MÊS DO HORROR: A MALDIÇÃO DA RESIDÊNCIA HILL

“A Maldição da Residência Hill” é uma série que adapta o livro “The Haunting of Hill House” da autora norte-americana Shirley Jackson. A obra de romance gótico, escrita em 1959, é considerada uma das melhores histórias literárias de fantasmas publicadas no século 20, a obra já havia sido anteriormente adaptada em dois longas-metragens e uma peça de teatro e agora ganha o formato de série em dez episódios dirigidos de forma primorosa por Mike Flanagan (Hush: A Morte Ouve/ Jogo Perigoso).

Eu ainda não tive a oportunidade de ler o romance de Shirley Jackson, pretendo resolver essa pendência em breve, mas julgando apenas pelo conteúdo incrível do roteiro da adaptação e pelo fato do próprio Stephen King considerar a obra uma das melhores histórias de fantasmas publicadas no século 20 e ter até mesmo dedicado alguns de seus livros para a autora, não me surpreende que eu tenha gostado tanto, ao assistir à série me vi diante da melhor série que assisti esse ano e sem dúvidas a melhor história de casa assombrada que já conferi durante vida até então e tudo isso se deve ao fato de que os personagens são extremamente bem construídos e o terror que os eventos provocam na vida deles, são facilmente incutidos no telespectador.

Uma família em frangalhos precisa confrontar memórias assombradas de sua antiga casa e os eventos aterrorizantes que os expulsaram de lá em uma noite trágica que traria consequências irreversíveis para todos eles.

Quando Hugh (Henry Thomas e Timothy Hutton) e Olivia (Carla Gugino) mudaram para a mansão Hill House com seus cinco filhos, não imaginavam que a missão de reconstruir a mansão resultaria na destruição da sanidade de sua família. A missão do casal era simples, reformar mais uma residência, vendê-la e seguir para a próxima, porém, os planos da residência para a família Crane eram bem diferentes.

Durante a última noite que passaram em Hill House, Hugh Crane reuniu seus cinco filhos no carro e abandonou o local, deixando sua esposa para trás. Após acomodar os filhos em um hotel, Hugh retorna para buscar a esposa, porém, ao retornar para o hotel na manhã seguinte com as roupas ensanguentadas, ele precisa encarar a polícia e explicar os eventos que culminaram na morte de Olivia.

Desde a fatídica noite, as cinco crianças da família Crane cresceram sem saber ao certo o que houve naquela noite, todas as informações que possuem foram as divulgadas pelos tabloides sensacionalistas e Hugh insiste em não falar sobre o ocorrido com os filhos. Totalmente despedaçada, a família pouco se reúne e seus membros passaram a seguir caminhos diferentes.

Theodora (Mckenna Grace e Kate Siegel) é uma doutora em psicologia que sempre demonstrou uma sensibilidade extrema ao sobrenatural, seu dom se apresenta pelo toque, motivo pelo qual precisa usar luvas constantemente. Esse dom foi o que a motivou a escolher a carreira de psicologa, onde ela atende crianças, entendendo e fazendo com que elas superem seus traumas. Porém, seu dom não é encarado apenas de forma positiva, tocar os outros sempre foi motivo de dor desde o dia que tocou em sua mãe e teve um vislumbre do seu futuro, dessa forma, Theodora evita se relacionar com pessoas por muito tempo, preferindo ter relações pouco intimas ou profundas.

Luke (Julian Hilliard e Oliver Jackson-Cohen) e Nell (Violet McGraw e Victoria Pedretti) são gêmeos e dividem uma conexão empática muito poderosa, além disso, o período em que viveram em Hill House e os acontecimentos da última noite não isentaram os dois de traumas, Luke se tornou um viciado em heroína, enquanto Nell possui uma paralisia muscular que a acomete vez ou outra ao despertar, a moça fica consciente, porém, paralisada enquanto uma assombração de uma mulher com o pescoço quebrado a observa desde criança.

Shirley (Lulu Wilson e Elisabeth Reaser) e Steven (Paxton Singleton e Michiel Huisman) vivem em pé de guerra desde o momento em que Steve decidiu que seria uma boa ideia publicar a estória da família e ganhar milhões explorando horrores que ele sequer tem consciência ou acredita, a carreira literária de Steve é totalmente apoiada em investigar casos supostamente paranormais e criar romances a partir desses relatos, em sua maioria inventados, enquanto Shirley construiu sua vida bem próxima à morte, ela é dona de uma empresa de velórios e é especialista em tanatopraxia.

Os irmãos não são próximos devido à discordância quanto ao livro de Steve, há também discordâncias referentes ao comportamento de Luke e especialmente quanto à relutância de Hugh de falar sobre o passado. Os membros da família Crane são obrigados à confrontar todas essas questões quando um dos irmãos resolve retornar à Hill House e aparece morto em um aparente suicídio.

O roteiro da adaptação é muito bem escrito, a série abre diversas portas e não deixa nenhuma aberta em sua conclusão. A estória é essencialmente um drama com elementos sobrenaturais e é mesmerizante acompanhar os dramas e as diversas formas com as quais os traumas advindos da experiência de viver naquela casa maldita influenciaram no desenvolvimento, escolhas e futuro dos Crane.

Além do roteiro, a série não peca em absolutamente nenhum elemento, a fotografia é incrível, a montagem se torna um elemento à parte ao transformar os episódios em pequenos quebra-cabeças que vão se encaixando de forma orgânica, a trilha sonora é inquietante e imersiva, os atores e atrizes mirins e adultos dão um show imenso de interpretação e transmitem muita verdade, parece que eles realmente estão vivendo aquilo tudo e dá muita vontade de pegá-los no colo pra dizer que tudo vai ficar bem, como se não bastasse tudo isso, a direção chegou a me dar raiva de tão bem feita, o quinto episódio da série é praticamente inteiro filmado em plano sequência (contei no máximo quatro cortes) e há diversas cenas filmadas assim, o poder de imersão dessa série é coisa de outro mundo e eu nem vou falar do design de produção, pois você já deve ter cansado de me ler elogiando essa coisa maravilhosa.

Os elementos sobrenaturais dão medo, medo de verdade, não é só jump scare não e, pasme, os jump scares aqui quando ocorrem assustam pra valer, o episódio 8 que o diga! As criaturas possuem um design muito interessante, me lembra bastante os trabalhos de James Wan e até há uma criatura em particular que me fez lembrar trabalhos do Tim Burton!

“A Maldição da Residência Hill” é sem dúvidas a melhor série de casas assombradas que eu assisti até o momento e a melhor série que eu assisti esse ano, considerando toda a sua qualidade técnica, artística e a profundidade do roteiro. Essa é uma série que nunca errou na vida e merece todos os prêmios que as premiações tem à oferecer.

Quantos cafés a série “A Maldição da Residência Hill” merece?

2 comentários sobre “MÊS DO HORROR: A MALDIÇÃO DA RESIDÊNCIA HILL

  1. Rodrigo disse:

    Curti bastante a série, principalmente por se distanciar do terror convencional e tratar da história da família em primeiro lugar. A série é bem distante do livro, mas algumas homenagens foram feitas, quando você ler vai perceber!

    Curtido por 1 pessoa

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