“Duna” é um clássico da ficção científica publicado em 1965, a obra foi escrita pelo autor norte-americano Frank Herbert e é considerada até hoje um dos melhores romances de ficção científica de todos os tempos. No Brasil, “Duna” foi publicado pela Editora Aleph em edições em capa dura com apêndices extras, até o encerramento desse post, a editora já havia lançado “Duna” e as sequências “Messias de Duna”, “Filhos de Duna” e “O Imperador Deus de Duna”.
Na trama, ambientada em um futuro distópico bem distante, somos apresentados à um império galático feudal em expansão. Temos aqui uma civilização tríplice, tendo a Família Imperial de um lado, a Federação das Casas Maiores do Landsraal de outro, e, entre os dois, a Guilda, com seu monopólio do transporte interestelar, essas casas nobres que controlam os feudos devem aliança à casta imperial da Casa Corrino.
O carisma e a popularidade crescente da Casa Atreides desperta a desconfiança do Imperador Shaddam IV, que passa a considerar o Duque Leto Atreides como uma ameaça ao trono. Sendo assim, decide destruir a Casa Atreides antes que ela cresça ao ponto de tornar-se uma ameaça de fato, porém, o Imperador não pode deixar suas intenções claras e acaba se utilizando da crônica rivalidade dos Atreides com a Casa Harkonnen para colocar seu plano em prática sem que suas intenções sejam tão evidentes, então, a solução de Shaddam IV chega em forma de um presente.
O presente de Shaddam IV mostra-se de cara uma bela armadilha, se objetivo do Imperador era ser sutil, ele passou bem longe de alcançá-lo. Arrakis, planeta desértico também conhecido como Duna, era comandado pela Casa Harkonnen, porém, do dia para a noite, o Imperador decide conceder à casa Atreides o poder de governar Duna, destituindo os Harkonnen.
Apesar da evidente armadilha, o Duque Leto Atreides aceita a “oferta” e se muda para Duna com seu filho Paul, sua consorte Jessica, a tropa Atreides e seus militares Duncan Idaho, Gurney Halleck e o mentat Thufir Hawat, afinal não seria muito inteligente recusar a ordem do Imperador. Ciente de que o presente cheira mal, Leto passa a investigar os motivos pelos quais ganhou a oportunidade de governar um planeta tão disputado, Jessica também se mostra bastante desconfiada e a sensação se mostra bem acertada, uma vez que no meio deles há um traidor.
Arrakis ou Duna é um planeta muito importante, pois é a única fonte da preciosa Melange, uma especiaria que prolonga a vida do usuário, lhe confere dons de presciência e pode ser utilizada de diversas formas e em diversas aplicações; a exemplo disso, o Melange é utilizado como combustível para as naves da Guilda. Sendo assim, quem controla Duna, controla o Melange, a especiaria que basicamente controla toda a economia do Império.
A especiaria também é essencial para as Bene Gesserit, uma ordem secreta composta exclusivamente por mulheres que possuem habilidades prescientes, telepáticas, intelectos perigosos, controle total sobre seus corpos e até mesmo sobre o corpo alheio. Essas grandes combatentes e intelectuais desenvolvem há séculos um programa de treinamento dos sortilégios e melhoramento genético com o objetivo de produzir a melhor de sua espécie, a que gerará o Kwisatz Haderach, o único homem Bene Gesserit, que atingirá o ápice da presciência, conseguindo acessar toda a memória genética e histórica de todas as Bene Gesserit que existiram até então. Lady Jessica é uma Bene Gesserit e criou Paul Atreides nas artes do sortilégio, desafiando toda a ordem das Bene Gesserit ao dar a luz à uma criança do sexo masculino sem autorização para tal.
O jogo político criado pelo Imperador Shaddam IV tem consequências grandiosas para a Casa Atreides e seus sobreviventes são obrigados a fugir e se adaptar ao deserto para que a Casa não seja extinta. É no deserto que esses sobreviventes tem a oportunidade de conhecer os Fremen, ferozes guerreiros habituados ao planeta e que possuem algo em comum com as Bene Gesserit, eles acreditam em um Messias que um dia trará água ao planeta desértico.
