“O auto da maga Josefa“ é uma obra de literatura fantástica escrita pela autora Paola Siviero e lançada em 2018 pela Dame Blanche apenas em formato digital, a publicação foi vencedora do Prêmio Le Blanc e finalista do Prêmio Argos, ambos deste ano.

A trama é ambientada no agreste brasileiro, onde acompanhamos Toninho, um caçador que livra as terras do nordeste de criaturas sobrenaturais na companhia de um padre, até que esse padre interrompe a parceria quando surge a necessidade de livrar a paróquia de uma eminente infestação de gárgulas. Apesar de ter a caça ao sobrenatural como uma carreira que corre a família, Toninho não conhece tudo à respeito do ofício e recebe com receio a recente baixa em suas missões, tudo piora quando o Selo de Salomão parece não surtir efeito contra uma ameaça sobrenatural recorrente e poderosa que está assombrando a população.

Ciente de que não possui conhecimento ou prática o suficiente para vencer essa nova ameaça, com muita desconfiança, o caçador topa aceitar Josefa, uma misteriosa maga, como sua nova parceira, mesmo sabendo que magas são crias do próprio tinhoso. Muito mais conhecedora do mundo sobrenatural, Josefa tira o problema de letra e despacha a ameaça de volta para o inferno, é assim que consegue um acordo com o caçador, se mantendo parceira dele pelas próximas caçadas, ou melhor, permitindo que ele seja seu parceiro.

Josefa desperta a curiosidade de Toninho e também do leitor, é intrigante entender os motivos que levam uma pessoa com sua alma presumivelmente fadada ao inferno, afinal ela é cria do próprio tinhoso, à expurgar seres malignos e enviá-los de volta para o colo quente do sete peles. Esse mistério faz com que inicialmente Toninho trate com desconfiança as ações da sua mais nova parceira e o fato da maga se recusar a responder perguntas não facilita muito as coisas.

É enfrentando seres como o chupa-cabra, uma vampira sedenta por sangue, cachaça e forró, um coronel guardando um tesouro amaldiçoado, um calango da cauda verde cuspidor de fogo, um lobisomem e outras criaturas fantásticas, que a relação de Josefa e Toninho começa a ganhar mais firmeza, afinal, não dá para manter uma parceria no meio de uma sessão de exorcismo sem confiar no outro.

Conforme vão enfrentando as ameaças que aparecem no caminho, ou que Véia, a mula mágica de Toninho, consegue farejar, são dadas pistas do segredo de Josefa, mas eu te garanto que nada, absolutamente nada, vai te preparar para um final que a autora preparou, inesperado, incrível, divertido e que amarra a trama te entregando um suco bem geladinho com a essência da história!

Eu sou absolutamente apaixonado por autores que ambientam suas histórias no Brasil, se utilizam de elementos da nossa terra, não americanizam o nome dos personagens, imagine só Paul e Katy lutando contra criaturas sobrenaturais no agreste brasileiro, e ousam sair da zona de conforto das histórias de fantasia que vem sendo escritas no país, sempre tendo como principal fonte obras americanas, quando se há muitos elementos daqui para se inspirar.

A prosa da autora é sensacional, eu devorei o livro em dois dias, mas teria lido em um dia só caso tivesse mais tempo livre. Os personagens são extremamente carismáticos, o clima de aventura é envolvente e contagiante, as criaturas que aparecem no livro são ótimas, a autora descreve os cenários de forma que o leitor consegue se transportar para dentro do universo criado, os diálogos entre Josefa e Toninho são naturais e rendem momentos hilariantes e impagáveis, como quando a maga revela ser Pansexual, ou quando ela sugere que Toninho é corno quando precisa de um ingrediente para uma magia e o humor da autora não serve apenas para fazer o leitor rir, há certas doses de crítica social por trás das risadas. Ah, eu não poderia deixar de citar que quase gritei com a referência ao incrível “Lobo de Rua” da autora Jana P. Bianchi.