“A Noite dos Mortos-Vivos” (Night of the Living Dead – 1995) e “A Volta dos Mortos-Vivos” (Return of the Living Dead – 1978) de John Russo são romances advindos de roteiros cinematográficos escritos por Russo e George Romero, sendo que o primeiro deu origem ao clássico filme “A Noite dos Mortos-Vivos” que definiu muito do que conhecemos hoje sobre zumbis. Ambos os livros foram publicados em 2014 e ganhou uma reedição este ano pela DarkSide Books com ilustrações de Danilo Beyruth.
A Noite dos Mortos- Vivos (1995)
O livro conta com uma ótima introdução do autor John Russo contando o que o levou, em conjunto com Russ Streiner, George Romero e Rudy Ricci, a desenvolver os roteiros. Basicamente, Russo queria dar aos fãs do gênero o que eles mereciam e não estavam recebendo; ao ler isso eu imediatamente pensei: Sr. John Russo, isso infelizmente está acontecendo novamente com esse gênero.
Todos aqueles que morreram recentemente têm retornado à vida para se alimentar de carne humana. Pessoas mortas em necrotérios, hospitais, casas funerárias…bem como muitos daqueles mortos durante ou em decorrência do caos gerado nesta emergência…têm voltado a viver de uma forma degenerada e incompleta…com uma ânsia irresistível de matar outros seres humanos e devorar sua carne.
Harry, sua esposa Helen e sua filha Karen, têm seu veículo atacado e tombado por um grupo de mortos-vivos na estrada, a filha do casal sai do ataque ferida, porém, os três conseguem fugir. No caminho, encontram o casal de adolescentes Tom e Judy e juntos encontram abrigo em uma casa.
Ben foi pego de surpresa pelo surgimento dos primeiros incidentes com mortos-vivos enquanto dirigia de volta para a casa na qual morava com seus filhos e a avó dos garotos, desde então, passou a se abrigar em lugares vazios e lutar pela vida com o objetivo de voltar para casa e manter os filhos em segurança.
Bárbara e Johnny partem de sua cidade para fazer uma visita ao túmulo do pai e totalmente alheios ao que estava acontecendo, acabam sendo vítimas de um ataque, onde somente Bárbara sobrevive. Desesperada, a garota acaba encontrando refúgio em uma casa, a mesma em que Ben e a família de Harry se encontram.
Ao contrário do que se espera, as pessoas não se unem. Enquanto Bárbara está completamente catatônica após presenciar a terrível morte do irmão, Ben e Harry disputam o território da casa, causando assim não só uma divisão física do lugar, mas também uma divisão entre as pessoas, o que deixa a situação ainda pior.
Cercados por mortos-vivos e tendo como fonte de informação do mundo exterior apenas um noticiário que só parece transmitir notícias desagradáveis (como nossos noticiários atuais), os personagens se esforçam para manterem-se vivos, elaborando planos ora para manter a integridade da casa ora para planejar uma fuga do local para procurar ajuda médica para Karen, que passa a apresentar febre alta.
Enquanto essa luta dentro da casa acontece, temos um grande grupo comandado pelo xerife McClellan que está fazendo uma varredura para exterminar mortos-vivos e resgatar pessoas que estejam à mercê desses monstros. Então, o leitor passa o livro inteiro torcendo por ALGUNS desses personagens que estão na casa e torcendo também para que o grupo de McClellan chegue antes que o pior aconteça.
Para quem gosta do assunto, é interessante ver a construção desses primeiros mortos-vivos que influenciaram tanto os que conhecemos hoje, desde a sua mitologia, forma de caminhar, origem, aspectos infecciosos que levam à transformação de humanos saudáveis em feras sedentas por carne, até o ponto fraco que todos nós conhecemos bem. Como se não bastasse, narrativa é bem ágil e prende o leitor do começo ao fim, aqui tudo é muito direto, sem firulas, fazendo com que cada parágrafo do texto seja absorvido pelo leitor com um crescente nó na garganta e frio na barriga que são causados pelo ambiente claustrofóbico no qual os personagens estão à salvo, porém não totalmente seguros.
O final do livro não é exatamente surpreendente, chega em um certo ponto onde você sabe que vai dar merda, mas ainda assim, torce para que as coisas se resolvam e que seja apenas um presságio de uma cabeça pessimista.
