“Dias de Despedida” é um romance do autor, cantor e guitarrista norte-americano Jeff Zentner, lançado no Brasil em 2017 pela editora Seguinte, com tradução de Guilherme Miranda. Sim, eu demorei um bom tempo para ler esse livro que teve um hype imenso na época que foi lançado, mas eu não me arrependo, o Luke de hoje, com toda a certeza aproveitou mais a essência desse livro do que o Luke de 2017 poderia ter aproveitado. “Dias de Despedida” é uma obra que trata sobre morte, culpa. luto e superação desses processos.
Na história, Carver, Mars, Eli e Blake eram um grupo de amigos com personalidades diferentes entre si, mas que funcionavam muito bem quando estavam juntos, até que um trágico acidente interrompeu a vida dos adolescentes Mars, Eli e Blake, deixando Carver sem seus melhores amigos e tendo que enfrentar uma culpa interna e um julgamento externo sobre as circunstâncias que levaram ao acidente fatal dos seus três melhores amigos.
“…— Queria juntar num estádio todas as pessoas da Terra que tivessem vontade de expressar suas condolências por minha perda em algum momento. Então, no três (talvez após o disparo de um canhão), todos expressariam suas condolências ao mesmo tempo por trinta segundos. Eu ficaria no meio do campo e me banharia naqueles pêsames feito um maremoto. Assim, acabaria de uma vez por todas esse gotejar lento.”
Como se não fosse suficiente o fato de perder seus três melhores amigos de uma vez só em um acidente bobo e devastador, Carver carrega a culpa de supostamente ter provocado esse acidente e, diante de algumas descobertas durante a investigação, alguns dos familiares desses amigos não só culpam Carver e fazem questão de deixar isso extremamente claro para o garoto, como também reforçam a necessidade da abertura de um processo legal contra ele, para que o caso sirva de lição para os jovens daquela cidadezinha.
Diante disso, somados à culpa interna, ao luto e aos dedos e olhares apontando para si, Carver desenvolve Síndrome do Pânico, que lhe causa ataques de ansiedade principalmente em situações onde precisa sociabilizar no mesmo ambiente onde pessoas o julgam pela morte dos amigos, como se a cobrança interna já não fosse suficientemente excruciante.
Carver têm o apoio de sua irmã Geórgia, que é uma personagem incrível que além de estar presente em todos os momentos, apresenta ao irmão a terapia. É através de um processo guiado por um profissional da saúde mental que Carver vai atravessar esse processo de luto, culpa e também lidar com suas crises de ansiedade.
Eu particularmente achei incrível o autor tratar o tema de saúde mental, em um livro direcionado para o público jovem, com sensibilidade e responsabilidade, há muitos livros para esse público onde personagens passam por traumas absurdos e lidam com isso apenas com ajuda de amigos e de um romance repentino, o que trazendo para o mundo real não é algo de fato realista, muitas pessoas não conseguem lidar com esse momento extremamente complicado só com o suporte dos mais próximos, por isso me agradou bastante o autor trazer à tona o suporte profissional.
Além dessa ajuda psicológica e do apoio da irmã, a única pessoa da família com a qual Carver se sente confortável para se abrir, apesar de seus pais serem extremamente legais, compreensivos e aberto ao diálogo, o adolescente recebe uma proposta um tanto quanto inusitada, leva ao seu terapeuta e descobre nela um outro tipo de terapia para ajudar não só a si, como também os familiares dos seus amigos.
Essa proposta estranha é sugerida por Vovó Betsy, a avó de Blake. Ela sugere à Carver um dia de despedida que consiste em passar um dia como se fosse o último dia de deu neto, mostrando à Carver todas as coisas que eles costumavam fazer juntos e ambos compartilhando aspectos e fatos sobre as relações que mantinham com Blake e sua personalidade. Essa, sem dúvidas, é a parte que eu mais gostei e mais me emocionou no livro, o fato dessas pessoas se unirem para prestar uma última homenagem e terem a possibilidade de conhecer uma pessoa pela visão de outra.
Por mais que você conheça alguém, você nunca vai conhecer essa pessoa como um todo, todos nós temos aquele nosso pedaço que reservamos apenas para uma pessoa, ou um grupo de pessoas, aquela característica que dividimos apenas com pessoas com as quais nos sentimos confortáveis e de onde sabemos que não seremos julgados por sermos apenas quem nós somos. As relações humanas são extremamente singulares e esse “Dia de Despedida” proporciona uma visão quase que completa de cada personagem, levando em conta que mesmo que nos apresentemos para pessoas de formas diferentes, há sempre aqueles pedaços que reservamos apenas para nós mesmos.
Levantar essa questão nesse livro é importante na medida que nos mostra o quanto é necessário ter grupos de apoio, pessoas com as quais podemos ser nós mesmos de forma plena, sem medo de ser e sem receio de julgamentos. Carver é uma pessoa que no início de sua jornada pelo luto era uma pessoa que costumava compartimentalizar seus sentimentos e vai aprendendo aos poucos a importância de construir diálogo com esse “grupo de apoio” que mencionei.
Apesar da premissa triste, “Dias de Despedida” não é um livro pesado, é um livro que trata de temas pesados com sensibilidade e humor, há cenas bem divertidas nos flashbacks de momentos entre os amigos e a relação de Carver com sua irmã também rende momentos cômicos. O único fator que me incomodou um pouco, que já citei aqui ser recorrente em livros para esse público específico, é o fator romance, mas o autor dá um jeito de consertar isso durante a história, foi satisfatório, mas ainda assim considero o romance nesse livro bem desnecessário.
“Dias de Despedida” é um livro que sabe aborda um tema pesado com responsabilidade e sensibilidade, escorrega um pouco a mão ao utilizar o fator romance desnecessariamente, mas num geral possui bem mais acertos, este bem na reta final de 2020, acabou sendo um dos meus livros favoritos do ano.
Gostou das minhas impressões sobre o livro? Você pode adquirir “Dias de Despedida” em formato físico ou digital pelo link do blog na Amazon (https://amzn.to/35rlJJA) e colaborar com o trabalho desse criador de conteúdo viciado em café.
Quantos cafés “Dias de Despedida” merece?
Acho muito importante o tema saúde mental ser tratado, principalmente direcionado aos jovens que tem a chance de serem mais saudáveis que a minha geração.
Mais um pra lista.
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