TAG: LEITURA DE RESISTÊNCIA

Algumas semanas atrás, em meio às eleições, escutei algumas piadinhas acerca da palavra resistência e fiquei incomodado, passei alguns dias com aquilo na cabeça, porém, sem paciência de fornecer explicações para pessoas que não assimilariam o que eu tinha à dizer.

No dia das eleições aconteceu um movimento lindo chamado #MaisLivrosMenosArmas, onde diversas pessoas levaram livros consigo para as urnas e, após o resultado das eleições continuei ouvindo algumas piadinhas, novamente acerca da palavra resistência somado ao ato de levar um livro para as urnas. Lembro de ter escutado algo do tipo “As pessoas nem leem, levaram livros e postaram fotos em redes sociais para ganhar likes e simular superioridade”, desses mesmos lábios não ouvi queixa alguma quando um homem foi às urnas portando uma arma de fogo e postando um vídeo do ato nas redes sociais.

Então, eu fiquei pensando comigo mesmo, será que as pessoas odeiam tanto um partido ao ponto de julgar atos essencialmente bons como errados e ridículos? Não, não era bem isso. A conclusão que eu acabei tirando disso tudo é que o que essas pessoas estavam fazendo era apenas uma tentativa de invalidar a luta do outro se utilizando da ridicularização dos atos de resistência, diante disso me permiti tirar um pouco do peso das minhas costas por ter me mantido em silêncio, afinal eu não estava ouvindo absurdos de pessoas pouco instruídas, não adiantaria ser didático, elas tinham o conhecimento, só estavam utilizando o conhecimento de forma seletiva, escolhendo o pior lado de todos, um lado sem empatia.

“Tomou banho gelado hoje? A Resistência pifou?”, pois bem, vamos conversar um pouco sobre o significado do verbo resistir.

Não ceder ao choque de outro corpo. Opor força à força, defender-se. Conservar-se firme, resistir aos ataques do inimigo, não sucumbir, não ceder: resistir à fadiga, à tentação. Durar, subsistir, conservar-se. 

Resistir não é um sinônimo de subjugar, perseguir, invalidar ou caçar. Resistir é durar, se manter firme apesar das turbulências, não ceder, não desistir e defender-se. Subjugar, perseguir, invalidar e caçar são palavras intrinsecamente ligadas àqueles que julgam e ridicularizam atos daqueles que resistem. Se fere a minha essência, serei resistência… é tão autoexplicativo. Se algo me atinge ou aqueles que amo, eu vou resistir, vou lutar para me manter firme suficiente para que as adversidades não nos derrotem. O que há de errado em não permitir que firam a minha essência?

Nesse mesmo período, meu amigo Rodrigo do canal Rodrigo e os livros me convidou para espalhar #leituraderesistencia para os meus seguidores e uma coisa que ele me disse corrobora não somente tudo que eu disse aqui, como tudo que eu trago comigo como verdade: a resistência para as minorias não é uma novidade. Portanto, a luta não é de hoje, a resistência não é de hoje, as minorias sempre lutaram, sempre resistiram e vão continuar resistindo e não são tentativas de ridicularizar aqueles que lutam pelo que acreditam, protegem ou pelo que são que vai nos impedir de continuar resistindo.

Então, hoje participo da tag #leituraderesistencia da seguinte forma: Escolha uma frase estúpida e descubra leituras para compartilhar com quem ainda corrobora com alguém que faz declarações tão perigosas, pois, é necessário entender de uma vez por todas que validar discurso de ódio não é questão de opinião, é falta de humanidade.

“…Divida histórica? Eu não escravizei ninguém!”

Leituras para aprender a não relativizar o preconceito racial e reconhecer o mal que foi feito e continua sendo feito, apesar da venda que muitos insistem em manter sobre os olhos.

“Kindred: Laços de Sangue” (Octavia E. Butler)

“O Escravo de Capela” (Marcos Debrito)

“Não Existe isso no Brasil” (Jeniffer Geraldine)

“…a quinta eu dei uma fraquejada e veio mulher”

Leituras para praticar a empatia, mulheres fortes que estão bem longe de serem exemplos de sexo frágil, sendo elas as autoras, ou personagens das obras citadas.

