“Boy Erased” é um drama biográfico que adapta o livro homônimo de memórias escrito por Garrard Conley, o longa dirigido e roteirizado por Joel Edgerton conta com atuações de Lucas Hedges, Nicole Kidman, Russell Crowe e participação especial do cantor Troye Sivan, que também criou a música tema do filme, “Revelation”. A exibição do longa no Brasil, apesar de anteriormente anunciada e divulgada, foi cancelada às vésperas da estreia por motivos que não foram esclarecidos devidamente pela distribuidora Universal Pictures, gerando várias especulações na internet.
Na trama, Jared Eamons (Lucas Hedges) é o filho único de Nancy (Nancy) e Marshall Eamons (Russell Crowe). Marshall é um pastor da igreja Batista Missionária e governa seu lar tendo como base os preceitos de sua religião, Nancy se submete as ordens do marido e Jared tenta ser o melhor filho possível, tentando aprender sobre o negócio do pai em uma concessionária de veículos, mantendo sua vida e seu namoro seguindo pelas regras de sua religião, constantemente lidando com a pressão de ser o filho de um pastor, porém, sempre com o conhecimento de que algo não estava certo.
Jared sabia em seu intimo que nunca conseguiria alcançar o patamar estabelecido pelos pais, mesmo assim, ele continuava a se esvaziar de si mesmo, esconder seus sentimentos, represar suas opiniões e apenas acatar e tentar fazer o melhor possível para ser o melhor filho possível, até que não conseguiu mais.
Foi ao se mudar de cidade para ingressar na faculdade que ele pode ter um espaço para se descobrir como pessoa longe dos pais, foi necessário terminar seu relacionamento e se distanciar do único universo que conhecia até então, para que um novo mundo se abrisse para, um mundo onde ele não precisaria mais represar o que sentia, se conter ou andar por um caminho e seguir preceitos que não lhe pareciam corretos, porém, infelizmente, esse novo mundo também lhe trouxe uma grande dor que veio a se desdobrar em uma sucessão de traumas que marcariam sua vida para sempre.
Finjam, até acreditar. Tornem-se o Homem que vocês não são!
Jared é abusado sexualmente por um colega na faculdade e como se não bastasse o ato inominável, o responsável pelo abuso com medo de ser descoberto forja uma história e expõe a condição sexual do jovem aos seus pais, fazendo com que Marshall convoque em seu lar uma reunião de “homens sábios” para instruí-lo de como a situação deve ser tratada. Dessa forma, é dado à Jared duas opções: esquecer que possui uma família e seguir em frente ou aceitar fazer parte do “Refúgio”, um programa de cura gay da igreja Amor em Ação, o garoto apavorado e atordoado pela série de traumas acaba aceitando a proposta do pai, então, Nancy se encarrega de viajar com o filho para que ele inicie no programa de conversão.
Me faltam palavras para descrever meus sentimentos quanto ao que Jared e outros participantes do programa são obrigados a fazer para serem “curados”. O pastor Victor Sykes (Joel Edgerton) responsável pelo programa desenvolve uma série de atividades para condicionar os jovens, atividades que embaraçam, envergonham e torturam psicologicamente. Muitos dos alunos, estando ali apenas obrigados pelos pais, aceitam a ideologia de fingir até acreditar e conseguem passar pelo programa de forma mecânica, mas os que questionam sofrem as consequências. Nancy vai se dando conta, ao observar o comportamento do filho, que o programa é estranho em uma série de coisas, eles exigem que os alunos não falem sobre o que acontece lá dentro, seus manuais, trabalhos de estudo e atividades são repletas de erros e pobres em conteúdo, bem isso não chega a ser surpreendente né?
Lucas Hedges faz um ótimo trabalho em sua atuação e Joel Edgerton entrega um perfeito filho da puta, daqueles que dá vontade de entrar no filme para quebrar a cara, a Nicole Kidman entrega aquilo que o roteiro permite, não há nenhuma cena incrível dela e Russell Crowe entrega um dos momentos mais emocionantes do longa. A fotografia e a trilha sonora são simples e belas e a montagem intercala entre o processo de Jared e seu passado, fazendo com que o telespectador entenda o motivo pelo qual ele se submeteu ao tratamento.
O que mais me chamou atenção nessa história toda foi a coragem que Garrard Conley teve de contar a sua história e denunciar essa prática absurda que existiu, continua existindo e vai existir enquanto as pessoas não pararem um segundo para se colocar no lugar do outro. O relato de Garrard é forte, necessário e sem dúvidas pode ser empoderador para quem estiver passando por uma situação semelhante.
“Boy Erased” é um filme que nunca deveria ter tido seu lançamento cancelado do Brasil, ainda mais em tempos como os quais estamos vivendo. É triste acompanhar os sofrimentos de Garrard e diversas outras pessoas passaram pela terapia de conversão e é ainda mais triste saber que esse tipo de prática podre ainda ocorre. Infelizmente eu não consegui ler o livro ainda e sinceramente não sei se terei estômago para ler, acho que o que eu vi aqui foi suficiente e é o suficiente para qualquer pessoa que tenha um pingo de humanidade entender que a única conversão que as igrejas e as pessoas deveriam pregar é a conversão do ódio, intolerância e violência em empatia, respeito e amor ao próximo.
Quantos cafés “Boy Erased” merece?
Eu ainda não tive coragem pra assistir. Não sei se terei. Orações para Bobby demorei anos até criar coragem pra assistir. Pelo que vejo, práticas de conversão estão aumentando ao invés de desaparecer. E o que o cinema não divulga, a internet e seus usuários espalham!
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