“A Amiga Genial” é o primeiro volume da série “Napolitana” escrita pela autora Elena Ferrante e publicado aqui no Brasil pela Editora Globo com o selo Biblioteca Azul. Elena Ferrante é um pseudônimo de uma escritora italiana, cuja identidade é mantida em segredo, sendo conhecida apenas por seu editor.
A obra foi escolhida para dar início as leituras coletivas do grupo Pacto Literário em 2018, caso você ainda não conheça esse grupo do qual participo, entre no nosso grupo do Facebook e venha ler conosco.
Na trama, narrada pela personagem Elena Greco (Lenu) descobrimos que Raffaella Cerullo (Lila), sua amiga de infância, desapareceu. Lenu mostra-se calma com o ocorrido, pois sabe que sua amiga sempre manifestou o desejo de desaparecer. Porém, não deixará que a amiga desapareça por completo e decide que a melhor forma de fazer isso é escrever tudo sobre a vida das duas até aquele momento, então, nesse primeiro volume dessa série de Romance de Formação, conhecemos a infância e o começo da adolescência (16 anos) das duas amigas.
A estória se passa em uma vizinhança pobre de Nápoles, na década de 1950, quando a vida de Lenu, uma jovem estudiosa, é transformada com a chegada da família Cerullo, mais especificamente pela presença de Lila Cerullo.
Lila é a filha mais nova de uma família que tem como ofício a fabricação e venda de sapatos, ela era uma criança magra e de comportamento quase que selvagem, tomando para si o centro das atenções em praticamente todas as situações que se envolvia. E é justamente essa diferença intrínseca à Lila que atrai a atenção de Lenu, que aos poucos se aproxima da nova garota do bairro para conseguir amenizar sua curiosidade. Dessas aproximações surge uma amizade um tanto quanto estranha, que vai se expandindo aos poucos.
Em uma época pós-guerra, onde o clima é pesado, repleto de assuntos mal resolvidos, contendas veladas, violência, gritos e uma constante sensação de medo, as novas amigas se unem com o objetivo de construir um futuro melhor, planos que envolvem sair daquele ambiente opressor, escrever livros e tornarem-se prósperas financeiramente.
Juntas, as garota decidem que a melhor forma de conseguir conquistar seus objetivos é fazendo o contrário do que suas mães fizeram, então, passam a estudar vorazmente para que não tenham a vida interrompida pelo que era um padrão na época, a mulher abandonar os estudos para criar filhos e viver dependente da renda do marido ou ter que lhe servir de ajudante em seu ofício, mesmo que não seja de seu agrado trabalhar com aquilo.
Porém, apenas Lenu consegue seguir com os estudos após a quinta série, pois a família de Lila não pode mais investir na educação da filha, então, as garotas passam a traçar caminhos diferentes. Enquanto Lenu se aplica na escola, Lila se empenha em formar-se sozinha e canaliza seus esforços para conseguir seus objetivos planejados com Lenu de uma outra forma, criando novos modelos de sapatos e modernizando o negócio do pai. Para conseguir tal feito, ela recorre a ajuda do irmão, pois se hoje em dia ainda temos problemas para que a voz da mulher seja sequer ouvida, imagine naquela época.
Todo o contexto histórico da obra é muito interessante, assim como a forma com que o machismo é retratado aqui, pois ele é tratado de forma real e natural, como fruto de uma sociedade de essência patriarcal que designa lugares para as mulheres estarem, coisas para as mulheres fazerem e sonhos dos quais as mulheres “devem” abrir mão, enquanto usa as duas personagens principais, principalmente Lila, para trazer um contraponto para esse tipo de pensamento retrógrado.
Lila é uma personagem extremamente interessante, com um poder de convencimento gigantesco, com uma natureza indomável e sempre pronta para apoiar Lenu nos momentos que ela julga serem necessários, por isso em vários momentos da trama Lenu se choca ao não ter a ajuda de Lila em um momento ou outro e de repente ter a amiga com uma solução pronta para seus problemas, Lila é assertiva, sabe a hora de agir, esquematiza todos os seus passos sempre visando conseguir realizar os sonhos e planos que construiu com a amiga Lenu. Resiliência é uma frase que define muito o espírito da personagem.
