“Cantigas de Ninar Dragões” é o segundo livro de poesia do poeta nacional Rogério Bernardes e o meu primeiro contato com a escrita do autor. Confesso que não tenho costume de ler poesia, porém, buscando conhecer autores nacionais para o projeto Julho Nacional, fui encorajado pela amiga Ana do Ponto Para Ler a conhecer o trabalho do Rogério, publicado pela Editora Penalux, e decidi encarar o desafio de ler poesia, desafio este que mostrou-se delicioso.
A primeira vez que peguei o livro em mãos, li com voracidade cada poema contido em suas páginas, lembro que a cada poema que me tocava, mandava uma mensagem para a Ana expressando o quão incrível estava sendo a experiência, porém, após devorar mais que a metade do livro, decidi que aproveitaria melhor o conteúdo lendo com parcimônia, então, diminui minha voracidade e optei por ler aos poucos, em silêncio, quando sentisse que a alma estava precisando de um afago ou um incentivo e foi justamente isso que encontrei na poesia do Rogério.
Composto por oitenta poemas, o livro exprime a verdade do poeta sem firulas, a inspiração vem do intimo, de experiências vividas e ainda vívidas, de experiências desgastantes e opressoras que foram aliviadas e libertas em forma de poesia. A sede do poeta por viver é um tema recorrente em sua obra, além de superação de fatos que lhe marcaram no passado, problemas familiares, amores que não deram muito certo, esperança e o grande amor pela arte de transformar sentimentos e sensações em palavras.
Dentre os muitos poemas contidos na obra, tenho uma listinha de favoritos, são eles: “Doce de Leite”, “Turista”, “O Armário”, “Lotus”, “Crônica Juvenil”, “Gaiola”, “Mar”, “Içando Velas”, “Not a Best Seller”, “Vida” e o poema que dá nome ao livro “Cantigas de Ninar Dragões”. Os Dragões que Rogério enfrentou durante a vida estão representados aqui em cada poema, desde os sonhos e verdades que foi obrigado à enterrar, passando pelas dificuldades de ser uma pessoa que escolheu não viver com os pés no chão, até o peso e a opressão do armário que lhe serviu de esconderijo durante certa fase, porém, aqui sobra pouco espaço para o lamento, os sonhos enterrados são desenterrados e consumidos vorazmente (representados aqui por uma lata de doce de leite), sem medo de consumir doçura demais, o armário que antes serviu como um abrigo incômodo, cedeu sua madeira para uma fogueira libertando aquilo que só é errado para quem julga o ato de amar como tal, os dragões aqui são enfrentados sim, mas não há lanças, não há tiros, só há amor e todos os monstros são vencidos dessa forma, com muito amor dado em resposta à ignorância, ao desamor e ao vazio.
Sei que lá vem você de novo
Turista nada bem-vinda
Mas desta vez estou de armadura
Não espere uma luta fácil
Tenho uma lança, a flor do Lácio
E um caderno aberto em branco
Ao fim da guerra, sobre meu flanco
Estarei de pé e farei poesia.
Trecho de “Turista”
“Cantigas de Ninar Dragões” me desafiou em um primeiro instante, pela minha falta de prática em ler poesia, e logo mostrou-se como um suplemento para a alma em tempos difíceis. Rogério tem uma escrita simples e bonita, que exprime de forma ímpar sentimentos, sensações, anseios e verdade, não há palavra inserida apenas para rimar, não há floreio só para enfeitar, aqui há a verdade da alma de um poeta que resiste, assim como a poesia, que como ele diz, ainda insiste.
Quantos cafés “Cantigas de Ninar Dragões” merece?
Poesia é o gênero mais distante da minha zona de conforto.
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É o meu também, sem dúvidas, me surpreendi ao me ver amando poesia kkkkk, acho que você vai gostar desse livro em especial!
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