LIVRO: A RIDÍCULA IDEIA DE NUNCA MAIS TE VER – ROSA MONTERO

“A ridícula ideia de nunca mais te ver” é uma obra da jornalista e escritora espanhola Rosa Montero que entrelaça a biografia de Marie Curie com sua própria biografia. Lançado ano passado pela editora Todavia com tradução de Mariana Sanchez, o livro reflete sobre obstinação, luto e suas consequências.

“A verdadeira dor é indizível. Se você consegue fala a respeito das suas angústias, está com sorte: significa que não é nada tão importante. Porque quando a dor cai sobre você sem paliativos, a primeira coisa que ela lhe arranca é a #palavra.”

Quando Rosa Montero leu o impressionante diário que Marie Curie escreveu após a morte de seu marido, ela sentiu que a história dessa mulher fascinante guardava uma triste sintonia a sua própria: Pablo Lizcano, seu companheiro durante 21 anos, morrera havia pouco depois de enfrentar um câncer. As consequências dessa perda geraram “A ridícula ideia de nunca mais te ver”, um livro vertiginoso e tocante a respeito da morte, mas sobretudo dos laços que nos unem ao extremo da vida.

Em meio a um bloqueio criativo, Rosa recebeu de uma amiga o diário de Marie Curie e as similaridades da vida de Marie com a sua própria acabaram por tirar Rosa desse bloqueio. Assim, a autora fez um extenso trabalho de pesquisa sobre a vida de Marie, uma cientista e física polonesa naturalizada francesa, que conduziu pesquisas pioneiras no ramo da radioatividade.

Marie foi a primeira mulher ser laureada com um Prêmio Nobel e a primeira e única mulher a ganhar o prêmio duas vezes, além de também ter sido a primeira mulher a ser admitida como professora na Universidade de Paris, ela também guarda a marca de ter sido a primeira mulher sepultada por méritos próprios no Panteão de Paris, um monumento encomendado em 1764 pelo monarca Luís XV, onde hoje, em sua cripta, setenta célebres personagens a história francesa repousam.

Mas o foco de Rosa nessa obra não é dissertar sobre a lenda Marie Curie. Sem deixar de dissertar sobre suas conquistas e pioneirismo, a autora opta pelo lado humano dessa mulher extraordinária. Tendo decidido sobre como abordaria a vida da cientista e física em sua obra, durante sua pesquisa Rosa conseguiu identificar diversos aspectos de suas vidas que se entrelaçavam, assim, sua biografia sobre Marie Curie também é uma autobiografia.

Marie Curie e Rosa Montero

Com a necessidade de ficarmos em casa, devido a pandemia do Covid-19, meus amigos do #PactoLiterário decidiram voltar a realizar leituras coletivas e essa foi a obra sorteada para leitura. Eu não conhecia a obra, nunca havia lido nada da autora e também não conhecia a história de Marie Curie e me vi fascinado por essa mulher extraordinária, pelo quanto ela lutou por seus objetivos, a garra que colocava em seu trabalho e a resiliência feminina de encarar o machismo de frente sem titubear, mesmo quando era diminuída ou invalidada pelo simples fato de ser mulher, mas o que me pegou de jeito durante a leitura foi quando a autora abordava a morte e o luto. Todas as reflexões sobre perder alguém que se ama me emocionaram e me fizeram refletir sobre uma perda recente que tive e que dói sem previsão de amenizar, porém a abordagem não tendeu ao drama, os sentimentos são expostos de forma crua e sincera.

A obra fala sobre o quanto devemos aproveitar a vida ao máximo, pois por mais que possa parecer clichê, a verdade é que nunca sabemos se esse momento, esse dia, será o último de nossas vidas. Há uma passagem bem clara nesse sentido, onde descobrimos que Marie se arrepende das últimas palavras que direcionou ao seu amado, se arrepende de não ter lhe endereçado palavras de afeto ao invés de palavras duras.

O luto nos faz refletir sobre diversas coisas, para alguns ele pode ser o fim, para outros um recomeço. Para mim, o luto é um espaço de vazio suspenso no tempo onde você precisa procurar entender o que fazer com todo o sentimento, todo o amor, afeto, lembranças e carinho que eram reservados a alguém que já não está aqui, onde depositar tudo isso? O que fazer com tudo isso? Não há respostas prontas na vida de Marie, ou na vida de Rosa, na minha ou na sua, todos nós precisamos encarar esses momentos afim de descobri como superar, como amainar a dor da perda que é como paredes de ferro quente, que ao se deslocar pela casa você acaba encostando e se ferindo em momentos inesperados.

Apesar da obra refletir aspectos interessantes sobre o luto, ele não é essencialmente um livro sobre o luto, ele é um livro sobre muitas coisas, ele reflete sobre o machismo e tem um em seu texto um cunho feminista latente, reflete sobre a época, a sociedade e até mesmo as utilizações estapafúrdias do radio.

A narrativa me incomodou em diversos momentos por haver um excesso de divagações, algumas delas são interessantes e complementares à história que está sendo contada, mas muitas delas soam um tanto quanto desnecessárias e forçam conexões entre Marie e Rosa. Esses momentos de divagação minam o poder emocional que a obra poderia ter e distanciam o leitor de certa forma, isso ocorre no meio do livro, felizmente recupera-se o ritmo e a coesão mais para o final. Dessa forma, é complicado vender esse livro como um livro sobre o luto, pois ele não é bem isso, também é complicado vender esse livro como uma biografia de Marie Curie, pois ele não é só isso…

“A ridícula ideia de nunca mais te ver” é um livro que diz muito sobre os sacrifícios que uma mulher precisou fazer para ser reconhecida e respeitada em um meio e sociedade extremamente machistas, a descoberta da radioatividade custou tudo para Marie e sua família. Também é um livro que reflete sobre a dor da perda em seus diversos estágios, desde o descobrimento da perda, passando pelas peças que a nossa mente nos prega, fazendo com que enxerguemos a pessoa na rua, em outras faces, desavisados e despreparados, para imediatamente revivermos a dor e finalmente aprender a lidar com um sentimento que jamais vai embora, pelo menos até que chegue também o seu momento de partir. Como eu comentei na discussão sobre a obra com os meus amigos do #PactoLiterário, essa obra é uma obra feita de momentos e infelizmente, nem todos esses momentos são bons.

Gostou das minhas impressões e quer ler “A ridícula ideia de nunca mais te ver”? Considere adquirir a obra pelo link do blog na Amazon.

Quantos cafés “A ridícula ideia de nunca mais te ver” merece?

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