“Há uma chama do inferno no meu coração” é o mais recente lançamento do escritor de terror, suspense e literatura policial Victor F. Miranda. Durante o #JulhoNacional tive o meu primeiro contato com a escrita do autor por meio do conto “A mulher que dormia com demônios”, gostei bastante e decidi aproveitar o lançamento, que ocorreu justo durante o especial #MêsDoHorror, para ler mais uma história dele.
O novo conto é uma ótima oportunidade para conhecer a escrita do autor, pois a história é bem curta, pouco mais de 20 páginas e carrega algumas características das histórias dele, pelo que pude perceber até agora, como personagens femininas fortes e muita violência.
Mayra é uma ex militar que vê sua vida virar de cabeça para baixo quando seu parceiro é vitimado por uma doença. Constantemente julgada pela família do falecido, principalmente por não se adequar às crenças da família e arrastar um dos membros consigo para uma casa simples no interior, a moça sequer tem tempo para superar a perda mais recente.
Munido de uma arma e de toda a onipotência conferida pela prepotência de achar que a bíblia pode ser usada como escudo para qualquer ato vil em nome de um deus de amor seletivo, Casemiro ameaça Mayra e consegue a guarda do neto se utilizando das suas maiores características para isso, o egoísmo, o fanatismo e o dinheiro.
Sem o amor de sua vida e privada de contato com o filho, Mayra faz o que pode para encontrar o garoto em situações clandestinas e são nessas oportunidades que acaba descobrindo que o exemplo de família tradicional brasileira rica e cristã é mais problemático do que aparentava ser, Seu filho foi tirado dos seus braços para sofrer com privação de alimentos, assédio sexual e até mesmo negligência médica, afinal, a família crê que não há médico maior e melhor do que o “médico dos médicos”.
— Eu não quis me meter, Mayra, essa briga de vocês… — Você se meteu no dia que o seu marido apontou uma arma pra minha cara. No dia que falou no ouvido do meu filho que eu não sei o que faço porque me perdi nas drogas. — Eu sei, desculpa. O que eu posso fazer? Eu dependo do Casemiro.
Coisas terríveis acontecem com Mayra e ela acaba caindo em armadilhas orquestradas por Casemiro e sua família, até que ela tem a oportunidade de extravasar todo o mal dispensado à ela, ao marido e ao filho.
Apesar da narrativa curta, Victor captura muito bem características inerentes à religiosidade cega e fanática. A esposa submissa que não pode se rebelar contra o marido que administra a gaiola com dinheiro e regras bíblicas, os filhos desajustados que mantém segredos terríveis escondidos sob uma fina camada de fé e moralidade falsa e principalmente a seletividade quanto aos preceitos da religião, optando sempre pelos versículos mais convenientes, jogando o amor e a empatia no lixo e guardando o ódio, preconceito e ambição no coração.
Violenta, a conclusão do conto é extremamente satisfatória e recompensadora para o leitor que acompanha o sofrimento de Mayra, eu li o conto numa manhã de domingo e posso dizer que não há nada mais satisfatório que ver fanáticos religiosos recebendo exatamente aquilo que merecem, pelas mãos de uma mulher forte que foi tão prejudicada pela fé cega de uma família extremamente repulsiva.
— Você diz isso porque não tem Deus no coração. Nunca teve. Ele precisa sim se aproximar de Deus. Deve ser por essa falta de fé que ainda não apareceu um doador. Senti vontade de quebrar a cara de Jandira com um livro do Estatuto do Idoso. Com uma Bíblia.
“Há uma chama do inferno no meu coração” é um conto curto que expõe uma parcela da sociedade fanático religiosa que faz toda a lição de casa de forma errada contando com o poder do dinheiro e de argumentos pautados num livro no qual se baseiam seletivamente para julgar, oprimir e invalidar a vida de pessoas que com toda a certeza valem bem mais que qualquer demagogo espalhando palavras de ódio enquanto carrega uma bíblia debaixo do braço.
Você pode ler o conto em formato digital por apenas R$1,99 ou ler gratuitamente caso seja assinante do Kindle Unlimited.
Quantos cafés “Há uma chama do inferno no meu coração” merece?
Já adorei os nomes dos contos dele!! O terror ambientado no Brasil sempre me pareceu mais assustador. Parece que os monstros estão na próxima esquina, me esperando… E se parar para pensar, monstros como o Casemiro realmente estão!!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Giulia, você disse tudo, infelizmente estão em basicamente todas as esquinas 😕
CurtirCurtir
Fanático religioso se fudendo? QUERO!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Impossível uma chamada melhor do que essa pra me convencer a ler alguma coisa
CurtirCurtir