“A segunda morte de Suellen Rocha” é um thriller escrito pela autora Cláudia Lemes lançado este ano pela editora AVEC, inicialmente apenas em formato digital em virtude da pandemia, e no momento na reta final da pré-venda da edição física.
Este é o meu primeiro contato com um romance da autora, anteriormente havia lido apenas seu conto na antologia “Mulheres Vs. Monstros”, porém Cláudia Lemes já possui diversas histórias publicadas, a duologia “Eu Vejo Kate” (2019), “Inferno no Ártico” (2017), “Um Martíni com o Diabo” (2016), dentre outros trabalhos espalhados em coletâneas como o mais recente lançamento da Darkside Books “Antologia Dark” (2020).
No ano de 1996, as adolescentes e melhores amigas Mariana, Dafne, Cacau e Suellen cometeram um crime terrível que marcou suas vidas para sempre. Desde então, após a promessa de nunca revelar o que aconteceu naquela floresta na cidadezinha de Jepiri e os fatos que antecederam o crime, essa amizade se dissolve aos poucos, ao ponto de tornar-se inimizade em alguns casos.
Vinte e um anos depois, as amigas conhecidas como flores na época que não se desgrudavam, voltam a se encontrar em uma situação terrível, Suellen é encontrada sem vida dentro de sua própria casa, assassinada de forma terrivelmente grotesca por alguém que fez questão de deixar um recado escrito na parede com seu sangue para as amigas da vítima: ASSASSINAS!
Transformadas pelos acontecimentos do passado e pela passagem do tempo, Cacau e Mariana, que nunca deixaram sua cidade natal, recebem Dafne, que se mudou para São Paulo, nessa reunião triste que sequer chega a acontecer de fato, pois as mágoas causadas pelo silêncio e distanciamento dessas mulheres provam-se de início mais profundas do que a amizade que tinham anos atrás.
Impedidas de se despedir da amiga pela última vez, as mulheres se agitam com a informação da palavra escrita com sangue na cena do crime. Teria sido Suellen apenas o começo? Aquilo teria sido uma ameaça à vida das outras flores? Quem poderia ter descoberto o segredo delas e como?
Gustavo, o delegado de polícia da cidade de Jepiri e marido de Mariana, juntamente com o inspetor Peralta, começam a investigar a morte de Suellen, investigação que leva à vários becos sem saída por conta de muros construídos pelas amigas para esconder segredos. É Reno, amigo de infância das flores e atualmente repórter da cidadezinha, que se cansa de esperar e decide investigar por conta própria, jurando ao amigo e irmão de Suellen que irá encontrar seu assassino custe o que custar.
Enquanto essas investigações acontecem, vamos conhecendo essas mulheres entre capítulos que acontecem no passado e no presente. Dessa forma, a autora permite que o leitor acompanhe as transformações nas vidas dessas personagens e as inúmeras mortes que as mulheres precisam superar durante a vida para conseguir simplesmente seguir sobrevivendo.
Resiliência, filho da puta.
Em “A Segunda Morte de Suellen Rocha”, Cláudia Lemes consegue entreter o leitor na mesma medida que faz com que ele reflita sobre os diversos e fortes assuntos abordados na obra. É necessário dizer que a obra toca em assuntos pesados que podem funcionar como gatilho para pessoas sensíveis à eles, assuntos como estupro, violência doméstica e mutilação são retratados de forma bem realista, abordando não somente aspectos físicos, como também e principalmente, aspectos psicológicos das vítimas e também dos agressores, a autora nos oferece uma visão completa dos assuntos que aborda, indo desde a raiz do problema, passando pelos espectros do problema e fazendo com que o leitor entenda que por mais que os assuntos abordados sejam sim de conhecimento de muitos, eles continuam sendo conhecidos apenas em suas superfícies.
A sociedade machista que sempre encontra uma forma de culpabilizar a vítima, o fanatismo religioso que cega e destrói, pessoas que se utilizam da fé para manipular pessoas vulneráveis, a corrupção que coloca a vida de pessoas em situação de vulnerabilidade em risco, os atos políticos de bondade que escondem estratégias intrínsecas à ganância e ao egocentrismo, o preconceito e a violência que nos mata e nos transforma em pessoas com uma couraça mais resistente à cada dia, Cláudia Lemes trata de tudo isso em um thriller muito bem escrito que me fez desejar ler absolutamente tudo que ela já escreveu e escreverá daqui pra frente.
É muito comum o leitor se perder quando lê uma obra com muitos personagens e vários pontos de vista e isso não acontece aqui, a autora tem uma capacidade incrível de construir personagens, todos eles possuem características muito bem definidas e Lemes se prova muito boa em conseguir diferenciar as vozes de seus personagens, há indicações do nome do personagem quando estamos acompanhando a história pelo ponto de vista dele, mas ela é tão boa em construí-los que caso não houvessem essas indicações, não fariam falta.
“A Segunda Morte de Suellen Rocha” foi sem dúvida uma das minhas melhores leituras desse ano até o momento. Enquanto entretém, Cláudia Lemes faz com que os seus leitores reflitam sobre temas extremamente delicados e lhe propiciam por algumas horas a experiência de sentir na pele um percentual daquilo que as mulheres sentem, eu duvido muito que aqueles que culpabilizam a vítima e violentam e violam de forma física, psicológica e social conseguiriam passar por todas essas mortes, anulações e degradações e no fim do dia se manter de pé, seguir em frente, mesmo sabendo que qualquer deslize, fala ou ato, silêncio, em qualquer esquina ou no cômodo ao lado, todas essas mortes podem lhe testar de novo e de novo.
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Quantos cafés “A Segunda Morte de Suellen Rocha” merece?
Adorei a resenha e a imagem do post ficou incrível
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