“A Noite dos Mortos-Vivos” é um livro indicado para os fãs do gênero, a história é ágil, os personagens são desenvolvidos vagarosamente durante a trama e a ameaça dos zumbis é crescente e evidenciada pelas ações humanas, fato que também é interessante de acompanhar, afinal ninguém pode prever as transformações de personalidade, caráter e ações que uma pessoa pode sofrer em um evento tão adverso quanto ser caçado por cadáveres animados.
A Volta dos Mortos-Vivos (1978)
Viver é uma criação constante e interminável de túmulos. As coisas vivem e morrem, e às vezes vivem bem e às vezes vivem mal, mas sempre morrem, e a morte é aquilo que reduz todas as coisas vivas a um denominador comum; aquilo deixa todas as coisas caírem no esquecimento.
Eu sinceramente desconhecia essa segunda obra e creio que muitos não saibam da existência de uma continuação para “A Noite dos Mortos-Vivos”. “A Volta dos Mortos-Vivos” também foi escrito para se tornar um longa-metragem, porém nunca chegou às telas de cinema, o que de forma alguma significa que o texto é ruim, pelo contrário, em vários aspectos, “A Volta dos Mortos-Vivos” consegue superar e muito o seu antecessor.
Dez anos após os acontecimentos do primeiro livro, muito se ocultou da população acerca dos motos-vivos, levando as pessoas a crerem que aquele incidente era uma coisa pontual e que tudo estava sob controle novamente. É claro que nem todos engolem tão facilmente as explicações, informações rasas ou desinformações fornecidas e tentam buscar explicações em outros lugares, como na religião.
Logo no início do livro, acompanhamos um pastor e seus fiéis em um velório, onde é cravada uma estaca na cabeça da falecida para evitar seu possível retorno. No meio desse velório, as pessoas são informadas de que houve um acidente com um ônibus na estrada e que várias pessoas morreram, então o pastor arrebanha seus fiéis munidos de estacas e outros instrumentos contundentes para ir até o local exterminar os mortos antes que eles possam se reerguer. Entenda que até então, para todos os efeitos, a situação com os mortos-vivos já havia sido sanada, dessa forma quando policiais e a mídia encontram em uma clareira os corpos de diversas pessoas com estacas cravadas na cabeça, entendem a ação como um ato de selvageria. Eu achei que o livro então se utilizaria desse tema polêmico, porém o a estória perde ao apenas dar uma pincelada no que poderia ser um ótimo argumento.
A questão central do segundo volume é praticamente a mesma do primeiro, as mudanças que as pessoas podem sofrer em eventos atípicos e elas são bem drásticas aqui, basicamente você não pode confiar em mais ninguém. Como se não bastasse a ameaça dos mortos-vivos, seus vizinhos são uma ameaça, a polícia pode ser uma ameaça e pessoas de caráter duvidoso se aproveitam do caos para cometer mais crimes.
Apesar de partir da mesma premissa, “A Volta dos Mortos-Vivos” entrega uma estória melhor construída, com personagens mais interessantes e melhor trabalhados, além de ter mais ação que o primeiro, onde a trama se concentrava apenas em um ambiente, aqui temos mais questões morais e muito mais violência em cena. A conclusão aqui também é previsível.
Se você gosta de estórias de zumbis, esses livros são indicados para você, porém não pense que verá algo novo, como essas estórias definiram muito do que foi feito por aí, os clichês são inevitáveis. É interessante ler o material pela sua relevância no gênero, afinal, o clipe de Thriller, o primeiro filme de Tarantino e a série The Walking Dead são extremamente baseadas no conteúdo dessas duas obras.
Caso tenha se interessado pela obra, você pode adquirir pelo link do blog na Amazon.
Quantos cafés “A Noite dos Mortos-Vivos e A Volta dos Mortos-Vivos” merece?
Muito interessante esse livro, nunca fui atrás de ler pq achei que era o roteiro do filme apenas, como o livro do Donnie Darko. O gênero está muito saturado, sem inovação e muito preguiçoso. Nos games até que tem uma melhora, mas séries e cinema enterraram o glamour dos zumbis. Pra mim, o último bom exemplo foi Madrugada dos mortos!
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Eu também estou saturado do assunto, a série The Walking Dead enterrou meu interesse nos mortos-vivos.
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