Alex Sens, escritor nascido em Florianópolis e radicado em Minas Gerais, publicou aos 20 anos de idade um pequeno livro de contos de humor ácido e realismo mágico “Esdrúxulas”, seguido por um livro artesanal chamado “Trincada”. No ano de 2012, o autor venceu o Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura na categoria Jovem Escritor com o seu primeiro romance que viria a ser lançado em 2015 pela Autêntica Editora “O Frágil Toque dos Mutilados”, romance que ganhou uma sequência esse ano pela mesma editora “A Silenciosa Inclinação das Águas”, entre esses dois trabalhos, Sens também publicou um livro de contos pela Editora Penalux, o excelente “Corações Ruidosos Em Queda Livre”.
Eu fiquei muito feliz em entrevistar o Alex, não só pelo fato de poder conhecer mais o autor por trás de obras que particularmente gosto muito, ou por conseguir divulgar mais essas obras e o nome do autor nesse espaço que tenho na internet, fiquei feliz pois o Alex é um dos meus recém descobertos na literatura brasileira e tornou-se bem rápido um dos meus nomes favoritos. Espero que você goste desse papo, busque pela obra e se permita conhecer esse autor tão talentoso.
Luke: Alex, primeiramente agradeço imensamente por ter tirado um tempinho para responder as minhas perguntas, conheci seu trabalho há pouco tempo, mas já te tenho como um dos meus autores nacionais prediletos e é uma felicidade imensa poder ter esse bate-papo e divulgar mais uma vez o seu trabalho.
“O Frágil Toque dos Mutilados”, “Corações Ruidosos Em Queda Livre” e “A Silenciosa Inclinação das Águas”. De onde surgem esses títulos maravilhosos, você pode me contar um pouco sobre o processo de escolha de títulos para as suas obras?
Alex Sens: O título é uma das fibras do coração de uma história. É o que nomeia a história, e tudo aquilo que nomeia alguma coisa não só coloca uma marca sobre essa coisa, mas dá cor, caráter, vida a ela. Penso com muito cuidado nisso porque títulos preguiçosos já temos aos montes e eu não quero que meus livros sejam lembrados apenas pelos enredos ou pelos personagens, mas também pelo mistério ou pelo estranhamento que os títulos deles causaram antes da leitura.
Escolho com cuidado cada um: o som das palavras, a ideia, a metáfora, a dobra contida no significado – e tudo o que ela esconde. No caso dos romances, “O frágil toque dos mutilados” foi inspirado num verso da poeta americana Sylvia Plath, e “A silenciosa inclinação das águas” num trecho de “As ondas”, da Virginia Woolf, em que ela cita a inclinação dos trigais quando o vento passa. “Corações ruidosos em queda livre” foi uma ideia trazida pelos títulos dos 3 contos que compõem o livro, formando assim uma unidade.
Luke: O meu primeiro contato com a sua escrita não foi com o seu romance de estreia “O Frágil Toque dos Mutilados”, mas sim com o seu livro de contos “Corações Ruidosos Em Queda Livre”, portanto, quero começar essa entrevista falando sobre ele.
Em apenas três contos você consegue transitar por três técnicas literárias diferentes, você vai do fluxo de consciência ao gênero epistolar, sempre com uma prosa poética e poder descritivo tão primorosos que fazem com que o leitor consiga de fato sentir a obra e não somente lê-la. Gostaria que você falasse um pouco sobre como surgiu a ideia de juntar essas técnicas diferentes em um livro e quais são as suas maiores influências para a sua escrita.
Alex Sens: Eu sempre escrevo contos. Não com uma frequência cartesiana, mas sempre que posso, quando uma ideia surge e ela tem o corpo do conto, eu paro o que estou fazendo e escrevo. “Corações ruidosos em queda livre” veio de uma necessidade inédita de criar um livro de três contos cujos títulos formassem o título da obra, mas as técnicas variadas não foram uma coisa pensada para ser assim, ela simplesmente aconteceu porque cada história pedia por isso.
Em “Corações ruidosos”, que conta a história de onze passageiros de um ônibus mais o motorista, eu não podia passear pelos personagens senão através do fluxo de consciência, o que deixa a narrativa mais desafiadora tanto para escritor quanto para o leitor. Foi um dos textos mais difíceis que já escrevi, embora um dos mais prazerosos. “Em queda” eu exploro uma narrativa no presente do indicativo porque vejo nesse tempo verbal uma infinidade de possibilidades de descrição e sensações, colocando o leitor para acompanhar cada cena como num filme, aumentando ou diminuindo sua tensão. Finalmente, em “Livre”, a escritora que redige cartas para vários destinatários não poderia escrever sua história de outra forma que não fosse a epistolar, porque cartas revelam muito a personalidade de quem as escreve. Falando de influências, penso que a tríade livro-música-cinema me ajuda sempre, mas sobretudo a música, instrumental, clássica, antes e durante qualquer processo criativo.
