“Entes” é um romance de narrativa experimental escrito por Cleber Pacheco, natural do Rio Grande do Sul, e publicado pela Editora Penalux no ano passado, o autor possui dezoito livros publicados, incluindo obras lançadas internacionalmente, além de ser artista plástico e Mestre em Letras. Esse foi o meu primeiro contato com a escrita do autor e eu descreveria sua narrativa experimental como algo instigante, intrigante, criativo, estranho e único.
Dois irmãos morando numa casa isolada. Um ser aparentemente sobrenatural rondando a mata e os arredores. Neste ambiente de natureza efervescente, de criaturas vivas, de mistério, de eventos incomuns e de personagens fortes e marcantes, uma captura deve se realizar. A busca da compreensão do mundo, de si mesmo, das experiências vividas, da memória, a busca pelo sentido da existência.
Essa é a sinopse de “Entes”, um livro completamente diferente de qualquer outro livro que eu li até o momento. A obra conta uma breve estória de dois irmãos, uma criatura que ronda a floresta e um plano de um desses dois irmãos, Lúcio, para capturá-la.
A obra se inicia com o irmão mais velho de Lúcio procurando-o nos arredores da casa que habitam em uma floresta erma e por meio de suas divagações descobrimos que seu irmão não se comunica de forma clara, ele emite sons, resmungos e gemidos, ele nunca disse uma só palavra. Enquanto seu irmão o procura, Lúcio está tentando obter sucesso em uma grande missão, capturar uma criatura que ronda a floresta e levá-la até o irmão mais velho para mostrar a criatura e provar sua capacidade
São minhocas contorcendo-se debaixo do chão ou serão demônios?
O livro é bem curtinho, 70 páginas, e sua sinopse a primeira vista parece ser simples, porém, a escrita de Pacheco torna o livro surpreendente no que tange seu conteúdo. Na orelha do livro há uma certa comparação entre a escrita do autor e de ninguém menos que Gabriel García Márquez e até mesmo Edgar Allan Poe e essas comparações não possuem apenas a função de despertar curiosidade no leitor para que ele experimente ler a obra, as comparações são bem fundamentadas.
A escrita e a narrativa não linear de Cleber Pacheco se assemelha sim a de Gabo, ele chega a brincar com o fato de Lúcio não saber se comunicar direito e transmitir isso em sua narrativa, o clima sombrio e até mesmo o ritmo da narrativa em alguns momentos lembra muito a cadência de Poe, tudo isso em apenas 70 páginas que quase se viram sozinhas durante a leitura.
Sabe quando você lê um livro e instantaneamente se sente parte daquele universo? Aqui você não tem apenas essa sensação, você consegue sentir o que o personagem está sentindo, é bizarra a capacidade que o autor tem de gerar empatia logo no início e despertar sensações e sentimentos quase táteis no leitor na medida que o livro se desenvolve.
ONDE ESTARIA O ENTE? Talvez em estripulias talvez pregando sustos. Não pode esquecer importante coisa: quando aparentava estar perto longe se encontrava quando parecia longe perto estava.
Abre-se um olho.
Ergue-se menino no círculo da clareira.
É mortalha o lençol da noite.
Está ali.
Ente.
“Entes” é uma experiência, uma obra que diz mais sobre sensações do que diálogos em si. O livro pode ter significados completamente diferentes para cada leitor, a criatura e o significado de sua captura são coisas bem subjetivas e por isso, o livro não é altamente palatável para todos os leitores, é uma experiência que exige mente aberta para ser vivida por completo e isso, por si só, já faz valer a leitura da obra, pois desconheço obra que tenha me deixado tão intrigado com todos os detalhes de sua construção.
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Quantos cafés “Entes” merece?
2 comentários sobre “JULHO NACIONAL: ENTES – CLEBER PACHECO”