CINEMA: PARASITA

“Parasita” é um filme que mescla drama, comédia e suspense para retratar a desigualdade social, o longa dirigido por Bong Joon Ho venceu o prêmio Palma de Ouro desse ano e, com toda a certeza, ainda vencerá muitos outros assim que a temporada de premiações começarem, sim, eu já começo esse texto deixando claro o quanto gostei desse filme e o quanto estou torcendo para que ele leve muitos prêmios nas premiações de cinema.

Na trama, o jovem Kim Ki-taek (Kang-ho Song) recebe uma proposta de seu melhor amigo, que está se mudando de país para estudar, para lecionar para uma aluna em especial, a jovem Park Da-hye (Ju-so Jung). Com a família toda desempregada, vivendo de trabalhos pontuais e sub-empregos, Kim nem pensa duas vezes e aceita a proposta.

Ao chegar à residência dos Park, Kim se depara com uma mansão e constata a discrepância entre o porão onde vive com sua família e a obra arquitetônica que abriga a abastada família Park. Decidido à tirar a família das condições na qual se encontram, com uma série de golpes, Kim começa a infiltrar membros de sua família dentro da casa dos Park.

Na medida que o jovem Kim consegue ir infiltrando os membros da sua família dentro da residência dos Park, eles vão vivenciando as diferenças gritantes de suas realidades, construindo uma narrativa de farsa para tentar fugir da realidade triste que os consome, até que um incidente ameaça o teatro da família.

De todos os filmes que assisti esse ano, “Parasita” foi o que mais me impressionou. É absurda a capacidade da direção de transitar entre o drama, a comédia,  suspense e até mesmo o gore de maneira tão natural e orgânica, o trabalho é tão bem feito que fica até difícil classificar o longa em um gênero só.

Além do trabalho de direção impecável, o longa possui uma fotografia e trilha sonora que cumprem muito bem o papel de evidenciar as disparidades das duas famílias, seja pela utilização de cores mais escuras na casa dos Kim e mais claras na casa dos Park, até as sutis diferenças de som desses dois ambientes. As atuações também estão absurdas, todos os atores e atrizes convencem muito bem nas peles dos personagens, há um trabalho de postura, voz e até mesmo de expressão facial no núcleo da família Kim, que é simplesmente impressionante.

Como se os excelentes aspectos técnicos não fossem o suficiente, o longa é daqueles que sai do cinema com o telespectador, gerando discussões e reflexões que ficam na cabeça martelando por semanas. A abordagem vai muito além de uma demonstração das diferentes realidades de duas classes sociais distintas, ela faz com que você veja, entenda e questione tudo e todos e possui a decisão certeira de não tratar com vilanismo uma classe ou outra, todos os personagens, ações e questionamentos possuem um espectro de moralidade amplo.

Seria o dinheiro a solução para todos os problemas? É correto enganar alguém para ter a oportunidade de ascender socialmente ou escapar das mazelas sociais? Cercar-se de muros, grades e vidros é suficiente para impedir que a realidade bata na sua porta e te mostre que o mundo é muito maior do que a sua bolha? Até onde uma pessoa pode ir para conseguir aquilo que quer, para proteger sua família, para vencer a fome, a sede e o frio?

“Parasita” é sobre tudo isso e mais um pouco, um trabalho excelente que merece ser discutido e premiado pela relevância dos assuntos que aborda e pela forma com a qual decidiu abordar esses assuntos. Uma obra contundente, que vai te fazer rir e se julgar pelo riso, refletir e pensar além da sua bolha social, sendo você da mais reluzente ou da mais opaca.

Quantos cafés “Parasita” merece?

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