“Hurts 2B Human” é o oitavo álbum de estúdio da P!nk, o sucessor de “Beautiful Trauma” chegou de surpresa e bem mais cedo do que os fãs esperavam, uma vez que a cantora não costuma lançar discos tão seguidinhos, de “The Truth About Love” até “Beautiful Trauma” foram cinco anos e deste para o mais recente, pouco mais de um.
A cantora que virá para o Brasil pela primeira vez para se apresentar no Rock In Rio, e sim, estou torcendo para que arrume uma forma de se apresentar aqui em São Paulo também, pois não vou ao RIR, vem mantendo em seus trabalhos uma espécie de tema sendo levado mais afundo disco após disco, esse tema é o amor e P!nk já falou sobre esse sentimento de diversas formas, em “The Truth About Love” tivemos “Try” falando sobre lutar para manter uma relação de pé, assim como tivemos “Just Give Me A Reason” que já dizia mais sobre dar uma última chance para essa relação pela qual tanto se lutou e “True Love”, onde se reconhece que o amor verdadeiro é constatado quando você consegue continuar amando apesar das diferenças e defeitos do outro, já em “Beautiful Trauma”, canções como “You Get My Love” e “Whatever You Want” falam sobre a entrega, sobre a dedicação à esse sentimento e relação, o que muda em “Hurts 2B Human” é que a cantora decidiu falar mais sobre o eu do que sobre o nós, trazendo grandes reflexões internas acerca de sua própria vida e, se você se atentar às mudanças de composição e sonoridade ao longo desses anos, carreira e sonoridade.
Calma, isso não quer dizer que P!nk abandonou sua essência pop rock e decidiu fazer um disco completamente confessional reclamando tal como o androide paranoide Marvin, há cores aqui, como bem simbolizado pela capa incrível do disco, que preciso dizer ser a minha capa favorita de todos os oito álbuns já lançados. Sem mais enrolações, bora conferir as minhas impressões sobre o disco.
O disco é aberto com uma melodia energética que mistura elementos eletrônicos com guitarra, palmas, efeitos de armas sendo disparadas e o backing vocal gostoso e empolgante de Dan Reynolds, frontman da banda Imagine Dragons e grande amigo da cantora, que também coescreveu a canção. “Hustle” apresenta uma das características mais deliciosas da cantora, o DEBOCHE, aqui ela trabalha muito no shade para deixar bem claro que ela não entra em uma relação por brincadeira e não está nenhum pouco disposta a ser levada como brinquedo. Bitch please, don’t try to hustle me!
P!nk não tá pra brincadeira, mas não está imune à sentir saudades de boy lixo quando bate aquela carência e é sobre isso que a segunda faixa do disco fala. “(Hey Why) I Miss You Sometime” também é uma composição debochada, cheia de comparações e metáforas hilárias, como a comparação do tipo de amor com coisas como McDonnalds, um tipo de amor que pode até ser gostoso, mas que não faz muito bem para a saúde no final das contas. A melodia é bem pop, mas não é um pop genérico, há uso de violão, auto tune, gritinhos e outros elementos que fazem desta uma daquelas músicas diferentonas no repertório da cantora, imagino ela fazendo performances daquelas que ela cai na risada involuntariamente enquanto executa.
Eu nem preciso falar sobre “Walk Me Home” né? Essa é uma daquelas baladas grandiosas típicas da P!nk que ficam ainda mais grandiosas aliada à recursos visuais que ela sabe usar tão bem. A canção fala basicamente sobre ter alguém com quem contar em momentos difíceis, alguém que possa te levar para casa ou ser sua casa quando o mundo lá fora, ou nosso próprio interior está uma loucura.
“Walk Me Home” abre as portas para as baladas do disco, “My Attic” é uma canção onde a cantora fala sobre segredos, tema recorrente em suas composições, ela aqui fala sobre os segredos que guardamos dentro de nós e usa como metáfora um porão. Enquanto “Secrets” do disco anterior era uma canção onde a cantora flertava com seu par sobre seus segredos, em “My Attic” ela se mostra mais relutante em se expor, por ter certeza de que é necessário ter certa bravura para desbravar coisas que ela prefere esconder até de si mesma. I will give you all my secrets If you promise you can brave my attic.
“90 Days” possui coautoria de Stephen Wrabel, que também divide a voz com a cantora na faixa, eu não conhecia o trabalho do cantor e compositor, mas só pelo que vi aqui já me deu vontade de procurar mais sobre ele. As vozes de P!nk e Wrabel casaram muito bem nesse dueto, a música possui elementos suaves de eletrônica aliadas ao piano, a balada fala sobre estar certo de que a relação não funciona mais, se ver infeliz e ir conseguindo pouco a pouco perceber e reunir forças para seguir em frente, uma das composições mais bonitas do disco que consegue narrar essa situação como se fosse uma história mesmo, a música é bem visual.
