“Minha Adorável Esposa” (2019) é o romance de estreia da autora estadunidense Samantha Downing. O livro foi lançado no Brasil inicialmente pela TAG-Experiências Literárias para os assinantes da TAG Inéditos em junho do ano passado, com tradução de Hilton Lima, em parceria com a editora Dublinense, que deve publicar a obra em breve com uma nova edição.
Não é de hoje que eu tenho um tombo declarado por personagens de caráter duvidoso, esse meu tombo aconteceu primeiramente com a saga do serial killer “Dexter” do autor Jeff Lindsay, depois encontrei alguns outros personagens para alimentar minha saudade do Dex (apelido carinhoso, pois me sinto íntimo), como Tom Ripley, do filme “O Talentoso Ripley” (preciso tomar vergonha na cara e ler o livro), o casal extremamente maluco e problemático de “A Garota Exemplar” e mais recentemente, o lixo nuclear em forma de personagem que é o Maurice Swift de “Uma Escada Para o Céu” do John Boyne. “Minha Adorável Esposa” é um livro com personagens podres em dose dupla.
Tobias, um professor de tênis, e Millicent, corretora de imóveis, formam um casal perfeito para estrelar um comercial de margarina, ambos se esforçaram muito para construir uma vida juntos, educar seus dois filhos pré-adolescentes e manter um casamento que já dura quinze anos. O segredo de tanta longevidade é a cumplicidade do casal, que poderia ser encarada como algo bom, se não fosse o fato de que boa parte dessa cumplicidade está intrinsecamente ligada a sustentação de um hobby secreto do casal, eles matam mulheres.
Os assassinatos começaram de forma inesperada na vida do casal e, aos poucos, tornaram-se um hobby que é sempre posto em prática quando a relação começa a esfriar, alguns tem fetiche por pés, outros por couro, alguns preferem herdeiros, Tobias gosta de propiciar felicidade para a sua esposa, assim, ele se utiliza de seus atributos físicos, sua rede de contatos e de um golpe muito baixo para escolher suas potenciais vítimas de acordo com padrões estabelecidos pelos dois.
Millicent é uma esposa adorável e fácil de agradar, para ver seu sorriso, Tobias precisa apenas encontrar a vítima perfeita, seduzir e entregá-la de bandeja para que Millicent se divirta. Cada um possuí um papel definido nesse jogo do casal, Tobias seleciona, Millicent cuida de todo o resto.
As coisas andam extremamente bem entre os dois, até que uma das vítimas do casal é encontrada pela polícia, algo que nunca havia acontecido. O descuido, inicialmente, gera pânico em Tobias, mas Millicent não tarda a explicar o seu plano genial. Utilizando a fama de um serial killer antigo que nunca foi pego, eles planejam se livrar de seus crimes e afastar qualquer possibilidade de serem pegos algum dia, desviando o rumo das investigações.
Mas dessa vez, os planos de Millicent não acontecem como o esperado, o pânico gerado pela descoberta do corpo de uma jovem e por uma carta divulgada por um jornalista indicando que um serial killer de mulheres está solto, acaba interferindo de forma intensa em seu ambiente familiar, causando problemas emocionais graves na filha do casal que começa a entrar em pânico com a possibilidade de acabar se tornando a próxima vítima. Para piorar, um fato sobre o corpo descoberto desperta curiosidades em Tobias, que passa a desconfiar e até temer sua adorável esposa.
Samantha Downing me entregou tudo que eu esperava e mais um pouco, um thriller tenso, repleto de suspense, cheio de reviravoltas, onde eu me peguei totalmente grudado nas páginas para descobrir qual seria a próxima reviravolta na dinâmica do casal. Houveram momentos nos quais torci para que Tobias e Millicent fossem descobertos, momentos nos quais torci para que eles não fossem descobertos, na medida que vamos conhecendo suas vítimas, e diversos momentos onde queria entrar na história e quebrar o pescoço dos dois e é isso que eu amo nesse tipo de história, a provocação que elas proporcionam, o sentimento estranho, enervante e a dualidade que sinto lendo histórias como essas.
Em uma entrevista para TAG, a autora contou que a ideia para escrever essa história começou com um documentário que ela assistiu sobre um casal que sequestrou uma mulher e começou a pensar sobre que tipo de mulher faria esse tipo de coisa com outra, foi assim que surgiu Millicent e o livro “Minha Adorável Esposa”, após vinte anos de escrita. A obra teve seus direitos adquiridos pela Amazon Studios em uma parceria com a produtora de Nicole Kidman (ela ama fazer o papel de uma esposa desequilibrada e eu amo ver essa atriz interpretando uma esposa desequilibrada).
“Minha Adorável Esposa” é um daqueles livros que você se envolve muito com a leitura e com os personagens, mesmo que esse envolvimento desperte ódio, por diversas vezes eu desejei entrar na história e dar um pescotapa no Tobias por ele ser tão frouxo e acompanhar a história sob o ponto de vista dele só me deixava com ainda mais raiva, Millicent é uma baita de uma megera manipuladora que assusta pelos requintes de crueldade com que planeja e executa suas façanhas tenebrosas, e inexplicavelmente o frouxo e a megera funcionam muito bem juntos em uma relação regada à segredos, amor de um jeito deturpado, ódio e ressentimentos contidos escondidos sob a superfície do que parece ser apenas mais um casal adorável do subúrbio. Se você gostou de algum dos livros que eu mencionei nessa resenha, é muito provável que você também vá gostar de “Minha Adorável Esposa”, por aqui, meu radar já está super sintonizado em Samantha Downing.
Você tem curiosidade de assinar a Tag Inéditos? Garanta 30% de desconto em sua primeira caixinha com o código do blog LUCNPU3F.
Quantos cafés “Minha Adorável Esposa” merece?