SETEMBRO POLICIAL: OS HOMENS QUE NÃO AMAVAM AS MULHERES

“Os Homens Que Não Amavam as Mulheres” é o primeiro livro da trilogia Millennium, escrita por um dos mais influentes jornalistas e ativistas políticos suecos, o incrível Stieg Larsson. Eu já havia lido a trilogia antes, há um bom tempo, e decidi revisitar a obra em uma leitura coletiva durante o especial #SetembroPolicial para poder trazer uma resenha para o blog com a estória fresca na cabeça. A trilogia foi lançada pela editora Companhia das Letras, sendo composta por: “Os Homens Que Não Amavam as Mulheres”, “A Menina que Brincava com Fogo” e “A Rainha do Castelo de Ar”, estou completamente ciente de que foi lançado um quarto volume, porém, não escrito pelo Stieg, volume que prefiro ignorar a existência. 

Mikael Blomkvist com sua amiga e amante Erika Berger fundaram a revista independente Millennium, que sempre teve como objetivo investigar crimes financeiros, colocar o dedo na ferida e falar sobre assuntos que as demais publicações do gênero evitavam. Depois de seguir informações dadas por um amigo da época de faculdade, Mikael vê a oportunidade de publicar a matéria de sua vida, as informações concedidas pelo amigo colocavam em questão o império de Hans-Erik Wenneström, aparentemente construído em cima de golpes, sonegações, apropriações indébitas e diversos outros crimes de ordem financeira.

Porém, a Millennium acaba sofrendo um revés quando a publicação chega ao público, Mikael é processado por difamação e os advogados do financista apresentam provas mais que contundentes de que o material publicado pela Millennium não é só pejorativo, como também, manipulado. Diante disso, Mikael é condenado ao pagamento de uma indenização à Wenneström e ao cumprimento de uma pena de dois meses em regime fechado.

Para não afundar a revista devido ao escândalo, Mikael decide sair da direção do periódico por um tempo enquanto se isola e tenta entender o que aconteceu, despertando o desespero de sua parceira Erika que precisará continuar dirigindo sozinha uma publicação amplamente difamada e em queda eminente rumo ao seu fim.

Enquanto somos consumidos pelo suspense do caso Wenneström, Mikael é misteriosamente convidado por um dos maiores industriais da Suécia para um trabalho no mínimo desafiador: Escrever  a biografia da família Vanger e descobrir o que aconteceu com sua neta Harriet, que despareceu há décadas.

Na ocasião do desaparecimento de Harriet, praticamente todos os membros da família Vanger se reuniam na Ilha de Hedebyön para uma reunião de família, quando um veículo sofreu um acidente na ponte que dá acesso à ilha, tornando impossível a entrada e a saída de pessoas, esse fato por si só já definiu a certeza no patriarca da família, Henrik Vanger, de que sua neta foi assassinada por um familiar, porém, esse não é o único fato desconcertante da estória toda. Foi realizada na época uma ampla e minuciosa investigação que não levou à nada, nenhum vestígio de Harriet foi encontrado, não há pistas, não há evidências de um crime, ela simplesmente desapareceu sem deixar traços de sua existência.

Mikael se vê impelido à recusar o caso que é aparentemente impossível, porém, alguns fatos apresentados por Henrik o faz mudar de ideia. Harriet tinha o costume de presentear seu avô todos os anos com uma flor diferente emoldurada em um quadro de vidro, essa tradição foi interrompida no ano em que a garota desapareceu, porém, retomada um ano depois. Para Henrik era claro que o assassino da neta estava tentando deixá-lo louco e debochando de suas tentativas vãs de solucionar o crime, enviando um exemplar de uma flor emoldurada em um quadro de vidro religiosamente, reforçando a ideia de que o criminoso ou criminosa é um dos membros de sua própria família.

