“Histórias (mais ou menos) assustadoras” é uma coletânea lançada pela Agência Magh no finalzinho do mês passado. Com capa de Johnatan Marques, a coletânea trás contos de Anna Martino, Delson Neto, Fernanda Castro, Johnatan Marques, Karen Alvares, Lady Sybylla, Roberto de Sousa Causo e Roberto Fideli tendo entre elas em comum temas relacionados ao gênero do terror.
Bem, vocês sabem que eu amo o gênero, inclusive mês passado fiz um especial totalmente dedicado ao terror, então, quando vi que a Magh iria lançar uma coletânea com histórias mais ou menos assustadoras com autores que conheço e nomes novos, foi irresistível pegar o e-book e passar ele na frente de todas as outras leituras.
Dos nomes selecionados para a coletânea, conhecia apenas o Johnatan Marques de “Se tudo der errado amanhã” e o Delson Neto do super comentado, que ainda não li, “Diário Simulado”, o que me deixou ainda mais animado, pois adoro conhecer autores novos e contos são uma ótima porta de entrada para conhecer novas escritas. Como a coletânea é formada por apenas oito histórias curtas, tentarei comentar aqui sobre cada uma delas evitando dar informações demais.
“Dez bolas de sorvete por um real” é o conto escrito por Fernanda Castro e abre a coletânea de forma excelente, brincando com os clichês de filmes e histórias de terror. Na trama, acompanhamos Dona Rita, uma senhora religiosa obcecada por “serial quíleres”. No aniversário de desaparecimento de seu marido, que simplesmente sumiu, abandonando-a, apesar de nunca ter demonstrado ser um macho escroto, Dona Rita recebe uma visita de um rapaz que trabalha vendendo sorvetes e, apesar de parecer amistoso, ela sabe muito bem que vendedor de sorvete seria um ótimo disfarce para um “serial quíler”. Eu me diverti demais lendo esse conto, Dona Rita e sua obsessão por serial killers me fez gargalhar em diversas cenas, como a que ela esconde livros com histórias perigosas na capa de sua bíblia para não chocar as irmãs da congregação, mas o que me ganhou de verdade foi o plot twist que acontece bem no finalzinho do conto, leia!
“Inquérito Nº 2017505: Papa-figo” é o conto do Johnatan Marques, o que por si só já é um sinônimo de representatividade, além disso, o autor faz menções à outros personagens de outras de suas histórias e é claro, enche as páginas com muita magia. Na trama, Davi é encarregado de eliminar um Papa-figo que sequestrou uma criança em um condomínio em São Paulo, tarefa que seria normal, senão fosse o fato de que Papa-figos sempre aterrorizaram o imaginário do personagem desde sua infância. O conto é divertido, há uma cena onde crianças esbanjam o mais puro deboche, o autor escolhe como elemento de terror um personagem do folclore nacional e faz com que seu Davi tenha que enfrentar seus próprios medos para livrar um condomínio de um Papa-figo o mais depressa possível, para poder voltar logo para o peito peludo do mozão, afinal, prioridades são prioridades.
“Fogo no Céu” é o conto de Lady Sybylla, nele acompanhamos Carol, uma repórter cética que não aguenta mais ser encarregada de reportágens desimportantes, tudo piora quando ela se vê obrigada a fazer uma matéria sobre possíveis aparições extra-terrestres. Munida de toda a sua falta de crença e movida pela força do ódio, Carol se encaminha para realizar seu trabalho da melhor forma possível e acaba levando um pedala Robinho do sobrenatural. As aparições de objetos voadores não identificados se mostra o menor dos problemas quando corpos incinerados começam a ser encontrados na mata, seria o caso de negligência de trabalhadores que queimam o mato da região ou assassinos intergaláticos? Você pode pensar em inúmeras possibilidades, mas nunca vai descobrir o que a autora preparou para o final desse conto que me fez soltar um sonoro WOOOOOOW!