Por outro lado, Lenu é uma narradora insuportável que não me agradou, ela se mostra extremamente invejosa e incapaz de exprimir sua própria personalidade, tendo que recorrer muitas vezes ao ato de imaginar o que a amiga faria em determinada situação e simplesmente copiá-la. Tudo bem que durante a infância muitos de nós nos utilizamos de atitudes de amigos e pessoas próximas como exemplos para certas situações até que possamos formar nossas próprias opiniões e formas de se expressar, faz parte do desenvolvimento humano, porém Lenu faz isso de forma doentia descontrolada.
Como se não bastasse, a personagem só avança e vai melhorando aspectos de sua personalidade quando vincula os progressos ao objetivo de ser melhor que a amiga. Eu não posso afirmar com toda a certeza, pois ainda não li o restante dos livros, mas me parece que até mesmo o fato dela escrever a história de vida dela e da amiga é um ato para sair por cima, uma vez que o que Lila queria era desaparecer sem deixar rastros e Lenu anulou essa sua vontade ao fazer com que, através de seu texto, Lenu “voltasse a existir”.
“A Amiga Genial” é uma leitura importante no que toca assuntos como o machismo e a luta da mulher para conseguir seu espaço na sociedade, porém, derrapa ao se estender demais, trazer uma personagem tóxica como narradora e apresentar um final que, pelo menos para mim, é muito mal executado, parece que a autora simplesmente cortou a estória ao invés de dar uma conclusão para essa fase das personagens, quando poderia ter encerrado essa fase colocado um elemento que despertasse a curiosidade do leitor para o que viria a seguir.
No começo da leitura eu estava gostando muito da estória e bem instigado acerca da vida das personagens e essa curiosidade foi me perdendo lá para o meio do livro, pois a obra se estende mais do que o necessário. É claro que estamos falando aqui sobre um Romance de Formação, e esse é o meu primeiro contato com esse gênero da literatura que é bem mais linear e com discussões mais sutis e cheias de simbologia, então não há grandes acontecimentos e reviravoltas, uma vez que está se narrando aqui a infância e o crescimento dessas personagens, porém, isso poderia ter sido feito com muitas páginas a menos. Se você quer saber um pouco mais sobre o que é Romance de Formação, te aconselho a ler essa matéria completíssima que a Ana do Ponto para Ler publicou durante a leitura da obra.
Quantos cafés “A Amiga Genial” merece?
Caso você tenha se interessado pela obra, adquira no site da Amazon e colabore com o blog 🙂
Eu discordo totalmente da sua opinião de que a história poderia ser mais curta e que o final não é instigante, Luke! Hahahaha
Para mim, os fatos narrados foram importantes para entender a natureza da amizade das duas e como elas foram se descobrindo aos poucos conforme as coisas aconteceram. Achei o próprio reflexo da vida.
Quanto ao final, eu gostei da forma que acabou e já quero saber para ontem se o próximo livro começa exatamente de onde esse terminou Hahahaha
Mas eu respeito a sua opinião e não acho que você tenha que concordar comigo, de verdade! Quando formos ler o segundo, vou torcer para você gostar mais dele ❤
Beijos, Luke!
Obrigada por divulgar o post do PPL! ❤
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Kkkkkkkk acho que serei o único a não gostar da leitura desse mês!
Abração Ana!
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Eu apaixonei-me de tal modo pela saga que agora estou a fazer o luto – acabei hoje o último livro! Só me resta ler as críticas e “think pieces” online para não desanimar até chegar a adaptação televisiva (yay!). Adorei o teu artigo, resumiste muito bem a história e fizeste pontos fortes. Tenho pena que não tenhas gostado assim tanto no final, mas compreendo que a extensão seja um factor de desânimo. Talvez a série te volte a puxar? Comigo os filmes reavivam-me ou despertam-me curiosidade para livros que de outra forma me dariam preguiça de começar eheh.
Escrevi recentemente sobre “A Amiga Genial” no meu blog, tal foi a paixoneta. Cumps!
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