SETEMBRO POLICIAL: OUTSIDER – Stephen King

“Outsider” (The Outsider) é o mais recente lançamento do escritor norte-americano Stephen King, lançado por aqui pela Editora Suma. A obra é um romance policial com elementos sobrenaturais, assim como a trilogia que tinha Bill Hodges como detetive principal, por falar em Bill Hodges, há aqui o retorno de Holly, conectando à obra ao kingverso que todos nós amamos.

— O caso é seu — disse Yates. — Por que não ia querer prender o filho da puta você mesmo?

Ainda de braços cruzados, Ralph disse:

— Porque o homem que estuprou Frankie Peterson com um galho de árvore e arrancou a garganta dele treinou meu filho por quatro anos, dois  na Liga Mirim e dois na Liga Infantil. Ele botou as mãos no meu filho para mostrar como segurar um bastão, e não confio em mim mesmo.

O corpo de um menino de onze anos é encontrado no parque de Flint City brutalmente assassinado. Testemunhas e impressões digitais apontam o criminoso como uma das figuras mais conhecidas da cidade – Terry Maitland, treinador da Liga Infantil de beisebol, professor de inglês, casado e pai de duas filhas.

O detetive Ralph Anderson não hesita em ordenar uma prisão rápida e bastante pública, fazendo que em pouco tempo toda a cidade saiba que o Treinador T é o principal suspeito do crime. Terry tem um álibi, mas Ralph e o promotor público têm amostras de DNA para corroborar a acusação. O caso parece resolvido, mas conforme a investigação se desenrola, a estória se transforma em uma montanha-russa, cheia de tensão e suspense. Terry parece ser uma pessoa boa, mas será que essa bondade não passa de uma máscara?

Ralph Anderson está sob pressão, todas as evidências do terrível assassinato do jovem Frankie Peterson apontam para uma das figuras mais reconhecidas e queridas da cidade, o treinador das ligas mirim e infantil de beisebol Terry Maitland.

Para piorar, Terry foi o treinador de seu filho por quatro anos e, só de imaginar que a pessoa que foi capaz de cometer um ato tão violento e sujo conviveu tão próximo ao seu filho, o detetive se vê propenso à fazer uma besteira e é justamente isso que faz. Ralph ordena à dois policiais que prendam Terry Maitland em meio à uma partida de beisebol, partida que estava sendo assistida por grande parte dos moradores da pequena cidade , inclusive a esposa e filhas de Terry.

Quando o advogado de Terry surge com um álibi incontestável, Ralph precisará lidar com as consequências da prisão precipitada, a reação dos moradores da cidade e da família de Frankie Peterson, além da enervante questão que parece ter saído de um dos livros de romance policial que sua mulher gosta de ler, como um homem poderia estar em dois lugares ao mesmo tempo?

Conforme o caso avança e as respostas chegam em menor número do que as novas questões, pessoas são inseridas nas investigações, entre elas a intrigante detetive particular da “Achados e Perdidos”, Holly Gibney. Eu fiquei tão feliz quando a Holly entrou na estória, ela é sem dúvida uma das minhas personagens favoritas da trilogia Bill Hodges, mas devo alertar aqueles que ainda não leram a trilogia que se inicia em “Mr Mercedes” de que há aqui um spoiler que pode estragar a experiência de quem pretende ler ou acompanhar a série de TV.

Seguiram em frente devagar. Ralph não sabia sobre Holly, mas sentia um temor crescente, uma certeza cada vez maior de que nunca veria a esposa e o filho de novo. Nem a luz do dia. Era incrível como uma pessoa podia sentir falta da luz do dia tão rápido. Sentia que, se conseguissem sair dali, ele poderia beber a luz do dia como água.

