LIVRO: HIBISCO ROXO – CHIMAMANDA NGOZI ADICHIE

“Hibisco Roxo” foi o primeiro romance escrito pela autora nigeriana Chimamanda, que ganhou destaque após ter parte de seu discurso, que acabou sendo publicado posteriormente em formato de livro, “Sejamos todos feministas” integrado a uma canção da cantora americana Beyoncé em 2013.

Neste romance publicado pela editora Companhia das Letras, a autora mistura elementos autobiográficos com ficção para traçar um panorama social, político e religioso da Nigéria, sem dúvida alguma foi uma escolha maravilhosa do grupo de leituras coletivas Pacto Literário para o mês de Abril.

Na trama, a adolescente Kambili protagoniza e narra seu cotidiano e acaba mostrando como a religiosidade extremamente branca e católica de seu pai, Eugene, um famoso industrial nigeriano, inferniza e destrói lentamente toda a família.

– Será que o demônio pediu para você fazer o trabalho dele? -disse Papa, com as palavras em igbo saindo de sua boca em uma torrente. – Será que o demônio armou uma tenda dentro da minha casa?

Eugene é um homem que venceu na vida, construiu uma boa família, é bem visto por sua comunidade por sempre ajudar as pessoas mais necessitadas com grandes quantias de dinheiro e até apoia o jornal mais progressista do país, porém, todas essas qualidades desaparecem da porta para dentro de seu lar. O patriarca se mostra extremamente inflexível quanto ao comportamento dos filhos e mulher, definindo regras e punindo os membros de sua família quando estes acabam não as cumprindo, ele exige que sua família se mantenha nos moldes de sua religião católica e se comportem como pessoas mais civilizadas, o que aqui significa, pessoas brancas e colonizadores do país.

– Não gosto de mandar vocês à casa de um pagão, mas Deus vai protegê-los.

Fala de Eugene sobre deixar que os filhos visitassem o avô, seu pai.

O fanatismo religioso de Eugene é tão extremo que ele chega a rejeitar a presença do pai e da irmã, por temer ir para o inferno ao conviver com pessoas que não seguem o catolicismo e sim religiões tribais intrínsecas à cultura africana que, como a obra nos mostra, vai sendo extirpada aos poucos da Nigéria pelos colonizadores e pelos próprios nigerianos que veem na colonização uma forma de ter uma vida melhor, mesmo que isso lhes custe caro.

Fazia as coisas do jeito certo, do jeito que os brancos fazem, não como nosso povo faz agora!

A desigualdade do país é retratada de forma extremamente realista e bem feita, quando Kambili e seu irmão são enviados para a casa de sua tia para passar alguns dias, somos apresentados a uma realidade totalmente contrária a qual presenciamos na mansão da família de Kambili, conhecemos a Nigéria quente, sem muita estrutura, com escassez de comida, recursos, emprego e sem perspectiva alguma de melhora.

É o que acontece quando você não vale nada aos olhos de alguém. A gente é como uma bola de futebol que eles chutam na direção que quiserem.

Durante a temporada que acaba passando na casa de sua tia, após um incidente trágico que força seu pai a enviá-la para lá junto com o irmão para mantê-los em segurança, Kambili acaba não só descobrindo a realidade que seu pai escondia sobre a Nigéria, mas também conhece um pouco da religião que o pai tanto rejeita, do amor, rotina e fraternidade da família que ele afasta e também acaba descobrindo o amor na figura de um padre que está em missão na Nigéria.

A autora soube muito bem construir os personagens, a trama e ambientá-la de forma que as criticas sociais necessárias e presentes na obra não deixassem a leitura chata ou desinteressante, o que eu mais gostei aqui foi a forma com que Chimamanda conseguiu me fazer sentir parte da história e me importar de verdade com cada coisa que acontecia no núcleo familiar de Kambili.

“Hibisco Roxo” é um relato de uma pessoa que presenciou a desigualdade de seu país e a forma com a sua cultura e religião passou a ser extirpada e considerada incorreta, por isso, está bem longe de ser uma leitura fácil, porém, é uma leitura mais que necessária. Há aqui também espaço para uma crítica forte ao machismo e ao patriarcado que parece ser tema recorrente de obras da autora. Sem dúvida alguma, essa é uma leitura que vou indicar aos meus amigos por muito tempo, assim como a de “Sejamos todos Feministas”, a cada coisa que leito de Chimamanda fico mais sedento por conhecer mais sobre sua obra, alguma recomendação?

Quantos cafés “Hibisco Roxo” merece?

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