SETEMBRO POLICIAL: OBJETOS CORTANTES

“Objetos Cortantes” é uma mini-série de TV baseada no livro homônimo da escritora americana Gillian Flynn, famosa pelo controverso “Garota Exemplar”. Transmitida pela HBO, a mini-série em oito episódios foi dirigida por Jean-Marc Vallée, que também foi responsável pela incrível adaptação de “Big Little Lies”, além disso, a produção conta com Amy Adams, que também foi produtora executiva, Patricia Clarkson e a estreante Eliza Scanlen no elenco.

Camille Preaker (Amy Adams e Sophia Lillis) é uma repórter investigativa que se vê obrigada a enfrentar seus demônios psicológicos do passado ao retornar para a sua cidade natal para cobrir um assassinato violento de uma jovem. Quando recebe a notícia de que deve cobrir esse caso em sua cidade natal, todos os fantasmas de seu passado vem a tona. Camille é uma mulher alcoolatra e adepta à automutilação e todos esses vícios nocivos foram adquiridos com o tempo em seu próprio ambiente familiar, ela bebe para esquecer e grava palavras na pele para lembrar.

Wind Gap é uma cidade detestável que parece ter sido esquecida no tempo e os residentes refletem todos esses aspectos, é uma cidade pequena onde todos sabem tudo que ocorre na vida de todos e é justamente por isso que crimes envolvendo garotas começa a chocar e gerar atenção. Quando chega na cidade, Camille é mal recebida, os residentes parecem não querer que os casos das garotas ganhem grandes proporções midiáticas e acabem por sujar a imagem da cidade.

Camille se instala na casa de sua mãe Adora Crellin (Patricia Clarkson) com certa relutância de ambas as partes, o clima entre mãe e filha não é agradável desde o dia em que Marian (Lulu Wilson), a irmã mais nova de Camille, começou a adoecer de repente, até o momento em que Camille decidiu juntar suas coisas e ir para longe de Wind Gap. Sendo assim, mais para manter as aparências do que por amar a filha, Adora aceita hospedar a repórter, porém, sempre fazendo questão de evidenciar de forma sutil e venenosa o quando está insatisfeita com sua presença.

Enquanto Adora se mostra insatisfeita, Amma Crellin (Eliza Scanlen) irmã de Camille, com a qual nunca teve contato, se mostra interessada, fascinada e até mesmo desesperada pela atenção da mais nova irmã. O desespero de Amma vem da esperança de partir com Camille e deixar Wind Gap para trás.

Na medida que as investigações de Camille avançam, vamos conhecendo essas três mulheres em todas as suas camadas e eu posso te assegurar que as descobertas são estarrecedoras e intrigantes na mesma medida. Eu nunca vi nenhuma série ou obra literária que descrevesse uma relação familiar tão tóxica quanto a que acontece em “Objetos Cortantes”, sim, eu também li o livro.

Além de ter uma estória que te prende e personagens hipnotizantes, a série também acerta e muito em seus aspectos técnicos. Da preocupação com a fotografia, passando pelas cores, iluminação, trilha sonora, abertura e mensagens subliminares escondidas na cenografia, todos os elementos inseridos, se observados atentamente, ajudam a entender coisas que não são ditas. Por isso, a série não é uma daquelas produções de fácil assimilação, não é o tipo de produção criada para maratonar, ela pede uma assistência mais atenta.

O trio de mulheres que interpreta as personagens principais da trama são responsáveis por atuações memoráveis, Amy Adams está incrível e é difícil piscar tamanho o magnetismo que ela possui quando está em cena. Patricia Clarkson soube brilhantemente dar vida à detestável Adora, uma mãe com uma espécie de Síndrome de Münchhausen reversa e a novata Eliza Scanlen me deixou de boca aberta e com a certeza de que tem gente que nasce para fazer aquilo que faz, no caso dela, atuar.

Contudo, a produção não é perfeita e se alonga mais do que o necessário, consideraria uma melhor opção uma adaptação cinematográfica, assim como foi o caso de “Garota Exemplar”, afinal, estamos falando aqui de uma adaptação de um livro de 256 páginas e o que foi adicionado na série para gerar volume não é muito interessante.

“Objetos Cortantes” é uma adaptação de uma estória enervante, cheia de personagens nocivos, que retrata o relacionamento abusivo dentro de casa e as consequências e traumas que uma pessoa criada em um ambiente desses pode adquirir. Sem dúvidas, os aspectos técnicos e as interpretações da produção são o ponto forte da mini-série e seu argumento pode acarretar incríveis debates acerca da maternidade, relações familiares, dependência, independência e inevitabilidade.

Quantos cafés a adaptação de “Objetos Cortantes” merece?

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