“O fio do vento” é a mais recente história em quadrinhos do ilustrador e quadrinista Camilo Solano lançado pela editora Veneta em 2019. Quem acompanha o blog sabe que eu amo o trabalho do Camilo e já falei aqui sobre seus quadrinhos anteriores como “Desengano”, “Solzinho”, “Badida” e “Semilunar”.
Na época do lançamento do quadrinho, o Camilo contou que queria contar uma história sobre assobio e também uma história que caminhasse de acordo com o vento, dessa forma ele criou uma narrativa que se interrompe, avança, retrocede e surpreende o leitor e os personagens.
Diferente de seus trabalhos anteriores, não há exatamente um personagem principal em “O fio do vento”, o mais próximo de um personagem principal que temos aqui é Lábios de Mel, mas ainda assim, ele não cumpre exatamente esse papel.
Iniciamos a história conhecendo o locutor da Rádio Sololate, que planeja transmitir a locução da esquadrilha da fumaça, quando seu amigo e parceiro de banda chega e juntos começam a recordar histórias do passado e discutir a peculiaridade de uma transmissão via rádio de um evento que envolve apenas aviões fazendo rastros de fumaça no céu.
Depois dessa história, outras são contadas e elas acabam se entrelaçando, na maioria das vezes tendo Lábios de Mel como fator comum. Lábios de Mel é um jovem que nasceu no interior e foi morar na capital em busca de uma vida melhor, ele ganhou essa alcunha por assobiar muito bem, seu pai está prestes a fazer uma cirurgia e sente falta de ter o filho por perto em um momento que lhe causa medo.
A história do quadrinho em si é simples, a beleza da obra, além do traço, é na forma com que o quadrinista brinca com a narrativa. Há uma constante quebra de expectativa na história, quando achamos que ela vai enveredar por um caminho, ela toma um rumo completamente diferente e surpreendente, eu me peguei gargalhando de rir com a história principal do Lábios de Mel, que decide investigar uma cena de um cachorrinho preso que viu ao fundo de um filme pornô, gente, é sério…é hilário demais!
Quando eu finalizei a leitura me peguei pensando sobre o que o Camilo queria falar além da ideia inicial de escrever uma história que fosse carregada pelo vento, eu não sei se eu acertei, mas em “o fio do vento” consegui notar pessoas tentando se agarrar à pequenas chances de escapar de uma realidade que lhe causa medo, angústia, desesperança ou melancolia.
Eu vi isso na figura do porteiro do condomínio que recomenda ao Lábios de Mel algumas soluções que funcionaram para ele e que poderiam também surtir um efeito positivo na vida do assobiador.
Também vislumbrei isso locutor que tenta se criar novos conteúdos para a sua rádio para amenizar sua síndrome do impostor, nas tentativas de um artista de ser reconhecido mesmo tendo que se utilizar de meios estranhos para ver sua arte sendo exposta, ou ainda no papel do pai de Lábios de Mel que nas iminências e após concluir uma cirurgia decide sair para investigar uma história que talvez tenha ficado na sua cabeça e causado alguns efeitos colaterais psicológicos, ou talvez seja uma muleta para lidar com a falta que o filho faz.
“o fio do vento” é um quadrinho que evidencia o quão Camilo Solano é talentoso em usar sua sensibilidade para gerar arte. Com um traço único e automaticamente identificável, o quadrinista conseguiu mais uma vez me surpreender, fazer rir e emocionar ao mesmo tempo com seu traço, sua narrativa levada pelo vento e um coração que carrega atributos que só uma pessoa que nasceu no interior e foi atrás de seus sonhos consegue ter.
Gostou das minhas impressões sobre o quadrinho? “O fio do vento” já está disponível para compra na Amazon, não deixe de conferir minhas impressões sobre outros trabalhos do Camilo, como “Desengano”, “Semilunar” e “Badida”.
Quantos cafés “O fio do vento” merece?
Pessoas tentando uma fuga da realidade. Tudo que precisamos agora.
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