A faixa título do disco chega em forma de parceria com Khalid Robinson, que também é coautor da faixa, a canção possui um instrumental muito gostoso e fala basicamente sobre encontrar refúgio para as dores de ser humano, aqui os intérpretes encontraram esse refúgio na música e a faixa simboliza muito bem todo o espírito do disco, pois são nessas canções que podemos ver que P!nk encontrou seu refúgio em momentos de dor e dúvida, sejam elas referentes à si mesma, seu casamento, ou até mesmo se conseguiria ser a mãe fodona que sempre quis ser para seus filhos.
“Can We Pretend” produzida por Cash Cash é sonoramente a música mais genérica do disco e a que eu menos gostei, a melodia soa extremamente datada para os dias de hoje, embora seja algo que não tenhamos visto ainda no repertório da cantora. A composição fala sobre reviver bons momentos de uma relação, fazer de conta que ainda estão no auge do sentimento para ver se assim é possível resgatar a chama. Sem dúvidas é o ponto mais baixo do disco e não vou ficar fingindo aqui que não.
“Courage” é uma das minhas faixas favoritas do disco, a composição basicamente se trata da cantora se questionando se tem a coragem necessária para mudar. Esse aspecto de auto análise me agrada muito e é absolutamente identificável que há um dedo da Sia na faixa, antes mesmo de olhar os créditos eu imaginei e ela realmente coescreveu a canção ao lado da própria P!nk e Greg Kurstin. Eu amo as composições da Sia, na minha modesta opinião ela é sem dúvida uma das melhores compositoras atualmente, seu trabalho combinado com o da P!nk os trouxe uma música que arrepia e é mais sobre sensação do que qualquer outro atributo.
Por falar em auto análise, “Happy” é mais uma etapa, aqui a cantora reflete sobre problemas que teve com sua imagem e seu corpo e a barra que era enfrentar isso sozinha por ter dificuldades de ser aberta quanto aos seu sentimentos e esse problema de ser mais contida, de guardar as coisas em seu porão “My Attic”, impediram-na de ser completamente feliz em várias fases de sua vida, ela também atribui isso à uma espécie de auto-sabotagem de alguém que sabe que tem certo medo de ser completamente feliz, pois tem a certeza de que não saberia lidar muito bem caso visse as coisas desmoronando.
“We Could Have It All” é uma faixa com instrumental e composições interessantes, porém não me chamou muito a atenção, a canção fala sobre o potencial de uma relação, onde as duas pessoas poderiam ter tido tudo o que as pessoas esperavam que elas tivessem ou fossem. Para a minha alegria, a canção que segue é “Love Me Anyway” com participação de Chris Stapleton, uma balada com vocais mais suaves de P!nk que casaram muito bem com a rouquidão do Chris, eu não sei acerto o motivo, mas associei a canção com canções de cerimônias de casamento.
Perto do fim, temos a minha favorita do disco, “Circle Game” é uma canção poderosa onde P!nk mostra vocais incríveis ao som de violinos e piano para falar de sua relação de seu pai e agora com sua filha Willow. Eu nem sei como falar sobre essa canção, acho que a melhor forma de fazer com que você entenda o quanto ela é bonita, é escutando mesmo.
O disco se encerra com “The Last Song of Your Life” em uma vibe bem acústica e intimista, onde a cantora questiona qual seria a última música da sua vida, caso você pudesse escolher. When you’re authentic, you’re incredible.
P!nk é uma artista autêntica, que sempre fez o que bem quis com a sua música, os seus shows e sua imagem, sempre nadou contra as imposições da indústria, discursou contra os padrões de beleza, que também lhe causaram problemas de auto imagem, e mais recentemente um caso de bullying enfrentado por sua própria filha. Em “Hurts 2B Human” ela se permite falar mais sobre si mesma, se mostrar vulnerável e exteriorizar demônios, que talvez alguém também esteja enfrentando dentro de si, e mostrar que eles podem ser vencidos, além disso, depois de tantos anos de carreira, ela usa sua liberdade criativa para somar elementos novos em suas canções que foram se transformando muito com o passar do tempo, tudo bem que nem sempre tudo funciona tão bem quanto poderia, mas vejo bem essa mudança de sonoridade e o quão mais adulto o som da cantora foi ficando com o decorrer dos anos e eu amo e continuarei amando acompanhar a jornada dessa mulher.
Quantos cafés “Hurts 2B Human” merece?
Ótima análise das faixas. Pink sempre arrasa e certeza que essas faixas ganharão ainda mais força ao vivo.
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Uma coisa é certa, ela é uma das poucas que consegue ser melhor ao vivo do que em gravações.
Abraços amigo!
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