HQ: DOIS IRMÃOS – FÁBIO MOON E GABRIEL BÁ

Eu sempre tive curiosidade de conhecer o trabalho dos irmãos gêmeos quadrinistas Fábio Moon e Gabriel Bá e muito dessa curiosidade diz respeito ao mais comentado trabalho dos irmãos, a Graphic Novel “Daytripper” de 2010, porém, não foi dessa vez que matei a curiosidade acerca dessa obra.

“Dois Irmãos” é uma Graphic Novel lançada pelo selo de quadrinhos da editora Companhia das Letras, a Quadrinhos na Cia., o trabalho inclusive recebeu o Prêmio Eisner, considerado o Oscar dos quadrinhos, na categoria “Melhor Adaptação de Outro Meio”.

O trabalho é uma adaptação gráfica dos dois quadrinistas para a obra homônima de Milton Hatoum, obra esta que foi a leitura coletiva do mês de Março do grupo de leituras coletivas Pacto Literário e que já foi resenhada por aqui,  portanto, não vou me ater aos aspectos já mencionados na resenha do livro.

Na trama, somos apresentados a história da relação conturbada dos irmãos gêmeos Yaqub e Omar, integrantes de uma família de ascendência libanesa que se estabeleceu e passou a viver em ManausYaqub é o gêmeo mais velho e Omar o mais novo, este último sofreu algumas complicações respiratórias e quase morreu no parto e por isso passou a ser mais paparicado pela mãe desde o momento que deixou o hospital. Zana e Halim são os pais dos dois irmãos e também são pais de Rânia, a filha que chegou ao mundo após o nascimento de Yaqub e Omar.

Certo dia, durante uma sessão de cinema na casa de uma vizinha, Omar corta o rosto de Yaqub com um pedaço de vidro, deixando seu rosto marcado para sempre. Diante do acontecimento, Halim decide que o melhor a ser feito é separar os dois filhos e Zana é quem escolhe manter o caçula perto e mandar o mais velho para o Líbano, esse distanciamento entre os irmãos não surte o efeito esperado de apaziguar as diferenças e rivalidade entre os dois e na medida em que eles vão se reencontrando durante a trama, prevê-se uma conclusão catastrófica para a estória da família.

É curioso observar que os quadrinistas que são irmãos gêmeos escolheram justamente uma obra que aborda a relação conturbada de dois irmãos gêmeos, mas ao contrário do que acontece entre Yaqub e Omar, Fábio e Gabriel trabalham aqui em sincronia. Os quadrinistas souberam muito bem retratar a ambientação tão rica trazida pelo autor no material fonte, dando luz a Manaus na década de 40 que ao ler a obra tinha ficado apenas na minha imaginação e aqui ganhou contornos e um charme especial e, sem dúvida, cuidado e carinho na composição e pesquisa dos cenários.

O quadrinho é contado na mesma ordem cronológica do livro, contendo flashbacks e narrado por um personagem importante que o leitor só vai conhecer lá para o meio da obra. Os artistas optaram por criar a obra totalmente em preto e branco, o que creio que tenha sido uma decisão para intensificar a ideia de dualidade entre os gêmeos, o lado bom e o lado mal, embora, como já dito na minha resenha do livro, esses lados acabem se confundindo em todos os personagens durante a leitura, afinal, ninguém é 100% uma coisa só.

Alguns de nossos desejos só se cumprem no outro. Os pesadelos pertencem a nós mesmos.

Os quadrinistas também conseguiram retratar o clima de tensão tão bem orquestrado pelo autor quando os dois irmãos estão juntos em cena, as alterações em suas feições, postura, olhares, aqui é tudo muito bem executado e com toda a certeza deleitoso para quem leu a obra.

Embora tenha todas essas qualidades, a adaptação sofre do mesmo problema que todas as adaptações sofrem, não consegue ser tão rica quanto o seu material fonte, porém, isso não chega a ser um grande demérito para o trabalho, uma vez que reconheço que tratam-se de suas mídias diferentes e sei que é impossível adaptar algo em seus mínimos detalhes, sempre faltará algo aos olhos do leitor do material original.

“Dois Irmãos” é uma bela adaptação de uma obra que sem dúvida já nasceu como um clássico da literatura nacional. Os irmãos Fábio Moon e Gabriel Bá demonstraram cuidado e carinho com a obra original para compôr seus traços, cenários e até mesmo na opção por manter a obra em preto e branco. Definitivamente o Brasil é um lugar repleto de artistas incríveis e talentosos que merecem mais do nosso reconhecimento e atenção. Se eu pensei que iria amenizar minha curiosidade acerca do trabalho do Fábio e do Gabriel lendo essa adaptação, pensei errado, só me deixou mais curioso para conhecer ainda mais o trabalho desses dois talentosos irmãos, faça sua parte também e valorize o nacional!

Quantos cafés a adaptação gráfica de “Dois Irmãos” merece?

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