes se monstra uma tarefa bem mais complexa e complicada do que escrever uma série de três livros, pois ser simples, é complicado. Mas por que estou falando sobre isso ao invés de ir de imediato falando sobre o quadrinho em si? Badida é simples!
O quadrinho é basicamente uma homenagem dos dois irmãos para uma figura carimbada da cidade São Manuel, interior de São Paulo. Badida é o apelido de Adriano Cella e como ele é conhecido na cidade.
Com duas histórias, cada uma criada por um dos irmãos, vemos Badida em duas situações, sendo elas a sua interferência bombástica no desfile cívico de aniversário da cidade e o dia que seu irmão deixou ele responsável por sua barbearia por alguns minutos.
Esse “personagem”, além de divertido, cumpre uma outra função no quadrinho, pois ele é a única figura naquele desfile cívico que não está ali apenas fazendo figuração. É perceptível o incômodo dos moradores da cidade quando Badida chega, mas também é perceptível o fato de que a presença de Badida, de certo modo, traz vida à paisagem morta e a normalidade de uma pacata cidade do interior.
Não é incomum cidades pequenas, bairros ou até mesmo cidades grandes, certas figuras carimbadas, como é o caso da Mulher de Roxo de Salvador, elas cumprem uma função engraçada em seus círculos de convivência, pois ao gerar boatos, situações inusitadas ou até mesmo mistérios, essas pessoas fazem com que nos questionemos acerca do que é o normal. O normal não existe, padrões são limitadores e um mundo onde só houvesse pessoas “normais” seria um mundo chato totalmente contrário à alegria que os moradores de São Manuel devem sentir quando presenciam as inusitadas situações provocadas por Badida.
Eu fico meio que sem palavras para falar sobre a arte do Camilo aqui, pois mesmo com os poucos trabalhos que pude conferir dele, me declaro um grande fã de seu traço único. É o tipo de traço que você bate o olho e já sabe a quem pertence. Eu não conhecia nenhum trabalho de Aldo, mas também adorei o traço dele, apesar de ser bem diferente do trabalho de seu irmão.
“Badida vol.1” é um quadrinho curto, simples e até mesmo descompromissado, porém, não é um trabalho vazio. Ao retratar a singularidade de uma figura local, os artistas questionam a evolução das cidades interioranas que aos poucos vão se tornando cada vez mais comuns, sem charme e sem alma, um risco que se corre quando adota-se o comum como padrão.
Quantos cafés “Badida vol.1” merece?
Muito obrigado!! Fico feliz demais que tenha curtido!!
Preciso te responder no insta! desculpa a correria meu velho!
Abração!
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Eu que agradeço pela atenção, seu trabalho é incrível!
Abração 😀
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