É com a chegada de Holly que os traços sobrenaturais acerca do mistério de Terry ter estado em dois lugares ao mesmo tempo se estabelecem e ganham força. Devido à sua experiência com o caso Brady Hartsfield, ela é a pessoa perfeita para introduzir os mistérios do sobrenatural aos céticos detetives de polícia e com isto, a personagem rouba a cena assim que aparece na estória, trazendo luz ás trevas do caso enquanto apresenta seu conhecimento sobre as trevas  aos envolvidos.

Eu não sou um grande detetive dos livros de romance policial, para falar a verdade, eu raramente acerto quem foi o responsável pelo crime. Porém, em “Outsider” eu consegui matar a charada extremamente rápido e, surpreendentemente, o fato de ter descoberto o mistério não tornou a estória enfadonha ou desinteressante e isso se deve mais uma vez à escrita incrível do autor que mesmo após ter escrito trocentos livros, continua me surpreendendo pela qualidade de seu conteúdo, personagens, mundos e questionamentos.

O dilema de Ralph é muito interessante, ele ordena a prisão de um homem que aparentemente cometeu um ato horrível baseado nos exames de DNA, impressões digitais e nas testemunhas que viram Terry no dia do crime, porém, após a prisão que serviu para descarregar sentimentos pessoais que o detetive sentia com relação ao caso, novas evidências surgem para colocar em dúvida a culpa daquele que passou a ser massacrado pela mídia, ex-amigos e toda a população da cidade. Ralph se vê em um mar de dúvidas e questionamentos morais em sua própria profissão, questões como ocultamento de evidências e destruição de provas também são tratadas aqui.

Infelizmente, em minha vida pessoal, presenciei um caso parecido, onde um vizinho, assassinou uma criança de forma grotesca. Todos no bairro se chocaram, pois ele parecia ser uma pessoa comum, era agradável com as pessoas na rua, era inclusive amigo de alguns familiares e aqui cabe a reflexão sobre o ser humano, infelizmente o mal pode estar escondido por trás da máscara de uma pessoa comum, agradável e querida e mesmo inserindo aspectos sobrenaturais na estória, creio que o autor queria alertar o leitor sobre o mal que pode estar do outro lado da rua, vestido de um vizinho agradável, um “amor” que só está fazendo algo por querer o seu bem ou por “te amar demais” e até um candidato que surge pregando respeito à família tradicional enquanto planeja a construção de muros para cercear a liberdade.

Stephen King é incrível em suas linhas e em suas entrelinhas, consegue como ninguém conectar o real ao ficcional e nos fazer refletir sobre aspectos da psique humana sobre os quais evitamos pensar. “Outsider” é mais uma prova do poder das palavras que o autor se utiliza tão bem para criar estórias que nos apavora pela base real, pelas circunstâncias impensáveis e acima de tudo, sobre o que somos capazes de enfrentar para sobreviver às intempéries. Espero que tenha gostado das minhas impressões e que leia a obra, caso o faça, não deixe de comentar comigo à sua reação ao ler a página 177.

Caso você tenha curtido minhas impressões, você pode adquirir a obra pelo link do blog na Amazon. Me despeço aqui do #SetembroPolicial e agradeço à todos que fizeram parte desse especial incrível, nos vemos ano que vem! Grande abraço e até o próximo café!

Quantos cafés “Outsider” merece?

3 comentários sobre “SETEMBRO POLICIAL: OUTSIDER – Stephen King

  1. Rodrigo disse:

    Como sempre uma ótima resenha. Eu também adorei o aparecimento da Holly pra desenroscar o enredo em que os personagens estavam sem saída. Quando aconteceu aquela reviravolta eu fiquei sem chão, a pressão caiu e eu pensei, pra onde vai esse livro agora???

    King continua em ótima forma!

    Curtido por 1 pessoa

    • Lucas Moreira disse:

      Aaaaa obrigado Rodrigo! Eu quase soltei um grito no trem lendo aquela reviravolta hahahaa, tipo: MAS GENTE COMO ASSSIM ACONTECE ISSO SE AINDA FALTAM PRATICAMENTE 400 PAGINAS PRA ACABAR O LIVRO? 😂😂😂

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