“Sobre Meninos e Lobos” (Mystic River) é um livro de Dennis Lehane publicado em 2001. A obra tornou o autor mundialmente famoso quando foi adaptada para o cinema por Clint Eastwood em 2003.
Eu confesso que na minha adolescência vi várias chamadas no SBT sobre o longa, mas nunca cheguei de fato a assistir, sequer sabia do que se tratava o enredo, foi pesquisando sobre títulos para a terceira edição do #SetembroPolicial que eu acabei vendo o livro sendo mencionado em diversas listas de melhores livros do gênero e como eu estou super afim de ler livros bons, me apeguei à opinião da blogosfera.
Na trama, três amigos, Dave, Jimmy e Sean tem suas vidas marcadas para sempre por um ato de violência. Quando garotos, viviam em uma comunidade pobre na cidade de Boston, lá brincavam na rua quando foram abordados por homens que se diziam policiais, esses homens acabaram por raptar Dave e submetê-lo a abusos sexuais. O garoto conseguiu escapar, porém, o ocorrido lhe traumatiza e marca sua vida, tornando sua imagem sempre associável ao ocorrido.
Após tal acontecimento, os três amigos tomam rumos diferentes e não voltam a ser tão próximos como eram antes do rapto, Sean torna-se um policial com um índice de solução de crimes exemplar, Jimmy segue pelo caminho oposto e se envolve em crimes chegando até a ser preso em uma época de sua vida, já Dave vive uma vida pacata ao lado da família, porém, sempre com um lobo gritando em sua mente e implorando por sangue. Vinte e cinco anos depois, os três antigos amigos voltam a se encontrar em circunstâncias nada agradáveis: a jovem filha de Jimmy é assassinada nas imediações dos bairros onde os amigos costumavam brincar quando crianças. Na mesma noite, Dave chega em casa com as roupas ensanguentadas e cortes feitos à faca no abdome despertando a preocupação e medo em sua esposa.
Sean é o encarregado de investigar a morte da filha de Jimmy juntamente com detetive Whitey Powers que no decorrer das investigações possui um forte palpite de que Dave está conectado ao crime de alguma forma, as constantes mentiras do antigo amigo de Sean só servem para corroborar com as suspeitas de Whitey, tornando Dave o principal suspeito do crime.
A carga dramática que a obra carrega é intensa deixando o ritmo de leitura lento, o que aqui não chega a ser um problema. Este é um daqueles livros que você precisa de tempo para digerir e estômago para prosseguir, a escrita do autor é bem descritiva e ele não hesita em descrever cenas terríveis da forma mais gráfica possível. A obra é permeada pela dor, violência física e psicológica, traumas do passado e também explora a desigualdade social, especulação imobiliária, o crescimento de pequenas cidades e as mudanças que esse desenvolvimento traz consigo.
A questão da inevitabilidade também é tratada aqui, o lugar onde os garotos nasceram e cresceram, surgiu em torno de uma antiga penitenciária e foram os guardas, carcereiros e ex-detentos que foram construindo o lugar que, desde o seu gênese, foi marcado pela violência e desigualdade social. A obra também encontra espaço para explorar temas como as relações familiares, a ameaça à infância, quando os personagens são obrigados a “crescerem” antes do tempo diante do ocorrido com Dave, e as consequências dos nossos erros e dos traumas e dores que nos são incutidos e que acabam reverberando em nossas vidas ao longo dos anos.
“Sobre Meninos e Lobos” é um livro denso, permeado por dores e traumas que reverberam em nossa vida e acabam por nos definir. A escrita de Lehane é intrigante, o mistério em torno do assassinato da filha de Jimmy é enervante, uma vez que você não quer acreditar que talvez Dave tenha mesmo uma relação com o que houve, e a solução do mistério é surpreendente e ao mesmo tempo crível, mostrando que é possível criar uma reviravolta bem construída e alicerçada em elementos previamente entregues durante a narrativa, como uma boa reviravolta deve ser. Não espere por um final feliz, não há felicidade aqui, eu sequer me lembro de ter dado um meio sorriso durante a leitura, “Sobre Meninos e Lobos” é uma obra que te toca de uma outra forma, colocando o dedo na ferida e apertando sem dó.
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Quantos cafés “Sobre Meninos e Lobos” merece?