“Por muito tempo tentei me convencer de que te amava” é o trabalho mais recente do quadrinista, ilustrador e designer gráfico paulista Thiago Souto, responsável pelo quadrinho mais bonito que li no ano passado, o onírico e nostálgico “Labirinto”. Nesse novo trabalho, lançado pela Balão Editorial, Thiago deixa a fantasia de lado para falar sobre sua relação com a cidade de São Paulo.
Este é um trabalho bem diferente daquele pelo qual conheci a arte de Thiago Souto, enquanto “Labirinto” é uma história majoritariamente alicerçada na fantasia, este novo quadrinho é alicerçado em concreto, calor e reflexões que se intensificam após a ingestão de um brisadeiro. A trama é ambientada na Avenida Paulista, tida por muitos como o coração da cidade, justamente quando se iniciou o fechamento dela para trânsito exclusivo de pedestres e ciclistas aos domingos e feriados.
A narrativa é construída ao redor dos sentimentos conflitantes que o autor tem sobre a cidade e as várias cidades e realidades que habitam dentro dessa gigante de pedra, esses sentimentos são exemplificados no caminhar pela Avenida Paulista. Pode parecer um tanto estranho para você saber que, para o paulista, caminhar pela Avenida Paulista é algo além de um programa de final de semana, esta é uma experiência difícil de descrever, pois provoca uma sensação que transmite o sumo da essência da nossa cidade.
É nesse lugar que durante a semana é tomada por pessoas trajadas de roupas sociais, correndo para fechar negócios, chegar à tempo no trabalho e bater a meta do mês e no domingo é tido como um local de lazer, que as várias cidades e realidades contidas em São Paulo se reúnem, a diversidade, a cidade de todos os gêneros, cores, estilos, singularidades e classes caminham em um mesmo lugar se fundindo em uma só coisa. Para quem já teve essa experiência de caminhar pela Paulista aos domingos, vai notar personagens e grupos característicos desse rolê, os músicos, os palhaços, os vendedores de bebidas, miçangas, arte e os de experiências alucinógenas.
O conflito do artista quanto aos sentimentos que nutre sobre a cidade partem da visão de uma criança que cresceu nos anos 80 em um bairro periférico da cidade e se encantava pela ideia onírica que tinha do centro de São Paulo, ganhando novos contornos com o passar do tempo, onde é possível perceber que há sim muita beleza, mas há também um mar de contrastes, desigualdades, segregações e bolhas. Essas bolhas são muito bem retratadas no quadrinho e fica bem claro que a REUNIÃO de bolhas não significa necessariamente uma UNIÃO.
O traço do Thiago me agrada muito, nesse trabalho não há o uso de requadros e a paleta de cores é basicamente composta pelo preto e magenta, o traço mais leve e a falta de requadros, já mencionada, combinam muito com a narrativa do quadrinho, tornando a leitura fluída e imersiva. Eu sinceramente não poderia escolher uma outra obra para representar a cidade de São Paulo nessa segunda edição do Julho Nacional, pois “Por muito tempo tentei me convencer de que te amava” é uma carta aberta de um artista que, com toda a certeza, conseguiu exprimir o sentimento conflitante no coração de muitos paulistas em relação à cidade.
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Quantos cafés “Por muito tempo tentei me convencer de que te amava” merece?
Esse mês tá valendo por um ano de indicações 💜
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E olha que estamos apenas na metade desse mês lindo ❤
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Ahhh! Você é minha fonte principal de indicações de história em quadrinhos. Quase não leio, mas passo a conhecer mais desse mundo por aqui. Me pareceu ser um quadrinho muito delicado e eu que passei pela experiência da Paulista no fim de semana quero muito ler e ver as impressões do Thiago!
Beijo, Luke!
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Amei o fato de ser sua fonte principal de quadrinhos *-*
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