“SEMILUNAR” é o trabalho mais recente do quadrinista Camilo Solano, lançado em 2017 e publicado pela Balão Editorial, o projeto foi um dos vencedores da edição de 2016 do PROAC. Essa é a primeira vez que ele lança seu trabalho por uma editora, seus trabalhos anteriores “Desengano” e “Badida” foram lançados de forma independente, inclusive, se você está ligado(a) aqui no blog, sabe que “Desengano” foi o meu quadrinho favorito do ano passado!

Após trabalhar muito anos com quadrinhos, Camilo Solano desenvolveu uma tendinite muito forte que o impossibilitou de desenhar por um longo período. Essa provação foi uma das inspirações para o quadrinho e serviu-lhe de impulso para compor a história de “SEMILUNAR”.

Na trama, que é contada de forma não linear, conhecemos a protagonista Maria, uma jovem que sofre de Disfemia. Dolores, a mãe da protagonista, sempre foi uma cantora profissional e se utilizou disso para ensinar a filha a domar a gagueira.

Me desidrata o esgotamento de tentar dizer qualquer coisa. Se conseguisse gritar, gritaria muito. Mas até um grito tem que ser ensaiado para sair.

Maria precisou aprender a decorar frases e criar pequenas canções para poder ser clara e se expressar, com isso, o amor que sua mãe têm pela música também se enraizou na garota que tornou-se dependente de ritmo e passou a ter o violão quase como que uma extensão de si mesma, assim como imagino que os instrumentos de trabalho do artista funcionam para ele.

Em certo momento da trama, Maria é privada da música e essa privação transforma totalmente a paleta de cores do trabalho, deixando de retratar paisagens quentes que transmitem e refletem a alegria da personagem para retratar sua dor, tristeza e angústia.

Neste site diz que Maria significa “Mar de Amargura”.

Os acontecimentos do quadrinho são intercalados por páginas pretas que permitem que o leitor respire antes de adentrar na próxima cena, é possível acompanhar facilmente a cronologia embaralhada e montar a história, você só precisa prestar atenção aos acontecimentos e principalmente na mudança da paleta de cores.

Camilo Solano entrega mais um trabalho bonito e tocante, seu traço é tão lindo quanto único, ele é um daqueles artistas que você consegue reconhecer facilmente pelo traço e também pela paleta de cores que costuma usar em seu trabalho. Apesar do trabalho ser uma ficção, ele contém elementos autobiográficos e eu particularmente acho que quando o artista faz algo do gênero, como também acontece em “Desengano”, a história contada não só parece mais real, como também provoca no leitor a sensação de empatia e aquele famoso quentinho no coração ou soco no estômago que só chegam à nós leitores quando um trabalho é bem feito.

As águas calmas são as mais profundas.

A conclusão do quadrinho pareceu confusa para mim em uma primeira leitura e tive que reler com mais atenção aos detalhes, mesmo assim, seu final é aberto à interpretações e se você quiser podemos discutir nossas interpretações nos comentários.

Além de todas essas qualidades, o trabalho também ganhou uma mídia diferente e complementar, você pode assistir animações e ver as músicas compostas por Maria ganhando vida em vídeos que estão disponíveis no canal do Camilo.

“SEMILUNAR” é mais um trabalho lindo, repleto de significados, sensível e pessoal de um artista que vem ganhando espaço na cena e no coração de todos aqueles que conseguem acessar o seu trabalho. Mais uma vez eu indico sem hesitação que você adquira e conheça o trabalho do artista, garanto que você não vai se arrepender!

Quantos cafés “SEMILUNAR” merece?