“Cujo” foi o sétimo romance publicado pelo autor estadunidense Stephen King, a obra foi lançada em 1981 pela editora Viking Press e ganhou uma adaptação cinematográfica no ano de 1983. Há muitos anos esgotada no país, a obra foi relançada pela Editora Suma como o primeiro livro da coleção “Biblioteca Stephen King” que já conta, até o fechamento desta resenha, com mais três títulos, sendo eles, “A Hora do Lobisomem”, “O Iluminado” e “A Incendiária”. A nova edição conta com um extra, a entrevista “Devolva meus cogumelinhos”, concedida à Christopher Lehmann-Haupt e Nathaniel Rich para a The Paris Review, no ano de 2006.
“Cujo” é a quarta estória do que é chamado “Ciclo de Castle Rock”, por isso, há alguns spoilers aqui, principalmente referente ao “A Zona Morta”, livro que antecede “Cujo” no ciclo, porém, as citações não fazem diferença na compreensão da obra.
Sinopse:
Frank Dodd está morto e a cidade de Castle Rock pode ficar em paz novamente. O serial killer que aterrorizou o local por anos agora é apenas uma lenda urbana, usada para assustar criancinhas.
Exceto para Tad Trenton, para quem Dodd é tudo, menos uma lenda. O espírito do assassino o observa da porta entreaberta do closet, todas as noites.
Nos limites da cidade, Cujo – um são-bernardo de noventa quilos, que pertence à família Camber – se distrai perseguindo um coelho para dentro de um buraco, onde acaba sendo mordido por um morcego raivoso.
A transformação de Cujo, como ele incorpora o pior pesadelo de Tad Trenton e de sua mãe, e como destrói a vida de todos à sua volta, é o que faz deste um dos livros mais assustadores e emocionantes de Stephen King.
Vic Trenton é um empresário do ramo da publicidade que decidiu, juntamente com seu sócio, se afastar da vida tumultuada que tinham em Nova Iorque para residir na pacata cidadezinha de Castle Rock, gerindo seus projetos in-loco, com sua esposa Donna e seu filho Tad, porém, Donna está cada vez mais insatisfeita com a vida pacata, sentindo que desaparece em tarefas banais enquanto vai “perdendo sua importância e função” na medida que o filho cresce, diante desse sentimento, Donna acaba se envolvendo em um relacionamento extra-conjugal.
Joe Camber é um fruto de seu meio e tem a essência de Castle Rock atrelada ao seu DNA, o caipira bruto é conhecido por ser um ótimo mecânico que além e fazer bem o serviço, cobra um preço justo. Sua mulher Charity vive uma vida infeliz, presa em um relacionamento abusivo, com um marido que a agride, tendo que praticar concessões e negociar com o marido à respeito da educação de Brett, o filho do casal. Quando tem uma chance de viajar com Brett para a casa da irmã, Charity agarra a oportunidade com todas as forças, acreditando ser a sua única chance de mostrar ao filho uma vida diferente e torcendo para que não seja tarde demais, que seu filho não esteja irremediavelmente impregnado pelos atos, costumes e raízes do pai.
É principalmente na figura dessas duas mulheres que a obra é centrada, duas mães desesperadas para resolver questões internas sim, mas acima disso, manter seus filhos à salvo, sendo de perigos físicos ou psicológicos que possam afetar suas vidas para sempre.
Parecendo perceber que estava sendo observado, Cujo ergueu a cabeça. O focinho pingava. Olhou para Donna com uma expressão (cachorros conseguiam ter uma expressão?, perguntou-se ela) que parecia demonstrar crueldade e pena…e mais uma vez ela teve a sensação de que os dois passaram a se conhecer intimamente e que não haveria trégua ou desfecho enquanto não levassem essa terrível relação até o ponto final.
Cujo sempre foi um cachorro dócil, apesar de seus imponentes noventa quilos botarem medo em qualquer um que o veja se aproximando, porém, após ser mordido por um morcego, o manso cachorro contrai hidrofobia e começa a transformar-se em algo diferente, uma máquina sedenta por sangue e enquanto Charity e Brett precisam lidar com suas questões fora de Castle Rock, Dona e Tad Trenton precisam lidar com o Cujo.
Encurralados dentro de um carro, Donna precisa manter Cujo longe e o filho em segurança, porém, a esperança de ter uma resolução rápida e simples se esvai com acontecimentos anteriores, seu marido precisou ir para Nova Iorque resolver um grande problema com o principal cliente de sua agência de publicidade e esfriar a cabeça enquanto decide se a relação deve ou não seguir em frente após descobrir o relacionamento extra-conjugal da esposa de uma forma nada legal, e os donos de Cujo, Charity e Brett, estão fora da cidade.
Com uma narrativa extremamente tensa, visceral e crua, King nos prende aos acontecimentos e gera empatia instantânea do leitor por praticamente todos os personagens; nos importamos com o drama de Vic que precisa recuperar a confiança de seu maior cliente para manter a fonte de renda de sua família enquanto lida coma traição da mulher, com a luta de Donna frente aos seus conflitos internos e a eminente ameaça à sua vida e a de seu filho, com o desespero de Charity frente à influência tóxica de seu marido sobre seu filho e não menos importante, pela transformação do são-bernardo que toca o coração de qualquer ser que tenha um.
Sobre a sinopse do livro, alerto para que não tomem o elemento sobrenatural descrito como algo de suma importância e tenha em mente que não trata-se exatamente de um espírito assassino à espreita como a sinopse diz, pelo contrário, esse elemento é mais uma metáfora do que um fato concreto.
“Cujo” é mais uma prova de que o autor sabe como ninguém criar ambientação, construir personagens e destruir o coração do leitor, pois é assim que eu me senti após concluir a leitura, com o coração destruído de diversas formas. O poder que King emprega em sua escrita é fascinante, você simplesmente não quer largar o livro enquanto não ver aqueles personagens bem e o fato do livro não ser dividido em capítulos, torna a experiência ainda mais imersiva, frenética e inquietante.
Caso tenha curtido minhas impressões, você pode adquirir “Cujo” pelo link do blog na Amazon.
Quantos cafés “Cujo” merece?
Esse é um daqueles livros que basicamente é todo clímax, uma vez que a ação é desencadeada não para mais. Angustiante como Sob a redoma, tocante como A espera de um milagre e frenético como Carrie.
Esgotado por tantos anos, mal sabiam os leitores o que estavam perdendo!
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Exatamente, eu amei cada segundo da leitura!
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