MAIO SCI-FI: AQUI QUEM FALA É DA TERRA

“Aqui quem fala é da Terra” é a primeira coletânea de contos da Plutão Livros, uma editora brasileira de ficção científica que busca fazer barulho e diferença no mercado digital do gênero publicando histórias clássicas e contemporâneas com foco especial na qualidade e na diversidade. Lançada em 2018, essa primeira coletânea tem como tema seres extraterrestres, como alienígenas sempre tiveram uma posição de destaque na literatura de ficção científica, a escolha desses seres, que sempre despertaram nossa curiosidade e medo, como tema principal foi bastante acertada.

Composta por nove contos, a coletânea foi escrita por autores e autoras nacionais iniciantes e veteranos, mantendo a proposta de agitar o mercado, dar oportunidade para novos autores e expressar a diversidade. A equipe que compõe essa primeira coletânea é formada por Alliah, autor de “Metanfetaedro”, André Caniato de “Isto não é um livro de Matemática” Bárbara Morais de “A Ilha dos Dissidentes”, “A Ameaça Invisível” e “A Retomada da União”, Cirilo S. Lemos de “O Alienado” e “E de extermínio”, Clara Madrigano de “Especial Natalino” e “As Boas Damas”, Jana Bianchi de “Lobo de Rua” e “Sombras”, Mayra Sigwalt em seu conto de estréia, Rodrigo Van Kampen de “Trabalho Honesto” e Vitor Martins, autor de “Quinze Dias” e “Um Milhão de Finais Felizes”.

Os contos que compõem a coletânea, apesar de inseridos na caixinha da ficção científica, possuem elementos de gêneros variados, temos contos onde prevalece o clima de suspense, outros onde a comédia e o humor ácido são mais evidenciados, há também espaço para aventura, drama e até mesmo romance, o que logo de início já me faz afirmar que é impossível que você leia a coletânea e não goste de absolutamente nada. Para não deixar esse post extenso demais, vou falar um pouco sobre os meus contos favoritos e comentar os demais brevemente.

“Balé de Almôndegas” é o conto que abre a coletânea e foi escrito por Rodrigo van Kampen. Na trama, uma alienígena é enviada para a Terra para estudar ingredientes terrenos que serão utilizados para temperar almôndegas deliciosas preparadas com a carne da população terráquea e servidas em um grande e importante jantar de casamento extraterrestre. Mas a missão se mostra mais complicada do que o esperado quando a alienígena descobre que a autorização para processar toda a carne humana deve ser concedida por um humano e em seu caso específico, por uma garotinha que sonha em ser bailarina. Eu amei muito a escrita do Rodrigo, suas duas personagens e o humor ácido presente em todo o conto, a conclusão da história não poderia ter sido melhor, o conto abre muito bem os trabalhos para a coletânea e na minha modesta opinião é um dos melhores.

“Entre as gotas de chuva, encruzilhada” é o conto de Cirilo S. Lemos. Em uma trama que se passa nas ruas, em um mundo de pobreza e muita violência, conhecemos Marcelina, uma garota que vive com seu irmão e mais um grupo de moradores de rua, até que suas rotinas são interrompidas por uma mulher misteriosa que chega oferecendo trapos velhos e também por um veículo cheio de homens de bem que chegam oferecendo tiros. O conto, que é mais voltado para o realismo fantástico do que para a ficção científica, me provocou sentimentos intensos durante a leitura, a escrita do Cirilo é bem gráfica e ele não se detém ao escrever cenas chocantes e realistas, quero conhecer mais da escrita do autor.

“O Regresso” de Clara Madrigano é a parte dramática da coletânea, o conto fala sobre abdução, mais precisamente sobre os deixados para trás e as consequências de ver alguém que se ama simplesmente desaparecer, levando consigo uma parte da sua própria existência. O conto é lindo, a escrita da Clara é magnífica e profunda e eu fiz a releitura do conto logo que terminei, esse conto daria fácil um livro inteiro ou até mesmo um bom filme de drama, amei demais!

“Estrela Cadente”, conto escrito pelo Vitor Martins é um soco no emocional de qualquer um, sensação que ao meu ver se tornou intrínseca à escrita do autor. Na trama, uma jovem alienígena e sua família vieram à Terra com a missão nada simples de catalogar os sentimentos dos seres humanos, ao contrário do que costumamos ver nos filmes de invasão alienígena, os extraterrestres aqui estão interessados em conhecer mais sobre o ser humano para descobrir uma forma de futuramente obter relações intergaláticas pacíficas, tadinhos. Mika, é essa jovem alienígena que trabalha em um cinema, onde pode ter contato com várias pessoas e tocá-las, forma com a qual acessa os sentimentos e consegue catalogá-los, porém, certo dia ao tocar uma cliente, Mika descobre um sentimento novo e confuso que vai aproximá-la dessa cliente com o objetivo de entender melhor o que significa a Saudade, vocês precisam ler esse conto!

O fato de eu ter elencado os quatro contos acima não quer dizer que os demais contos são ruins, ou inferiores, a escolha reflete apenas meu gosto pessoal, as demais histórias também são bem divertidas, “Dois ou Um” da Jana Bianchi tem uma inteligência artificial incrível e uma maçaroca orgânica e nano tecnológica que eu quero ver bem longe de mim, “O Barqueiro” do Alliah é um conto super visual que daria um ótimo episódio de Black Mirror ou de Twilight Zone, assim como “Um dia não anoiteceu mais” do André Caniato que me evocou a sensação que eu tinha ao assistir aqueles episódios da série Clube do Terror, o “Morango de Itaipu” de Mayra Sigwalt é bem cômico e me fez rir bastante com os absurdos de uma raça de alienígenas cultuando uma avozinha locutora de rádio e “O Fantasma Veio Para a Festa” de Bárbara Morais que também é bem divertido.

“Aqui quem fala é da Terra” é uma coletânea com nomes de autores novatos e veteranos que você precisa anotar em um caderninho e ficar ligado em seus próximos passos. Essa é, sem dúvida alguma, uma ótima forma de conhecer novos autores por meio de histórias curtas que vão te dar um aperitivo do que é a escrita de cada um. Eu torço para que mais projetos como este continuem surgindo, pois essa é mais uma das muitas provas que já dei aqui de que a nossa literatura é repleta de histórias e autores incríveis que estão apenas esperando serem descobertos.

A coletânea está disponível na Amazon em formato digital, compatível com o Kindle e com o aplicativo do Kindle para celular (forma pela qual consegui fazer a leitura).

Quantos cafés “Aqui quem fala é da Terra” merece?

8 comentários sobre “MAIO SCI-FI: AQUI QUEM FALA É DA TERRA

  1. Rodrigo disse:

    O livro começa e termina de maneira excelente. O restante achei mediano beirando a chatice. Adorei O Regresso e imagino a Amy Adams no filme desse conto!

    Curtido por 1 pessoa

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