‘O Pacifista’ é o sétimo romance lançado pelo autor irlandês John Boyne, a obra foi lançada no país pela Companhia das Letras no final de 2012 com tradução de Luiz Antônio de Araújo, e mais uma vez entrega ao leitor elementos intrínsecos às obras do autor, uma ótima contextualização e pesquisa histórica e doses cavalares de dor, para os personagens e para os leitores que acompanham suas histórias.
Na trama, ambientada no ano de 1919, Tristan Sadler , um jovem de vinte e um anos, decide embarcar em um trem de Londres para Norwich. O motivo da viagem é simples apenas na superfície, pois em seu cerne, esconde um grande amor, dor e arrependimentos.
“Duas vezes apaixonado e duas vezes destruído por isso.”
Tristan está em Norwich para se encontrar com Marian Bancroft, irmã de William Bancroft, um soldado que serviu o exército com ele durante a Grande Guerra, entregar-lhe cartas que seu irmão deixou e tentar mostrar o quanto todas as pessoas que maldizem Will estão erradas.
Marian sofre muito pela reputação que seu irmão adquiriu após a guerra e vê em Tristan a oportunidade de descobrir o que realmente aconteceu com seu irmão e também, provar seu ponto para seus pais, que também sofrem com a reputação conferida ao filho.
Então, o leitor passa a acompanhar a história por duas linhas temporais, o ano de 1919 e o encontro de Tristan e Marian e o ano de 1916, quando Tristan e Will treinaram juntos em Aldershot e serviram seu país na Grande Guerra. Assim, vamos descobrindo os fatos na medida que Marian também vai descobrindo detalhes que seu irmão não mencionava nas imensas e constantes cartas que lhe escrevia durante o período.
“Ele disse que você tinha morrido. Pronto. Contei. Disse que dois dias depois que vocês partiram de Aldershot, só algumas horas depois de chegarem à trincheira, você foi atingido por um franco-atirador. Acrescentou que aconteceu muito depressa e você não sofreu.”
A relação de Will e Tristan é intensa, tanto pelo ambiente no qual surgiu, quanto pelo possível destino que os soldados teriam durante a Guerra. No campo de treinamento de Aldershot surge uma grande amizade, que vai aos poucos se tornando outra coisa, um sentimento perigoso para a época e para o lugar onde estavam, conferindo à relação uma dor proporcional ao afeto.
Assim como a guerra, a relação de Will e Tristan é extremamente complexa, cheia de reviravoltas e bombas ocultadas na superfície. Tristan acha que se conhece bem e se aceita como um homem homossexual, já Will é uma pessoa bem mais complexa em todos os sentidos, o que acaba machucando Tristan, contudo, há momentos nos quais Will é o único bálsamo possível. Como se a confusão de sentimentos não fosse suficiente, ambos acabam sendo transformados pela realidade da guerra. Assim, questões políticas, filosóficas e éticas surgem como ingredientes para tornar toda a relação ainda mais complexa.
Mais uma vez, John Boyne nos entrega um romance histórico muito bem ambientado e contextualizado, é possível imaginar os sofrimentos que jovens enviados para guerras são obrigados à enfrentar em nome de conceitos, linhas imaginárias e filosofias criadas pelo homem. Conceitos, linhas imaginárias e filosofias que custam membros, corações, a vida de quem vai e a vida de quem fica.
‘O Pacifista’ é um livro pesado, de carga emocional complexa, personagens bem construídos, verossímeis e cheios de camadas, principalmente Will, que vai se transformando na medida que a Guerra avança, cometendo atos que me fez detestá-lo e, outros que me fez compreender seus motivos, Tristan também muda e é obrigado à conviver com o peso de suas decisões, silêncio e falta de atitude até o último dia de sua vida. Este não é um livro fácil, ouso dizer que é a obra mais triste do autor que li até o momento, portanto, tenha isso em mente antes de embarcar nessa guerra interna emocional, filosófica e ética que John Boyne criou.
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Quantos cafés ‘O Pacifista’ merece?
Ainda estou traumatizado por esse livro. John Boyne é sádico com seus leitores 😞
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Sádico demais!!
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