“You” é uma série distribuída no Brasil pela NETFLIX baseada no livro homônimo da escritora Caroline Kepnes, a produção gerou tanta repercussão que já teve sua segunda temporada confirmada antes mesmo da estreia.
Na trama conhecemos Joe Goldberg (Penn Badgley), um gerente de uma livraria apaixonado por literatura. Ele é bem articulado, simpático e charmoso, mas também é um stalker psicopata que entende o fato de Guinevere Beck (Elizabeth Lail) efetuar o pagamento de um livro com um cartão de crédito, uma deixa para que ele veja seu nome completo e consiga entrar em contato com ela novamente.
Imediatamente, Joe começa a investigar a vida de Beck por meio de suas redes sociais e traçar um perfil comportamental de sua vida para tentar se aproximar, há aqui uma leve advertência sobre o quanto estamos expondo nossas vidas através das nossas fotos no Instagram, textos no Twitter e outras redes sociais.
Guinevere Beck é uma autora buscando formas de viabilizar seu trabalho, ela não é nenhuma garota rica, embora se cerque de garotas de classe alta, mas vive uma vida confortável, divide seus dias entre seu trabalho dando aulas de yoga e sua busca por uma oportunidade enquanto desenvolve seu trabalho de mestrado.
Logo no início da série, Beck se envolve em um incidente que faz com que haja a aproximação de Joe, que aproveita a situação para furtar seu celular. A partir daí, Joe passa a ter conhecimento sobre todos os passos de Beck, pois tem acesso aos seus e-mails, rotina e até mesmo suas conversas com as amigas.
Se utilizando desse artifício, Joe se aproxima de Beck e forja situações e ações que o favorecem em detrimento dos problemas que a garota enfrenta, ele sempre passa uma imagem de salvador da pátria para a garota que vai se afeiçoando e se apegando a um aparente porto seguro em meio aos tormentos de sua vida.
Assim como Beck, o telespectador também vai se apegando e criando empatia por Joe, a série manipula a visão do telespectador assim como o psicopata manipula a vítima, e isso se deve pura e simplesmente à boa qualidade do roteiro e a forma com a qual construíram a narrativa do projeto, além do trabalho da fotografia que faz questão se ilustrar a realidade confusa de Joe ao utilizar lentes que distorcem as cenas.
Como acompanhamos todos os fatos pelo ponto de vista do Joe, temos apenas a sua versão dos fatos e suas impressões sobre as pessoas e é por isso que absolutamente todos os personagens do convívio de Beck nos parece absolutamente detestáveis. Há em um episódio o ponto de vista de Beck, o que ajuda a entender melhor a personagem, pois até mesmo por ela o telespectador pode nutrir certa aversão, pois de acordo com o que vemos pelos olhos de Joe, ela parece ser uma mulher mimada, chata e não merecedora de todo “amor” que o psicopata está oferendo.
Há mais um elemento bem interessante na série e que pode ser uma boa fonte de debates, Paco (Luca Padovan) é um garoto que sofre constantemente com o homem que sua mãe trouxe para casa e o relacionamento extremamente abusivo que os dois construíram, o garoto recorre sempre ao Joe quando está tendo algum tipo de problemas em casa e ele por sua vez, é sempre solícito e carinhoso com o garoto, oferecendo comida, conselhos, passeios e leituras para que o garoto consiga fugir da realidade que enfrenta dentro de casa.
Porém, nem de longe isso significa que Joe é dotado de empatia e traços de humanidade, precisamos lembrar que ele é um psicopata e a maioria dos psicopatas são tidos pelas pessoas do seu convívio como amáveis, normais e até mesmo carinhosos. Paco ao meu ver é mais um instrumento do roteiro para fazer com que o telespectador se afeiçoe e crie empatia com Joe, o que acontece inevitavelmente.
Não há em nenhum momento durante a série a romantização da psicopatia de Joe ou do relacionamento abusivo que ele submete Beck, todos os abusos tem suas consequências e elas não são nada boas. É claro que há um fator de extrapolação da realidade e do possível aqui, mas em sua essência é possível capturar a mensagem que o roteiro quer nos passar.
Apesar de tantas qualidades e bons assuntos para discussão, assistir a série demanda certa suspensão de descrédito, pois há momentos e ações muito impossíveis de se acontecer, como Joe sair espalhando seu DNA por todas as cenas de crime possíveis e isso nunca ser usado para absolutamente nada na série ou a facilidade com que ele entra nos lugares, persegue as pessoas sem ser notado com apenas um boné cobrindo o rosto ou mostra ter um conhecimento extenso sobre uma pessoa que acabou de conhecer, sem contar com o fato de Beck não se preocupar em comprar cortinas.
“You” é uma série que me deixou intrigado e não consegui descansar até finalizar, o enredo é interessante, as discussões (relacionamento abusivo, exposição nas redes sociais, machismo, assédio…) são pertinentes e atuais, as atuações são boas e o roteiro, que apesar de ter alguns problemas que demandam suspensão de descrédito, faz um bom trabalho em nos mostrar a visão deturpada de uma pessoa que não bate muito bem das ideias. Após terminar a temporada, me deu vontade de fazer uma maratona de “Dexter”, meu guilty pleasure que vou amar e defender para sempre.
Quantos cafés a primeira temporada de “You” merece?
Essa não despertou meu interesse. Meio que peguei ranço das séries 🤭
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