“Olhos que condenam” é uma minissérie dramática americana baseada em uma história real. Criada por Ava DuVernay, com produção executiva de Oprah Winfrey e Robert De Niro, distribuída pela Netflix, a minissérie retrata o caso dos Cinco do Central Parque, famoso caso onde cinco adolescentes negros foram condenados por um estupro que não cometeram, expondo um erro judiciário pautado pela intolerância racial, incompetência e abuso policial.
Em 1989, cinco adolescentes com idades entre 14 e 16 anos não imaginavam que um simples passeio pelo Central Park resultaria em um inferno. Antron McCray (Calel Harris / Jovan Adepo), Kevin Richardson (Asante Blackk / Justin Cunningham), Yusef Salaam (Ethan Herisse / Chris Chalk), Raymond Santana (Marquis Rodriguez / Freddy Miyares) e Korey Wise (Jharrel Jerome) são capturados por policiais e passam a sofrer em suas mãos em interrogatórios completamente anti-éticos nos quais são forçados à confessar o estupro e espancamento coletivo de uma corredora branca.
Naquela época, diversos outros casos de estupro ocorriam em Nova Iorque, casos que constantemente ficavam sem solução. Pressionados pelo número de eventos não resolvidos, a polícia faz o trabalho imundo de incriminar esses garotos para limpar a imagem da corporação que não poderia ter em seu currículo mais um caso de estupro sem solução.
Sendo assim, a polícia realiza interrogatórios sem a presença dos responsáveis pelos menores de idade, se aproveitam do medo dos garotos para chantageá-los oferecendo como condição para voltar para suas casas a assinatura de um testemunho confessional, além de uma confissão gravada, a recusa é respondida com pressão psicológica, emocional e violência física. Essas confissões são revistas, rescritas e regravadas diversas vezes até que os testemunhos dos jovens façam sentido para Elizabeth Laderer (Vera Farmiga), promotora do caso, e Linda Fairstein (Felicity Huffman), na época diretora da divisão de crimes sexuais e também promotora do caso.
Sem evidências de DNA, testemunhas ou qualquer outra prova além das confissões forjadas, os jovens são condenados à prisão. A vítima, única pessoa que seria capaz de afirmar que aqueles garotos não foram responsáveis pelo crime, acabou sofrendo danos à memória devido ao espancamento e não se lembrava de nada acerca do tormento que passou na mão do criminoso, portanto, a única esperança de liberdade que os garotos tinham acaba sendo frustrada.
A minissérie em quatro partes reconstitui a trajetória desses jovens desde os primeiros interrogatórios em 1989, o período no qual ficaram em reclusão, passando pela absolvição em 2002 e o acordo de indenização com a prefeitura de Nova Iorque em 2014 que ficou conhecido como o maior acordo de indenização da história dos EUA, foram pagos aos homens a quantia de 40 milhões de dólares, dinheiro este e foi parcialmente empregado em causas de apoio à jovens negros que precisam de recursos para enfrentar processos judiciais e também de apoio no que tange o emocional e reintegração social.
É desesperador acompanhar o que a polícia e a justiça fez com a vida desses jovens e de suas famílias, eu assisti a série com uma mistura de tristeza e perplexidade. A sensação piora quando descobrimos que na época da condenação, Donald Trump chegou a pagar uma quantia exorbitante para publicar em um jornal um texto onde se dizia à favor de trazer de volta as leis de pena de morte, isso quando era apenas um empresário que por ter muito dinheiro se sentia no direito de se meter em questões que não eram de sua alçada e inacreditavelmente hoje esse ser tornou-se presidente dos EUA. Posso traçar um paralelo aqui com o boçal que comanda nosso país hoje em dia e me dá certa tristeza pensar que as pessoas não levam em conta declarações dotadas de ignorância, preconceito e todos os precedentes desumanos ditos antes de escolher seus líderes políticos.
É importante dizer que a liberdade concedida aos garotos e a retratação da prefeitura de Nova Iorque não tem nada que se relacione à competência policial ou à investigações posteriores, eles só foram liberados e inocentados quando o verdadeiro culpado pelo crime decidiu confessar, caso esse milagre não tivesse ocorrido, os cinco estariam até hoje pagando por um crime que não cometeram, isso se sobrevivessem à realidade penitenciária.
Com atuações incríveis, direção e fotografia impecáveis, um roteiro que aliado às interpretações corta o coração e inflama o sentimento de revolta à cada segundo, a série é sem dúvida a melhor produção da NETFLIX até o momento. A importância dessa série é tamanha que deveria ser utilizada como material de conscientização em escolas e até mesmo em cursos preparatórios para policiais, se é que isso existe hoje em dia, casos recentes me fazem pensar que não.
“Olhos que Condenam” é uma série forte, que coloca o dedo na ferida e expõe o racismo, as falhas judiciárias, a improbidade policial e todos os problemas que a comunidade negra sofre em sociedades que só os veem quando é conveniente, sempre tendo no olhar uma lente que inferioriza, anula e condena.
Quantos cafés “Olhos que Condenam” merece?
Ainda não tive coragem para ver essa série. Mas quero ver.
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Já vou me preparando psicológicamente. Amei tua resenha. Foda! 👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼🖤
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Pela misericórdia, quero muito ver, mas não sei se tenho estômago. Tô numa fase zero paciência com ignorância.
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Puts, pra essa em específico é necessário ter estômago forte viu 😦
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