LIVRO: RECURSÃO – BLAKE CROUCH

“Recursão” é o mais recente trabalho publicado pelo autor e roteirista Blake Crouch (“Pines” e “Matéria Escura”), o livro publicado em 2019 foi lançado no Brasil quase simultaneamente pela editora Intrínseca com tradução de Sheila Louzada.

Em “Recursão” acompanhamos sob dois pontos de vista diferentes uma história que reflete sobre a memória, consequências e a beleza da vida.

Barry Sutton é um investigador de polícia que carrega consigo as chagas do desastroso acidente que ceifou a vida de sua filha Meghan e levou consigo o seu casamento que acabou não sobrevivendo à dor da perda. Conhecemos Barry no tempo presente, em 2018, quando ele recebe um chamado que o leva ao topo de um prédio para tentar convencer Ann a não pular, a mulher sofre de SFM (Síndrome da Falsa Memória), uma doença misteriosa que planta na cabeça de suas vítimas lembranças de vidas que elas nunca tiveram.

Durante as tentativas de Barry, Ann conta um pouco sobre a SFM e explica que esse é o principal motivo que lhe levou ao topo daquele prédio. Não é fácil viver com lembranças falsas que lhe provocam sensações físicas e emocionais reais. Mesmo com todo o seu treinamento, Barry falha em salvar a vida de Ann e a conversa que tiveram no topo daquele prédio vai reverberar em sua mente ao ponto de lhe despertar a necessidade de investigar a vida de Ann e a SFM.

No ano de 2007, a neurocientista Helena Smith desenvolve uma pesquisa de uma cadeira que poderia ser a cura do Alzheimer, sua pesquisa é motivada pelo fato de sua mãe ser vítima dessa doença degenerativa.

Estagnada há um certo tempo por não conseguir um financiamento e prestes a perder sua bolsa de estudos, Helena se surpreende ao receber uma proposta irrecusável de Marcus Slade, um milionário excêntrico, não só lhe oferece um emprego muito bem remunerado, como também recursos ilimitados, um laboratório com as últimas tecnologias e uma equipe para que Helena possa tirar seu projeto do papel.

Ciente de que essa é tanto a chance de sua vida, quanto a chance de sua mãe não chegar ao estado irreversível da doença, Helena agarra a oportunidade com todas as suas forças. Mas as coisas começam a dar errado tanto para Helena em 2007 com sua pesquisa, quanto para Barry em 2018 com a sua investigação e grande parte da culpa se deve à mesma pessoa, Marcus Slade.

Conforme Helena se aproxima de seu objetivo, Slade deixa transparecer sua personalidade agressiva o obsessiva com os resultados, transmutando o projeto inicialmente criado para o bem em um catalisador de eventos catastróficos, capaz de alterar a realidade como a conhecemos. Conforme Barry se aproxima do centro de suas investigações, a empresa Slade lhe oferece uma chance de transformar sua própria realidade, tirando assim toda a dor que carrega consigo desde a morte de Meghan.

Os caminhos dos dois ludibriados por Marcus Slade e toda a sua sede de ganância se cruzam, Helena e Barry precisarão unir forças para reverter todo o mal que Slade já causou e todo o caos que ele está prestes a causar por conta de sua ganância cega. Somente Helena e Barry possuem o conhecimento e o poder de tomar uma atitude antes que os rumos inconscientemente desenhados por Slade destruam a realidade de milhões de vidas por todo o mundo.

Com uma escrita marcada por um ritmo frenético, hipnotizante e cheio de momentos de pura agonia, Blake Crouch tece reflexões acerca da memória, identidade e das nossas percepções sobre a vida e consequências de nossas ações e não-ações.

É muito interessante notar que há passagens aqui muito identificáveis, como por exemplo, a armadilha que a nossa memória arma para fazer com que tenhamos falsas lembranças, onde ela enfeita uma lembrança real para que ela permaneça em nossa mente, mesmo que de forma alterada. Isso acontece com Barry por exemplo, quando em uma conversa com sua ex-mulher relembrando um passeio com a filha ele diz que aquele dia específico foi um dia maravilhoso com céu aberto, enquanto sua mulher tem uma lembrança bem diferente de um dia com um clima chuvoso e um céu cinzento. Qual dessas memórias teria sido a mais próxima do que de fato aconteceu? Teria Barry enfeitado a memória para manter apenas lembranças incríveis com sua filha, ou teria sua esposa deixado o luto se infiltrar em suas lembranças contaminando a memória com o cinza da dor?

Há reflexões também sobre o nosso constante desejo de alterar o passado, de voltar atrás e mudar alguma atitude, evento ou tomar uma atitude quando houve passividade no lugar da ação. Essas reflexões são marcadas por respostas que não são bem respostas, mas que também nos faz questionar sobre outras questões, como a inevitabilidade das coisas e a formação da nossa identidade mediante às coisas que enfrentamos e superamos durante a vida. Além disso, Blake Crouch encontrou espaço para desenvolver uma das histórias de amor mais incríveis que eu já li (notei que tenho uma queda por histórias de amor onde os personagens estão envolvidos com questões de espaço tempo, vide “Novembro de 63”).

“Recursão” é bem aquilo que você ouviu falar por aí, um livro que explode cabeças, mas essa explosão não se deve ao livro ser complicado, por ter termos científicos demais, ou uma escrita muito técnica, pelo contrário, essa obra explode sua cabeça na medida que te faz refletir sobre os temas propostos e entrega função de fornecer uma resposta nas mãos do leitor, que vai fechar o livro na última página, mas vai permanecer refletindo sobre a história por um bom tempo, pelo menos eu ainda estou, mesmo tendo lido o livro no meio de Dezembro.

Gostou das minhas impressões sobre o livro? Você pode adquirir “Recursão” em formato físico ou digital pelo link do blog na Amazon (https://amzn.to/3pHsTRJ) e colaborar com o trabalho desse criador de conteúdo viciado em café.

Quantos cafés “Recursão” merece?

2 comentários sobre “LIVRO: RECURSÃO – BLAKE CROUCH

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