“O Homem” é o mais novo romance do autor ítalo-brasileiro Furio Lonza lançado em 2015 pela Editora Penalux, que gentilmente cedeu um exemplar da obra do autor para contribuir com o especial #MaioSciFi.
O que aconteceu é simples, disse o padre Olavo: um casal branco teve um filho negro e nenhum dos dois possui antecedentes de parentesco que possam justificar o caso. Não há negros jovens nesta cidade, nem vizinhança. A mulher não viajou nove meses atrás. O casal não se separou um décimo de segundo, pois se amam muito e esse filho era esperado há pelo menos cinco anos, pois a mulher tinha dificuldade de engravidar.
É na cidadezinha de São Jerônimo que um evento estranho se inicia e logo após toma proporções globais, um casal branco tem um filho negro e não há indícios de infidelidade, logo depois casos parecidos começam a ocorrer com particularidades que sequer permitem questionamentos quanto à infidelidade.
Traços característicos da população cada nação começam a aparecer em nações diferentes, dando origem ao que fica conhecido como o problema dos genes migratórios, fazendo com que o mundo passe por uma prova de tolerância jamais imaginada pelo humanista mais radical.
Padre, essa filha não é minha. Pelo que entendi, pode ser filha de um chinês, de um japonês, pode ser filha do espirito santo, pode ser filha do demônio. Mas, minha, ela não é. E nem de meu marido. Não posso amá-la do jeito que eu queria. Me faltam forças. Não tenho dentro de mim toda essa bondade que o senhor falou.
O embaralhamento genético ocorre pouco antes da fecundação do óvulo, os espermatozoides são inexplicavelmente embaralhados e os genes de um homem italiano podem vir a fecundar o óvulo de uma mulher brasileira, assim como os genes de um brasileiro podem vir a fecundar o óvulo de uma africana. Essa bagunça genética começa a alvoroçar o mundo, processos de paternidade começam a chover na esfera jurídica, casos de abandono de recém nascidos também se tornam mais comuns, dentre outras ações terríveis para tentar controlar a situação.
Diante de tal bagunça, chefes de Estado começam a tentar controlar o problema criando políticas especiais para casos de bebês concebidos com o problema dos genes migratórios, politicas essas que evidenciam as características particulares de cada país, a China por exemplo tenta evidenciar ainda mais seu controle de natalidade, mulheres muçulmanas que geravam filhos de outras raças eram apedrejadas até a morte em praça pública, programas como o “aborto premiado” são criados para tentar amenizar a crise.
A única resistência provinha da América Latina, Oriente Médio (com exceção de Israel) e África. Quando essas crianças começam a crescer e tornar-se adolescentes, o problema se agrava, e diversos chefes de Estado decidem controlar o problema de forma mais severa, abrigos são criados para manter as crianças, inicialmente de forma decente, mas não demora muito para que a situação desses abrigos, que ganham contornos de campos de concentração, se degrade à níveis desumanos.
…o amor universal é apenas um tema abstrato e volátil para debate em conclaves e conferências.
… o mal lembra Peter Pan; possui o privilégio horrível e apavorante da juventude eterna.
No centro de todos esses acontecimentos, acompanhamos a jornada de Padre Olavo, que se vê obrigado a deixar a mulher que ama em São Jerônimo, justamente por estar se questionando quanto ao seu propósito e fé. Essa jornada ensina ao Padre lições que das quais ele certamente não aprenderia se estivesse trancado em sua igreja, lendo a bíblia e exercendo o sacerdócio, ele aprende lições sobre o que é ser humano em uma sociedade que está passando por uma prova sobre a qual nunca imaginou passar.
O preconceito e a xenofobia é tratado aqui praticamente como um estudo, todos os exemplos e todos os acontecimentos são totalmente possíveis. Entenda que uma das principais, senão a principal, característica da ficção científica é pontuar um ou mais problemas da nossa sociedade e extrapolá-lo para tentar imaginar o que aconteceria se esse problema dobrasse ou triplicasse de tamanho e no futuro desenhado por Lonza, as perspectivas são bem ruins. Eu fico surpreso por não ter tido conhecimento dessa obra por blogs, vlogs ou canais de literatura, pois é sem dúvida alguma uma obra essencial, atual e recomendável para todas as idades por conta de seu questionamento que infelizmente parece ser algo do qual nunca conseguiremos superar ou colocar um ponto final.
Daqui a cem anos (ou até menos), o mundo será um só; os países poderão até continuar com suas fronteiras geográficas, mas as nações se equivalerão, e os homens serão O Homem.
“O Homem” é uma obra de ficção científica e filosofia que deveria ser lida por todos os humanos, pois reforça tudo aquilo que nos impede de exercer a nossa humanidade plenamente. São as nossas diferenças que nos fazem tão especiais, são as nossas particularidades que nos tornam seres únicos e incríveis, pode parecer cliché essa história de bem vs mal, mas quando as coisas não mudam por mais que se bata constantemente nessa e em diversas outras teclas gastas, é ainda mais necessário continuar batendo, continuar instruindo, até mesmo continuar gritando as palavras que Furio Lonza grita aqui, é fundamental continuarmos crendo que um dia essas palavras serão ouvidas, absorvidas e que esse mundo ainda pode ser um planeta habitado majoritariamente por Humanos e não só por seres de carne, osso, indiferença e preconceito.
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Quantos cafés “O Homem” merece?
Um comentário sobre “MAIO SCI-FI: O HOMEM – FURIO LONZA”