Após apresentar seu caso, Henrik oferece à Mikael três recompensas, uma quantidade absurdamente ridícula de dinheiro, uma ajuda financeira para a revista Millennium que tem perdido seus anunciantes após o escândalo Wenneström e provas cabais de que o financista é tudo aquilo que o jornalista publicou e ainda mais, contudo, as provas de que Mikael necessita para desmascarar Wenneström de uma vez por todas só serão fornecidas por Vanger ao final do contrato de um ano, período no qual ele deve concluir a biografia Vanger e conseguir avançar o máximo que conseguir nas investigações do desaparecimento de Harriet.

Enquanto somos consumidos pelos mistérios enervantes da família Vanger, somos apresentados à Lisbeth Salander, uma das melhores personagens femininas que a literatura já produziu, na minha modesta opinião. A jovem e desajustada hacker, dotada de memória fotográfica e traços de Asperger, se envolve com Mikael quando é incumbida de fazer uma ampla pesquisa sobre sua vida à pedidos de seu chefe na Milton Security, o cliente em questão era Henrik Vanger. Após concluir suas pesquisas, Lisbeth sente-se ainda ligada ao misterioso Mikael de alguma forma e certo dia, é despertada em seu apartamento pelo jornalista solicitando seus serviços. Lisbeth torna-se parte das investigações acerca do desaparecimento de Harriet Vanger.

A personagem passa por situações extremamente complicadas e fortes durante o livro, após a morte do pai e a doença da mãe que a impossibilitava de cuidar de Salander, a garota acaba sendo tutelada pelo Estado e considerada uma incapaz. Durante alguns anos seu tutor foi um grande homem que lhe ajudou e até gerou certa afeição, sentimento com o qual a garota não está habituada, porém, após a morte desse tutor, Lisbeth foi encaminhada para um novo cuidador que passou à tratá-la como uma retardada e abusá-la emocionalmente, moralmente e fisicamente. Todos os traumas que a personagem enfrenta deixa-a mais forte e a partir do momento que conhece Mikael e passa a trabalhar com ele no mistério Vanger, vamos descobrindo todas as camadas da “garota com uma tatuagem de dragão”, bem, pelo menos as camadas que ela concede acesso.

“Os Homens Que Não Amavam As Mulheres” é um livro que chega a ser ignorante de tão bem escrito, apesar de seu tamanho (522 páginas), a leitura flui sem esforço algum, é aquele tipo de livro que você devora sem sequer ver o tempo passar, concluí minha leitura em uma semana e fiquei imensamente tentado a fazer a releitura dos demais volumes. Com personagens fascinantes, uma narrativa poderosa, mistérios enervantes e uma escrita de dar inveja, esse é sem dúvida alguma o melhor romance policial que eu já tive o prazer de ler.

Ambos os mistérios apresentados nesse primeiro volume são incríveis, cheios de reviravoltas plausíveis, com pontas bem amarradas e surpresas de fazer o leitor vibrar e segurar o queixo para que ele não saia rolando por aí. O que mais fascina na obra, além de todos os aspectos já citados, é o pé que ela tem na realidade, todos os fatos aqui não são só possíveis, como prováveis e infelizmente aplicáveis aos dias de hoje, feito claramente alcançado devido à formação do autor no jornalismo, carreira que lhe rendeu várias ameaças de morte, o que como sabemos, é uma evidência de um trabalho bem feito em um mundo onde ativistas políticos, sociais e defensores dos direitos humanos são constantemente ameaçados, ridicularizados, descreditados e até mesmo assassinados impunemente. É uma pena que Stieg Larsson tenha falecido pouco tempo após entregar a trilogia Millennium aos seus editores, pois eu queria muito ter em mãos diversas outras obras desse titã da literatura policial.

Caso você tenha se interessado pela obra e pelas minhas impressões, você pode adquirir seu exemplar pelo link do blog na Amazon.

Quantos cafés “Os Homens Que Não Amavam As Mulheres” merece?

3 comentários sobre “SETEMBRO POLICIAL: OS HOMENS QUE NÃO AMAVAM AS MULHERES

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