“O Conto da Aia” (Margaret Atwood)

“Clarice” (Paulo Souza)

“Novena Para Pecar em Paz” (Contos organizados por Cinthia Kriemler)

“Cujo” (Stephen King)

“…o filho começa a ficar assim, meio gayzinho, leva um coro e muda o comportamento dele”

Leituras para aprender que o amor não deve ser julgado ou combatido com ignorância, preconceito ou falta de empatia, o amor, ao contrário do ódio, deve ser espalhado e incentivado.

“Um Milhão de Finais Felizes” (Vitor Martins)

“Se Tudo Der Errado Amanhã” (Johnatan Marques)

“O Armário” (Conto da coletânea “Cantigas de Ninar Dragões” de Rogério Bernardes)

“Southernmost: Rumo ao Sul” (Silas House)

“…direitos humanos esterco da vagabundagem”

Leituras que se utilizam da ficção para alertar o leitor sobre perigos reais, sejam eles de ordem política, filosófica, religiosa ou humanitária.

“Teocrasília” (Denis Mello)

“Enterre Seus Mortos” (Ana Paula Maia)

“Cambria” e “Um Longo e Surrado Vestido de Vidro” (Paulo Crumbim)

“…o erro da ditadura foi torturar e não matar”

Leituras sobre abuso de poder e os riscos e consequências da maldade do homem sendo corroborada, incentivada e amplamente tratada como verdade.

“1984” (George Orwell)

“Laranja Mecânica” (Anthony Burguess)

Espero que tenha gostado das minhas indicações e caso tenha alguma leitura para indicar dentro dessas temáticas, sinta-se livre para deixar nos comentários, vamos espalhar leitura de resistência por aí, vamos bater na tecla e continuar repetindo o óbvio, pois a obviedade e os clichês se fazem necessários pelo fato de que as pessoas insistem em cometer os mesmos erros de forma crônica. Abração e até o próximo café!

12 comentários sobre “TAG: LEITURA DE RESISTÊNCIA

  1. Rodrigo disse:

    Que postagem maravilhosa! Indicações incríveis e super poderosas para espalhar informações bem embasadas e que fazem refletir e nos encaminha para uma mudança significativa na nossa sociedade. Obrigado por participar e potencializar tanto a ideia sobre as leituras de resistência!!!

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  2. Ana Ramos disse:

    Que alegria me dá ver esse tipo de postagem pela internet, sério! Quanto mais conscientes estivermos melhor combateremos o que quer que esteja por vir.
    Texto forte e cheio de empatia, Luke! Mandou bem demais!
    Vou contribuir com indicações complementares:

    “…Divida histórica? Eu não escravizei ninguém!”
    – Na minha Pele, do Lázaro Ramos.
    É um livrão, sério! Ele começa contando um pouco da história dele e vai mostrando como ele foi percebendo e sendo percebido pelo racismo no Brasil e fala também como a ascensão profissional dele confirma a regra.

    – Mamilos #173 Não sou racista, podcast muito educativo.
    O Brasil inteiro devia ouvir e aprender: https://open.spotify.com/show/39IqvZCSC52QAehb4b4aaR?si=k99aUQiOS_6kbrdh-QRxiQ

    “…o erro da ditadura foi torturar e não matar”
    – A Revolução dos Bichos, George Orwell.
    Outro livrão, é uma espécie de sátira ao modelo da URSS, mas dá para pegar referências ótimas do que NÃO fazer e no que prestar atenção.

    E um que serve para todos os títulos:
    – O que é lugar de fala, da Djamila Ribeiro.
    Ele é beeem acadêmico, mas é ótimo para entender o conceito de Lugar de Fala e principalmente que a sua experiência de vida não invalida a do outro e que ela não te dá o direito de falar pelo outro e dizer que ele não sente ou não passa pelo que ele está dizendo que acontece. É para glorificar de pé e ler muitas vezes depois que ler os vários livros que ela cita.

    Obrigada pelo post, Luke! ❤

    Curtido por 1 pessoa

  3. Paulo Souza disse:

    Essa postagem tem que ser exaltada, que texto maravilhoso, estou sem palavras.
    Disse tudo Luke, só queria te abraçar agora.
    Não me acho a altura das citações, mas caramba, que felicidade que eu estou por está nessa postagem. Obrigado por isso!
    Seremos resistência

    Curtido por 1 pessoa

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