“Corações Ruidosos Em Queda Livre” é um livro de contos escritos pelo autor Alex Sens, natural de Florianópolis (SC), e publicado ano passado pela Editora Penalux. Esse foi o meu primeiro contato com a escrita do autor que já foi vencedor em 2012 do Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura, lançou em 2015 o livro “O frágil toque dos mutilados” e está prestes a lançar o “A silenciosa inclinação das águas”, ambos pela Editora Autêntica.
Antes de qualquer coisa, preciso dizer que tenho certo fascínio por títulos, já cheguei ao ponto de comprar algumas obras sem sequer ler as sinopses, somente pelo fato do título ter me chamado a atenção, o caso mais recente foi o “As Fúrias Invisíveis do Coração” do autor John Boyne. Então, a primeira coisa que me chamou atenção para o autor foram justamente os títulos de seus trabalhos que por si só possuem uma carga poética que me atrai muito e felizmente a beleza da escrita do autor não se resume apenas aos títulos.
O livro é composto por três contos, cujos nomes em separado formam o título do livro. Sendo assim, temos: “Corações Ruidosos”, “Em Queda” e “Livre”. Como são apenas três, vou falar um pouco sobre cada um deles.
Corações Ruidosos
O primeiro conto abre a coletânea de forma excelente, ambientado durante uma viagem de ônibus, somos levados a conhecer os passageiros por meio seus pensamentos ou pelos “ruídos de seus corações”. Eu como uma pessoa que gosta de observar meu entorno, me vi fascinado pela narrativa do conto e totalmente dragado pelo fluxo de consciência individual, que aos poucos acaba tornando-se coletivo.
“A outra lágrima caiu na quina de sua tristeza e ficou ali parada, aberta como uma chaga que só ele podia abrir devagarinho com as unhas lascadas de memória, as unhas dele, ele que sempre cuidava tão bem das unhas, que era limpo e metódico como um buda. Ele. Volta, meu filho. Volta.”
A cada parágrafo, somos apresentados à um passageiro, suas aflições, esperanças, traumas e sofrimentos, passeando entre o hoje, ontem e os anseios pelo depois, até que em certo momento, esses pesamentos se fundem e Sens se prova genial pois, por mais incrível que pareça, é possível identificar quem está pensando o quê, mesmo que os pensamentos de todos estejam unidos e ocorrendo ao mesmo tempo. A escrita do autor é linda, cheia de significados e poesia e a conclusão do conto encerra essa estória curta de forma excelente conciliando a narrativa com o ato final em si.
Em Queda
Deixamos o fluxo de consciência e entramos no diário de Lucas, um jovem que se vê intrigado pelos Fatos que estão ocorrendo em uma galeria de arte em sua cidade, intrigado ao ponto de decidir visitá-la. Chegando lá, ele nota que a arte em si é negligenciada pela maior parte do público, as pessoas estão ali para presenciar mais um Fato, que pode ocorrer, ou não. Aqui é retratada a fascinação do ser humano pela morte e as reações que a proximidade com o derradeiro fim pode causar às pessoas.
“Com os olhos fechados, Lucas ouve a chuva como se o domo fosse atacado por flechas de aço. Milhões de flechas tentando abrir o vidro. O que ele tem, o que o pianista tem e o que todos os visitantes têm, nesse dia, às quatro e quatorze da tarde, é uma espera fragmentada.”
Também é notável a vontade do autor de retratar a nossa sociedade e a banalização, exploração e os espetáculos que são armados ao redor de tragédias, onde as pessoas se estapeiam para ter a melhor visão, ou aguardam com ansiedade por detalhes, cores, texturas e aromas que possam aproximá-las da aura misteriosa e intimidadora da morte. No encerramento do conto é apresentado um contraponto à sensação de alguém que presenciou fatos demais e se viu propenso à se tornar parte do espetáculo, é sensacional!
Livre
Escrito de forma epistolar, o último conto apresenta ao leitor Leonor, uma escritora de livros infantis amargurada, viúva e prestes à ser levada pelo câncer de pulmão. Todos esses fatores reunidos fazem com que a personagem sinta-se livre para escrever uma série de cartas extremamente ácidas para pessoas que passaram por sua vida.
“Existe algo de poético e extremamente belo nas coisas que desabrocham com a morte, e uma delas é este senso antes invisível, oculto, este senso profundo e intocável, de intensidade do amor.”
Nessas cartas, Leonor não poupa ninguém, faz questão de abrir feridas e cutucá-las com palavras afiadas, impregna suas palavras com uma raiva contida e explode sentimentos represados sem pudor, arrependimento ou pena. Por meio dessas cartas, vamos aos poucos conhecendo a escritora, a forma com a qual o autor encerra o conto e nos abre os olhos de vez para quem é essa mulher e do que ela é/foi capaz de fazer para sentir-se finalmente livre, é absurdamente deleitoso de um modo bem estranho. Quando eu pensei que o autor já tinha gastado suas cartas nos contos anteriores, dei de cara no chão ao finalizar a leitura dos contos e constatar as pequenas conexões entre as estórias.
“Corações Ruidosos Em Queda Livre” me apresenta mais um autor nacional do qual me dá vontade de ler até mesmo a lista de compras do mês. A antologia de Alex Sens me fez desejar por mais de sua escrita envolvente, repleta de significados, poesia e muitas sensações. O autor consegue descrever a saudade de uma mãe pelo filho e a intrigante relação de um personagem com uma obra de arte com a mesma sutileza e poesia que descreve um salto mortal em direção ao chão, ao fim. Eu saí feito louco recomendando a leitura do livro para todos os meus amigos mais próximos, pois Sens causou essa sensação em mim, um sentimento de orgulho por ter um autor de um nível tão alto em terras tupiniquins.
Caso tenha se interessando pelo livro, você pode adquirir pelo link do blog na loja da Editora Penalux ou pelo link do blog na Amazon.
Quantos cafés “Corações Ruidosos Em Queda Livre” merece?
Passar pelo blog do Luke é como passar na frente de uma confeitaria quando se está faminto por um doce. A lista de leitura só aumenta.
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Amigo, ainda estamos em Fevereiro, arruma papel pq essa lista vai aumentar e muito 😂
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