“Elefantes Barrem” é um romance escrito por Beatriz Leal Craveiro, publicado no ano passado pela Editora Penalux. Esse é o meu segundo contato com a escrita da autora, o primeiro aconteceu em 2018 com o conto “Luz Negra” da antologia “Novena para pecar em paz”, também da Editora Penalux.
“…Quem decide ser pai e mãe tem que aceitar que um dia as máscaras vão cair.”
Prestes a se casar, Orlando é levado pela noiva, Cristina, a uma cartomante, que lhe apresenta uma sorte peculiar e indesejável: se tirar o dente do siso, perderá o controle de uma de suas pálpebras. Transcorrida entre o final da década de 1970 e o início do ano de 2010, somos levados à acompanhar a história da família de Orlando e Cristina e todas as consequências advindas dessa visita a uma cartomante.
Ciente de que, caso tire o dente do siso, perderá o controle de uma de suas pálpebras, Orlando inicia sua saga pessoal de aprender a conviver com a dor provocada pelos dentes do siso. Como não lhe foi especificado qual dente levaria consigo o controle sobre a pálpebra, ele não retira nenhum. Para contornar a dor, Orlando vai criando uma dependência em analgésicos, criando gestos para acalmar a dor, gestos que acabam se transformando em manias e tiques nervosos.
Lívia e Lavínia são os frutos do casamento de Orlando e Cristina, a gêmeas sofrem as consequências das dissociações e perturbações mentais do pai a partir do momento em que ele decide ir embora sem deixar notícias ou vestígios de seu paradeiro. Não bastando as perturbações do pai e seu desaparecimento, as irmãs também criam seus próprios fantasmas.
Lívia é destra, Lavínia é canhota, essa é a primeira diferença que as irmãs gêmeas conseguem notar, daí em diante elas buscam por essas diferenças e as exaltam, chegando a criar abismos em suas relações. Enquanto Lívia cresce independente, Lavínia tem uma personalidade vivendo à sombra da irmã, sempre comparando duas decisões, gestos e até mesmo a forma com a qual se utiliza do toque das mãos. Lavínia é extremamente sensível, possui sentimentos tão fortes e intensos quanto o aperto de suas mãos, eu posso estar errado, mas notei certos aspectos de sinestesia na personagem.
“Quando não tinha como perguntar “por quê”, ele falava “caramba, você enxerga poesia em tudo, né?”. E quando eu começava a ensaiar um sorriso vaidoso, ele completava “irrita”, evidenciando meu circunlóquio.”
“Elefantes Barrem” é um livro de personagens com personalidades interessantes, fortes e perturbadas em forma. Há diversas questões interessantes principalmente acerca de transtornos da mente e problemas de autoimagem, a maioria dessas questões são apresentadas pela personagem Lavínia, que é a minha personagem favorita desse romance, ela parece sentir as coisas à flor da pele, esse exagero e todas os fantasmas que ela mantém presos dentro de si, se assemelham à uma bomba em contagem regressiva para a explosão. Porém, nem tudo são flores, o livro me agradou bastante no que tange construção de personagens, mas não me conquistou com a história em si, acho que ficou faltando a cola que justificasse o desencadear das perturbações mentais, eu não consegui comprar a ideia dessas perturbações transcenderem as gerações, consegui compreendê-las apenas individualmente, mas talvez essa seja apenas uma falta de percepção minha durante a leitura.
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Quantos cafés “Elefantes Barrem” me fez tomar?