Não terei medo. O medo mata a mente. O medo é a pequena morte que leva à aniquilação total. Enfrentarei meu medo. Permitirei que passe por cima e através de mim. E, quando tiver passado, voltarei o olho interior para ver seu rastro. Onde o medo não estiver mais, nada haverá. Somente eu restarei.
Esse é, sem dúvida alguma, o melhor livro do gênero que eu li até o momento. O sci-fi de Duna é bem tranquilo de ser lido, isso se deve muito ao fato de que a obra não é apenas um sci-fi puro, há muito de fantasia aqui e caso você chegue a ler, vai perceber que obras como “Star Wars” e “Crônicas de Gelo e Fogo” beberam muito das fontes secas de Duna. Além da fantasia e do sci-fi, a obra é recheada de filosofias, trazendo reflexões incríveis durante a leitura, eu poderia fazer um post inteiro somente com citações. O tamanho da obra pode assustar um pouco aqueles que não são muito chegados à um calhamaço, mas calma, o tamanho pode até assustar, mas a leitura da obra é mais fluída do que as correntezas de areia de Arrakis e você vai se ver devorando o livro até sua conclusão e com dó de finalizar a litura.
Frank Herbert construiu um universo interessante, intrigante e extremamente envolvente, com personagens misteriosos, bem desenvolvidos, cheios de camadas, potência e potencial destrutivo. Toda a filosofia e treinamento das Bene Gesserit são simplesmente hipnotizantes, sempre que essas mulheres guerreiras telepáticas e extremamente poderosas eram mencionadas na obra, eu não conseguia parar de virar as páginas sedento por mais, a mitologia que o autor criou aqui é algo simplesmente incomparável.
O homem que está se afogando e sobe nos nossos ombros para se salvar é compreensível…exceto quando o vemos acontecer à mesa de jantar.
A trama política de Duna é um dos pontos mais positivos da obra, toda a armadilha arquitetada pelo Imperador contra a Casa Atreides faz com que uma cadeia de eventos se desenrole e mude totalmente o rumo de todos os personagens. E é graças a esses novos caminhos que os personagens vão ganhando desenvolvimento, ao se forçarem ao limite em busca da sobrevivência em um ambiente hostil, com habitantes hostis e caçadores buscando possíveis sobreviventes da Casa Atreides pelo deserto. A adaptação dos personagens à Arrakis não é nada simples, se imagine em um planeta onde a água é tão escassa que pessoas matam outras para roubar sua umidade, onde para conseguir sobreviver ao calor você precisa se utilizar de um traje específico que recicla sua umidade, pois é inconcebível perder sequer uma gota d’água.
Além disso, você precisa descobrir uma nova forma de caminhar, pois os terríveis Vermes da Areia, criaturas ligadas intrinsecamente ao melange, conseguem identificar o padrão do movimento do caminhar humano e podem te devorar caso você pise em falso ou se utilize de qualquer aparelho eletrônico enquanto caminha pelo deserto profundo.
“Duna” é um space-opera incrível que consegue colocar política, religião e meio ambiente em um mesmo liquidificador, bater tudo e te entregar uma experiência com muita substância. Com diálogos incríveis, sem desperdício algum de tempo do leitor, cenas épicas, personagens super interessantes inseridos em uma mitologia ainda mais interessante com uma riqueza de detalhes que até assusta. Ler “Duna” está bem longe de apenas uma leitura comum, a obra de Frank Herbert é uma experiência que vai te fazer refletir sobre muitos aspectos da sua vida, das suas bolhas e da sociedade na qual você está inserido e está construindo, ou destruindo.
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Quantos cafés com melange “Duna” merece?
Que resenha poderosa. Eu peguei Duna duas vezes para ler e não consegui ir adiante. Acho que por nunca ter lido scifi, pra mim era difícil a imersão no enredo. Mas reconheço que ele é ótimo. Estou esperando o momento oportuno pra ler. Logicamente essa resenha aguçou a curiosidade.
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