“Salto” é uma história em quadrinhos nacional do quadrinista e arquiteto Rapha Pinheiro; o trabalho financiado pelo Catarse, foi publicado em 2017 pela editora AVEC, a mesma do excelente “Beladona” de Ana Recalde e Denis Mello e seu lançamento ocorreu durante a CCXP 2017, onde tive o prazer de adquirir o meu exemplar e bater um papo rápido com o Rapha.
O quadrinho é uma aventura Steampunk ambientada na Inglaterra durante o período vitoriano, a inspiração para contextualizar a obra nesse período surgiu da vivência do quadrinista na Inglaterra, onde presenciou alguns eventos Steampunk e acabou ficando fascinado. Por essa razão, aparentemente, o roteiro foi pensado em inglês e por isso há alguns momentos onde se fez necessária a explicação de certas piadas envolvendo expressões em inglês para que não se perdesse o sentido.
Além da inspiração da atmosfera do quadrinho, Rapha também decidiu produzir o projeto em formato Europeu, ou seja, o layout do quadrinho é maior “21×28”, possibilitando a criação de páginas mais diversificadas; outra opção foi não utilizar requadros para este trabalho.
Na trama, acompanhamos a história de Nü, um habitante da cidade subterrânea de Intos onde todos os habitantes são feitos de fogo. Antigamente, todos habitavam a cidade exterior de Edos, porém, o medo da chuva que passou a assolar o mundo exterior, forçou-os a buscar abrigo em cavernas e fundar a cidade subterrânea.
Os habitantes de Intos são imensamente gratos ao Barão, pois sem ele e sua Fábrica de Ar, não seria possível a existência das criaturas de fogo, uma vez que precisam de oxigênio para queimar e manterem-se acesas. Porém, acidentalmente, Nü descobre um segredo do Barão e percebe que os habitantes de Intos não deveriam ser tão gratos assim.
Todos nessa cidade são parecidos, agem parecidos. Você é o diferente e, para eles, isso é assustador.
Além de ser um quadrinho divertido, “Salto” possui diversas criticas sociais em seu conteúdo que vão desde o racismo, que é bem evidente, uma vez que Nü é o único ser de fogo de Intos que possui chamas azuis ao invés de cores comuns ao fogo, passando pela figura do Barão representando a política e o abuso de poder, mostrando também uma população imersa em uma zona de conforto tóxica e ainda consegue espaço para discutir empoderamento feminino, colocando a personagem Mãe, melhor amiga de Nü e interesse amoroso, com um cargo e uma patente alta de Engenheira de Voo.
As cores do quadrinho me agradaram bastante, há um contraponto de calor e frio quando Nü passa da cidade para as cavernas e também quando faz uma grande descoberta, e apesar da trama se passar dentro de cavernas, as cores não ficaram escuras, a caverna ganhou uma iluminação bem pecúliar devido aos seus residentes e a própria atmosfera Steampunk.
Outro ponto que me chamou atenção nesse trabalho foi o layout das páginas, as escolhas de Rapha serviram muito bem para auxiliar e enriquecer a narrativa do quadrinho, tornando a HQ dinâmica, coisa essencial para uma HQ chamada “Salto”. Além disso, certamente sua formação em arquitetura colaboraram para a criação da cidade subterrânea que ficou lindíssima.
“Salto” é um trabalho recomendado para pessoas que gostam de uma boa aventura, para quem gosta do gênero Steampunk e de uma história cheia de camadas e simbolismos acerca de criticas sociais e também é indicado para apreciadores da Filosofia, pois há aqui influências da Alegoria da Caverna de Platão.
Essa é um quadrinho aparentemente único, uma vez que não vi menção de volume em nenhum lugar, e isso torna a leitura e a interpretação do final ainda mais interessante e revoltante, embora muito possível, infelizmente. É lindo ver o cenário de quadrinhos nacional produzindo trabalhos tão bonitos e com muito conteúdo, fica aqui mais um nome do quadrinho nacional para você anotar e ficar de olho!
Você pode adquirir “Salto” pela loja virtual da Ugrapress. Para conhecer mais sobre o trabalho do Rapha, siga o quadrinista no Instagram. Grande abraço e até o próximo café!
Quantos cafés “Salto” merece?
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