“Visão: Pouco Pior que um Homem” é um encadernado de 140 páginas composto por seis edições dos quadrinhos “The Vision”. Com roteiro de Tom King, um dos principais roteiristas de quadrinhos do momento, ilustrações de Gabriel Hernandez Walta e cores de Jordie Bellaire, a primeira edição foi publicado aqui no Brasil pela Editora Panini e é tida por muitos como a melhor história do personagem até então.
Luke, mas estamos em meio a um especial de ficção científica? Esse conteúdo de quadrinhos de super-herói não vai destoar? Não! Caso você ainda não conheça o personagem, Visão é um sintozóide criado por Ultron com o objetivo inicial de destruir os Vingadores, porém, acaba se voltando contra seu criador e unindo-se aos heróis, desenvolvendo consciência e emoções, o tornando assim cada vez mais próximo da humanidade em essência.
Nessa história solo do sintozóide, Visão dá um mais um passo na direção do seu objetivo de se tornar humano, ele decide formar uma família, ou melhor, criar uma família para si e assim vai morar no subúrbio e passa a ter um trabalho formal como consultor do presidente dos Estados Unidos, uma vez que necessita de dinheiro para sustentar sua nova família e seu trabalho com os Vingadores não era remunerado.
Então, somos apresentados ao ambiente familiar criado pelo sintozóide, integrado por sua esposa Virgínia e seus dois filhos gêmeos Viv e Vin. Conhecemos a rotina da família dos Visões e a forma com a qual a comunidade reage aos novos moradores, há aquele casal simpático que leva biscoitos de boas vindas, aquelas crianças baderneiras que picham a fachada da casa e a adaptação das crianças ao ambiente escolar, porém como era de se esperar, nada com uma família assim é extremamente comum, eles não comem biscoitos, eles não toleram provocações, eles não respondem bem aos questionamentos de normalidade.
– Afirmar como verdade aquilo que não tem significado é a missão mor da humanidade.
– A missão deles não tem significado, mas mesmo assim você insiste que ela se torne nossa missão.
– Eu não insisto. Eu recomendo.
Enquanto apresenta a rotina dessa família singular, o roteirista desenvolve diálogos incríveis que questionam a natureza humana, suas ações, questionamentos que já são extremamente confusos para nós, imagine para um sintozóide com pretensão de tornar-se humano. Não demora muito para que os Visões comecem a se confundir com conceitos, filosofias e ideias e passem a justificar ações terríveis com sentimentos, crenças e suposições de que aquilo seja de fato algo correto para o homem.
E é justamente no meio desse complexo questionamento de normalidade, limites e caminhar o percurso incrível e complicado da humanidade que os personagens se mostram totalmente perdidos, cometendo atos que não podem de forma alguma serem descritos como humanos. A densidade entremeada na narrativa fluída fazem desse encadernado uma indiscutível grande obra dos quadrinhos para qualquer pessoa que goste um pouco de assuntos filosóficos envolvendo a nossa natureza.
As cores e ilustrações estão igualmente fantásticas e isso já começa pela capa do trabalho que consegue transmitir ao mesmo tempo o clima de normalidade de uma família feliz e estranheza da mesma família ser composta por seres robóticos com capacidade de ficar intangíveis. É engraçado que o tom das ilustrações é bem comparável aqueles comerciais ou séries que retratam a tipica “family portrait” estadunidense e o contraste da ilustração com a densidade da proposta também faz jus ao aspecto de fotografia de família americana, pois tudo é mais bonito nas fotos do que é na realidade.
“Visão: Pouco Pior que um Homem” é uma obra de arte em formato de quadrinhos, o roteiro de Tom King consegue ao mesmo tempo fazer com que o leitor reflita e se divirta, enquanto as ilustrações de Walta aliadas ás cores de Bellaire tornam a aventura de ler a obra mais prazerosa, visceral e assustadora também! A conclusão desse primeiro volume nos deixa extremamente curiosos para saber o que será do futuro da família dos Visões, há pelo menos dois cliffhangers que vão te fazer se coçar até ter em mãos o próximo encadernado! Hey Panini, apressa isso ae!
Quantas xícaras de óleo lubrificante “Visão: Pouco Pior que um Homem” merece?
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