HQ: HEARTSTOPPER – ALICE OSEMAN

Hoje eu decidi trazer um post um pouco diferente para você, não é uma resenha como de costume, e sim um post de indicação dos quadrinhos “Heartstopper” da autora, ilustradora e quadrinista britânica Alice Oseman.

“Heartstopper” é uma série de graphic novels que foi inicialmente concebida como uma webcomic, mas devido ao seu grande sucesso, garantiu para a autora um contrato de publicação dessas histórias que vem sendo lançadas desde 2017.

Eu não sei se você também sofreu com isso, mas passei um bom tempo sem conseguir me concentrar nas minhas leituras desde que essa pandemia se iniciou. Eu cheguei a ficar mais de um mês sem conseguir finalizar uma leitura sequer, a minha sorte foi ter agendado as postagens do #JulhoNacional com bastante antecedência, ou esse ano o projeto nem teria existido.

Essa falta de concentração se deve à diversos fatores como o aumento da carga de trabalho e a cobrança interna por produtividade, a estafa mental e emocional provocada pela pandemia em si, sem contar os absurdos cometidos pela pessoa que alguns escolheram para governar o país.

Foi nessa vibe de querer uma leitura mais leve, algo acolhedor e que me fizesse desconectar dos problemas que decidi buscar por algum quadrinho, publicações que sempre me ajudaram em momentos como esses, e acabei me lembrando de “Heartstopper”, magicamente finalizei a leitura dos três volumes disponíveis em três dias, e o meu bloqueio com a leitura destravou.

Então, antes de começar a falar sobre a história em si, deixo aqui a dica: se você está precisando de uma leitura leve para um momento difícil ou simplesmente para se livrar de um bloqueio de leituras, “Heartstopper” pode ser o remédio para você. Preciso avisar que os quadrinhos não possuem tradução para o português, mas não demanda um nível de inglês muito avançado, confie no seu taco!

Na trama, acompanhamos Charlie Springs, o único adolescente gay da escola onde estuda. Bem, pelo menos é isso o que todos pensam, ninguém sabe que Charlie mantêm uma “relação” as escondidas com Ben.

A relação dos dois garotos é bem estranha, seus encontros são sempre furtivos em salas vazias do colégio e Ben sempre fez questão de esconder essa parte sobre si, Charlie de início até entendia seu receio, afinal, ele foi tirado do armário à força para todos os alunos da escola, fato que lhe rendeu e continua lhe rendendo episódios de bullying e consequência para o seu emocional e psicológico. Mas quando Ben decide sair desfilando pela escola com uma garota, Charlie percebe que esteve em uma relação tóxica esse tempo todo, sendo usado como um objeto para saciar a curiosidade e o desejo de Ben, enquanto seus sentimentos eram totalmente desconsiderados.

Mas nem tudo está perdido, um novo ano letivo se inicia e Charlie descobre que sentará ao lado de ninguém menos de Nicholas Nelson, um atleta de tirar o fôlego, mas Charlie tenta se controlar, afinal, acabou de sair de um relacionamento tóxico e abusivo e não seria inteligente de sua parte se apaixonar por um colega hétero né? Kkkkk cada k uma gargalhada do coração de Charlie para sua tentativa de ser racional.

Conforme o tempo passa, Charlie e Nick começam a se aproximar, surge uma grande amizade e aos poucos Charlie descobre que o espectro da sexualidade humana engloba mais que apenas héteros e gays e Nick não se identifica como nenhum desses.

Com uma escrita leve e emocional, Alice Oseman constrói uma história permeada por representatividade, amor e cuidado. Eu sei que você deve ter lido minha descrição sobre a obra e ter pensado “nossa, mas essa história é bem clichê né, quantos filmes de menina desengonçada que se apaixona por menino gostosão da escola já não passou na sessão da tarde?”, sim eu concordo com você nesse ponto, mas eu te pergunto, quantos filmes sobre esse mesmo assunto com personagens não héteros você já assistiu na sessão da tarde?

A maioria das obras que retratam romance entre personagens do mesmo sexo são tragédias que envolvem doenças, crimes motivados por preconceito e ódio, comédias que estereotipam e não agregam em nada para uma comunidade que está longe de ser uma coisa só, sem mencionar os raros personagens LGBTQIA+ inseridos em uma narrativa apenas para passar a impressão de que o autor, roteirista e produtora se importa com a representatividade, infelizmente não faltam casos de confusão entre representatividade e representação hoje em dia. É por isso que obras como “Heartstopper” são tão importantes.

Ao longo de seus três volumes publicados até o momento, acompanhamos temas como as consequências do bullying para a vida de um jovem homossexual, as dificuldades de se relacionar sendo uma pessoa não-hétero, todas as travas emocionais e sociais que acorrentam a vida de quem é considerado fora no padrão por uma sociedade que considera mais válido pregar o ódio ao amor, relações familiares, rede de apoio e transtorno alimentar.

Eu sinceramente não consigo entender os motivos pelos quais as pessoas insistem em optar pelo ódio, pelo escárnio e pelo julgamento ao invés de aceitar que o amor não é algo estritamente reservado para relações heteronormativas.

Sei que a nossa sociedade condena a homossexualidade com base em um livro antigo teoricamente escrito por intermédio de um ser divino, ser divino esse que também pregou o famoso “ame uns aos outros” que é jogado no lixo todos os dias, mas tendo em vista toda a crueldade cometida ao redor do mundo, todas as provas de que estamos cheios de pessoas extremamente odiosas disseminando seus ideais de merda pelo mundo inteiro, uma doença que inesperadamente ceifa a vida de milhares de pessoas em poucos meses, ainda há espaço para escolher o ódio em detrimento do amor? Ainda há espaço para apontar o dedo e dizer que aquela relação de amor não é válida simplesmente por ser diferente? Ainda há espaço para continuar vivendo incutindo medo, invalidando e matando todos os dias pessoas que só querem amar e ser amadas em paz?

Eu acredito que histórias como “Heartstopper” através da relação de Charlie e Nick tem o poder de mostrar para as pessoas o quão prejudicial o preconceito pode ser para a vida de alguém, o quanto a subversão das palavras de amor em nome da fé ou de qualquer outro artifício pode levar, e de fato está levando, o nosso mundo à um caminho irreversível de ódio e foi por isso que decidi deixar meu bloqueio de postar aqui no blog, meu último post foi em 31/7, para indicar esses quadrinhos repletos de amor, representatividade, auto-cuidado e cuidado com o outro, pois são coisas das quais o nosso mundo está precisando com certa urgência, ainda mais em tempos tão sombrios como os que estamos enfrentando, por isso, fica aqui a minha tentativa de trazer um pouco de luz.

Você pode ler “Heartstopper” de forma gratuita no Tapas, ou adquirir o primeiro, segundo e terceiro volume na Amazon em formato físico ou digital.

4 comentários sobre “HQ: HEARTSTOPPER – ALICE OSEMAN

  1. RODRIGO LUCAS disse:

    Heartstopper é aquela leitura que eu precisei tanto quando eu tinha 15 anos… Mas a autora não tinha nascido ainda 🤭 Muito obrigado pela indicação.

    Curtido por 1 pessoa

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