“A casa bem-assombrada” é o conto de Roberto Fideli, na trama acompanhamos o drama de uma garota autista que se comunica com fantasmas. Quando precisa deixar a casa dos pais para morar em uma república para dar continuidade aos estudos, ela descobre que além de suas colegas de república, uma fantasma reside ali e, na tentativa de descobrir mais sobre ela para libertá-la daquele lugar, vai acabar se libertando também de algumas de suas amarras. O conto apresenta uma atmosfera mais introspectiva e até mesmo emocional, esse foi o primeiro trabalho do autor e eu, sinceramente, quero ler mais histórias dele, afinal, eu nunca apostaria que uma história sobre fantasmas me deixaria com o coração quentinho.
“Um dia a eternidade acaba” é o conto da Anna Martino, na trama Juliana, uma brasileira balzaquiana morando na Itália, consegue um emprego em um restaurante com um dono bem pecúliar. Ele é muito sensível à luz, por isso nunca sai durante o dia e mantém suas cortinas sempre cerradas, além disso, não suporta sequer o cheiro de alho na comida. Juliana passa a conhecer melhor seu patrão quando uma gripe muito forte acomete sua saúde e ele a convida para dormir em um quarto vago enquanto se restabelece, afinal, a pocilga que consegue alugar com seu salário não parece ser um ambiente muito saudável. Encantada pelos livros e pelo ambiente que serve de lar para seu chefe, a moça começa a se abrir e conta a história de sua avó, uma mulher que diz ter mantido um caso com um vampiro. Seu chefe, misteriosamente parece acreditar piamente na história de sua avó, cabe ao leitor descobrir os motivos dele. Eu fiquei um pouco tenso durante a leitura, imaginando o que ele faria com uma jovem tão debilitada, aos poucos, conforme a história avança, a autora muda totalmente o que conhecemos de um personagem tão clássico das histórias de terror.
“1999” é o conto do Delson Neto e eu estava vem ansioso para lê-lo, pois o autor já havia dito que uma das inspirações para o conto foi o filme “A Bruxa de Blair”. Na trama, um grupo de estudantes sai em busca de uma misteriosa bruxa na floresta, bruxa conhecida por sequestrar crianças, eles até são alertados por um local que é um erro cruzar o rio em busca da bruxa portando objetos tecnológicos, mas jovens costumam ser burros e não dar ouvidos aos mais velhos e, assim como na vida real, acabam aqui sofrendo as consequências por se julgarem acima de qualquer perigo. Eu amei o clima do conto, a ambientação e as surpresas quanto à bruxa, que é uma bruxa bem diferente, mesmo assim me vi torcendo pela bruxa e tenho certeza que ela assiste Supernanny.
“Flora” de Karen Alvares, é um conto sobre invasão alienígena, porém, de uma forma que eu nunca vi antes. É muito difícil falar sobre essa história sem dar detalhes reveladores. O que posso dizer é que o mundo como conhecemos acabou e pessoas com muito dinheiro conseguiram ser realocadas em um outro lugar, lugar no qual não demoraram muito para começar a degradação que levou seu planeta natal à ruína. É louco como essa história se transforma, no começo eu achava que era uma coisa, BOOOOM, era outra, depois um outro BOOM com direito à uma vingança deliciosa que uma hora vai acabar acontecendo mesmo.
“Escultura negra em noite escura” encerra a coletânea com um conto de Roberto de Sousa Causo. Na trama, uma médica encontra uma estranha escultura à beira da estrada, quando retorna de alguns atendimentos domiciliares, nessa escultura está preso um fantasma de um homem amaldiçoado, que clama por ter sua maldição quebrada por ela, porém, ele não contava que para quebrar a maldição ela quisesse saber um pouco mais sobre sua história. Esse conto é uma prova de que homem é uma raça que não dá pra acreditar ou defender, mesmo depois de morto.
“Histórias (mais ou menos) assustadoras” foi uma forma bem divertida de conhecer a escrita desses novos autores, o livro não me assustou, mas me divertiu muito e me surpreendeu, pois os contos fogem de clichês e alguns possuem temas bem brasileiros, se você me pedir uma dica de leitura para sair de uma ressaca literária ou simplesmente para se divertir, essa com toda a certeza será uma das minhas dicas.
Quantos cafés “Histórias (mais ou menos) assustadoras” merece?
Já está no meu Kindle esperando uma brecha na fila…
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Amigo, intercale com uma leitura mais pesada ou leia quando estiver de ressaca kkkkk
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