“As boas damas” é uma novela escrita pela autora, editora, tradutora e revisora Clara Madrigano. A autora já teve contos lançados pela Editora Draco e pela Revista Trasgo, também já participou da coletânea de ficção científica feminista “Universo Desconstruído” e recentemente publicou o conto “Dodge”, que já resenhei por aqui.
Na trama, Annabel Watson, filha do famoso doutor, escritor e parceiro de investigações de Sherlock Holmes, vive sob a tutoria de Holmes, que está prestes a se aposentar, porém, antes de conseguir descanso, ele acaba sendo surpreendido por uma nova e misteriosa cliente.
Lady Amelia Caplin é a tal cliente misteriosa, ela procura Holmes para entregar-lhe o caso sobre o assassinato de seu filho, porém, ela não quer que ele descobra exatamente quem o matou, essa informação já é conhecida. Diversos jornais já noticiaram que a responsabilidade pela morte do garoto é da própria Lady Amelia e ela não nega. O motivo pelo qual ela procurou Holmes é bem simples, ela quer que ele prove que ela matou e como matou, não seu filho, mas aquele que fingia o ser.
Um poço dos desejos. Uma criança indesejada. Uma mãe que deseja livrar-se dela. Um poço dos desejos.
Inicialmente, Holmes mostra-se um tanto quanto relutante em aceitar o caso, porém, uma tentativa de suicídio faz com que o detetive mude de ideia. Assim, Holmes e Annabel Watson partem para o castelo dos Caplin objetivando interrogar familiares e locais afim de solucionar um caso que parece um tanto quanto absurdo e despropositado.
Holmes não é o personagem central aqui, envelhecido e ranzinza, o detetive que anteriormente brilhou, começa a passar seu posto para a assistente, embora siga tendo uma visão machista e super protetora. Annabel se mostra não só interessada, como também conectada ao caso de uma forma que sequer ela sabe explicar, é essa conexão que faz com que ela acabe tomando a frente e conduzindo as investigações, fazendo buscas, questionando crianças e pessoas que poderiam ter tido contato com a vítima.
Quando descobre que o tal mistério diz muito sobre algo que aconteceu com ela mesma, Annabel não vê escolhas senão prosseguir, utilizando todo o conhecimento adquirido pelos anos com os quais conviveu com o maior detetive de todos os tempos, pra solucionar o mistério da cliente enquanto busca respostas sobre seu passado. Como se não bastasse, todos esses fatos estão envoltos em uma camada sobrenatural.
— Lady Amelia aparecia por aqui? — perguntei. — Umas poucas vezes — disse Lom. — Ela visitava o poço.
— Por quê? — Eu quis saber, franzindo o cenho. Pareceu-me coincidência demais. — Para jogar moedas — respondeu Lom. — Acho que desejando que o menino morresse.
Eu amo a escrita da Clara e a forma com a qual ela constrói o clima de suspense e mistério em suas obras, a escolha de mesclar uma história de investigação com elementos sobrenaturais me agradam muito. As criaturas que a autora escolheu para representar a ameaça sobrenatural do livro são muito interessantes e uma nova forma de representar esses seres sempre tidos como tão fofos, amáveis, mágicos e frágeis.
Eu não sei ao certo se a escolha de criaturas que são consideradas frágeis, mas que se mostram bem diferentes do senso comum, foi uma analogia ou não ao o fato das mulheres também serem consideradas, de forma extremamente equivocada e machista, mais frágeis, mas eu gostei bastante dessa metáfora. Creio estar certo, devido à forma com a qual o próprio Holmes trata Annabel em alguns momentos, censurando o fato dela ler romances por exemplo. Certo ou não, já passou da hora da sociedade parar de subestimar e inferiorizar o sexo feminino.
Ao final da novela há uma nota da autora explicando os motivos pelos quais ela decidiu escrever “As Boas Damas” e o motivo é bem simples: Uma mulher num mundo masculino: aí estava algo que valia a pena escrever.
“As Boas Damas” é uma novela muito bem escrita que revisita um personagem icônico das histórias policiais para falar sobre o poder feminino e o quando as mulheres sempre foram subestimadas em tramas policiais, investigativas, de mistério e suspense, um fato que precisa mudar e, que será transformado, por autoras incríveis como a Clara e muitas outras que vem fazendo um trabalho incrível na nossa literatura.
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Quantos cafés “As Boas Damas” merece?
Assim que possível lerei!!!
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