Luke: Em 2012 você ganhou o Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura na categoria Jovem Escritor pelo romance “O Frágil Toque Dos Mutilados”, esse ano você lançou a sequência do seu primeiro romance e revelou que há ainda outros livros a serem lançados nesse mesmo universo, tornando “O Frágil Toque Dos Mutilados” o início de uma trilogia de drama familiar. Eu já li trilogias de diversos gêneros, mas não me recordo de ter lido ou visto antes uma trilogia de drama familiar, de onde surgiu a ideia de expandir as histórias de Magnólia e sua família e formar uma trilogia dramática?
Alex Sens: Foi exatamente por sentir que os personagens de “O frágil toque dos mutilados” tinham muita história para contar que decidi optar pela trilogia. Eu estava escrevendo os últimos capítulos do romance quando percebi que havia mais sementes germinando ali e uma vasta e desafiadora possibilidade de criação. A ideia era lançar somente três livros, mas “A silenciosa inclinação das águas” acabou ficando muito longo e teve de ser dividido em dois tomos, o segundo a ser lançado em 2020 pela Autêntica Editora. Ou seja, será uma trilogia de quatro volumes, o que particularmente me agrada muito, assim como essa ideia de um drama familiar contado em muitos livros, porque a vida humana passa por muitas décadas, sofre por muita coisa, goza também de muita coisa, então por que não?
Luke: Eu sou bastante curioso com processo de escrita, sei que cada autor tem um processo diferente, uma mania louca na hora de escrever, ou alguma peculiaridade. Gostaria que você falasse um pouco sobre o seu processo de escrita e pesquisa na hora de escrever um livro.
Alex Sens: Meu processo costuma seguir um padrão: a ideia vem e eu vou me alimentando de tudo o que parece rodeá-la, como músicas, ideias, anotações; os personagens vão crescendo, cenas vão se somando, os membros vão tomando forma e o esqueleto do livro logo fica de pé. É na escrita efetiva, ainda que numa primeira versão, que acrescento os músculos, os órgãos, a carne, o sangue – no caso, o meu.
Luke: Os seus personagens são muito bem construídos e possuem diversas camadas, já faz mais de um mês que li o frágil e ainda me pego pensando em seus personagens e com uma vontade imensa de revisitá-los logo, vou acabar lendo a sequência ainda esse mês, você se vê de alguma forma em alguns desses personagens, há características das criaturas que se remetem ao criador?
Alex Sens: Sempre há um tanto do criador na criatura, para o bem ou para o mal, impossível fugir disso. E eu me vejo na maioria dos meus personagens, sim, gosto de brincar com essa ideia de me colocar numa crítica, num gesto, numa mania. Exatamente o que de cada personagem é ou não uma característica minha eu deixo para o leitor descobrir…
Luke: Eu já disse que sou curioso né? Você pode adiantar quais são os seus próximos projetos, teremos um novo lançamento já em 2020?
Alex Sens: Em 2020 será publicada a segunda parte de “A silenciosa inclinação das águas” e talvez algum outro, mas é surpresa, assim como o que tenho escrito agora…
Luke: Alex, muito obrigado mais uma vez por ter se disposto a responder minhas perguntas, foi um prazer e espero que tenha sido uma experiência divertida para você também! Para finalizar, gostaria que você indicasse 5 obras brasileiras que, na sua opinião, todos deveriam ler.
Alex Sens:
1 – Crônica da Casa Assassinada – Lúcio Cardoso
2 – Anatomia do Paraíso – Beatriz Bracher
3 – Fazer Silêncio – Mariana Ianelli
4 – Lavoura Arcaica – Raduan Nassar
5 – A obscena Senhora D. – Hilda Hilst
Espero que tenha gostado desse bate-papo, você pode conhecer mais sobre o trabalho do autor, ficar por dentro dos próximos lançamentos e novidades seguindo sua página no Instagram. Você pode adquirir as obras “O Frágil Toque dos Mutilados”, “A Silenciosa Inclinação das Águas” na Amazon e “Corações Ruidosos Em Queda Livre” na loja oficial da Editora Penalux ou com o próprio autor. Grande abraço e até o próximo café!
Muito boa a entrevista!!! Cada vez mais curioso pelo trabalho dele.
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Só posso te dizer uma coisa, mais uma vez, Rodrigo leia os livros desse homem!!!!
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Uau! Gostei muito da entrevista!
Eu já queria ler os livros porque você falou extremamente bem de todos, agora que pude conhecer mais um pouco do escritor não tenho dúvida de que vou comprar todos o mais breve possível. Fico imaginando o processo para elaborar os títulos, e que títulos!
Parabéns, Alex pelo trabalho e Luke pela entrevista ❤
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Eu fico besta com a criatividade que ele tem para criar títulos, só por eles já dá vontade de sair correndo para ler os livros, o conteúdo é inda melhor, te garanto! Abração Ana ❤
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Que baita entrevista! Fiquei bem curiosa para conhecer suas obras e te-las em mãos. Espero me apaixonar pelas historias assim como você Luke.
Beijão.
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Se apaixonar é inevitável!!! Beijão!
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Sou fã do entrevistador e do entrevistado. Sou suspeitíssima rs
que entrevista maravilhosa!!!
Eu estou com saudades dos personagens de O frágil toque.
Bjão
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Jeni, você acabou de me matar com esse comentário!
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