LIVRO: UM MILHÃO DE FINAIS FELIZES – VITOR MARTINS

“Um Milhão de Finais Felizes” é o segundo romance escrito pelo autor e ilustrador Vitor Martins, a obra sucessora de “Quinze Dias” foi lançada em Julho deste ano e eu pude conferir o lançamento na Saraiva do Shopping Paulista, aqui em São Paulo, também lançado pela Globo Alt, o novo livro é um jovem-adulto de temática LGBT.

Eu tenho certeza de que, mesmo passando por tanta coisa ruim na vida, você ainda guarda um milhão de finais felizes aí dentro.

Jonas está perdido, estagnado em um limbo onde não sabe o que fazer da vida. Aos dezenove anos ele trabalha na Rocket Café, um café na paulista com uma temática espacial, (Vitor faça o favor de abrir um desses, pois quero experimentar um Galactccino com um Meteoro de Queijo) mas isso não é o que ele quer pra vida e para falar a verdade nem ele sabe o que quer. Como todo jovem recém formado no ensino médio, ele sofre com a pressão de ter que escolher uma profissão, uma faculdade, uma carreira para seguir pelo resto da vida e enquanto essa decisão não chega, ele atende à pedidos no Rocket Café e anota em seu caderninho de bolso ideias para livros que um dia irá escrever.

Jonas por @meusolhossaocastanhos – Todos os Direitos Reservados

Apesar de não ser o emprego dos sonhos, Jonas é feliz ali e grande parte dessa felicidade se deve à amiga e companheira de trabalho Karina, que sempre está ali para lhe ajudar e a fazer passar vergonha também, como no dia em que Arthur entrou no Rocket Café pela primeira vez, despertando várias coisas inéditas em Jonas, inclusive a sensação de que seria legal explicar um pouco do cardápio do café pegando um meteoro de queijo na mão e imitando o som de sua queda na frente do garoto bonitão. Tchuuuuuuuuuun.

Ensandecido pelo bonitão, Jonas imediatamente pega seu caderninho, associa a imagem do garoto com um pirata (por ter uma barba ruiva incrível, usar um coque de samurai e uma camiseta listrada por baixo da jaqueta jeans) e anota mais uma ideia em seu caderno de ideias para livros que um dia irá escrever: Piratas Gays! Então, passamos a acompanhar a estória em duas partes, sendo a estória de Jonas e a estória escrita por ele, embasada em sua vida com elementos de fantasia e antecipações.

Eu nunca beijei em público. Todos os meus beijos foram em cantos escuros em festas, ruas desertas e carros com vidros fechados. Mas assim, no meio de uma avenida movimentada, com um monte de gente passando? Isso é novidade pra mim. – Um Milhão de Finais Felizes

Se o que os dois vinham fazendo era tão bom, por que deveria ser feito nas sombras? Se aquilo trazia tanta felicidade, por que Tod sentia que seu Capitão jamais poderia saber? – Piratas Gays

Com o tempo e as coincidências da vida, Jonas começa a se relacionar com Arthur e isso não seria um grande problema se sua família não fosse tão complicada e seus conceitos já não tivessem se enraizado no filho.

A mãe do garoto é uma mulher doce, batalhadora e religiosa, seu pai é só um macho escroto horroroso, ambos colocam altas expectativas no filho, seu nome inclusive lhe foi dado em homenagem ao Jonas da bíblia, pois sua mãe crê que o garoto é um milagre. Acontece que o garoto milagre sabe que se permitir ser verdadeiro com a família e consigo mesmo terá seu status revertido para garoto amaldiçoado.

Desde pequeno, Jonas sempre escutou que ser gay é errado, é um caminho automático para a danação eterna, para a desgraça da família e de sua alma. Ele tentou mudar, passou noites pedindo à Deus que o transformasse em hétero, que mudasse sua mente, lhe salvasse do inferno, mas nada aconteceu, continuou gay, afinal, Deus não vai alterar aquilo que não está errado.

Diante disso, o personagem é obrigado a viver duas vidas diferentes e toda essa criação enraizou em sua mente e em seu coração que ser gay é errado, até que ele conhece o “Barba Ruiva” e começa aos poucos a ver que o amor não pode ser assim tão errado, inicia-se assim sua fase de auto-aceitação. E nada seria de Jonas sem seus amigos incríveis para lhe ajudar nessa fase, Karina, Dan e Isa são pessoas diferentes, com estórias de vida diferentes, mas que possuem algo em comum, a empatia e o amor ao próximo que é tão pregado por aí quanto deixado de lado para dar lugar ao apontar de dedos e aos discursos de ódio e condenação.

“É compreensível o que a falta de afeto pode fazer com um homem”, Bart comentou, abrindo um dos compartimentos da cozinha para pegar uma lamparina.

As atitudes cruéis e egoístas dos pais de Jonas, apesar de abomináveis, são compreensíveis e em nenhum momento o autor condena a religião. A crítica aqui está na forma com que as pessoas se utilizam da religião e da Palavra de forma que atenda as suas conveniências, como eu disse anteriormente, a Palavra nos diz que acima de tudo devemos amar uns aos outros e com “Um Milhão de Finais Felizes”, Vitor mostra exatamente isso, como o amor pode ser mais forte que o ódio, a intolerância e a ignorância (no sentido da falta de conhecimento).

Arthur por @meusolhossaocastanhos – Todos os Direitos Reservados

Outra coisa que o livro aborda é a questão da família, mostrando que o conceito de família vai muito além de pessoas morando sob o mesmo teto ou ancestralidade comum, família são aquelas pessoas que te amam apesar dos seus defeitos e falhas, que entendem que você pode ser diferente e que isso não é um problema, são aqueles que te oferecem um ombro amigo para derramar lágrimas, um abrigo em meio às tempestades, o ouvido em meio às crises e sem dúvida alguma, o coração aberto em momentos que parece que tudo está se fechando e se comprimindo tentando esmagar sua essência e tudo que há de bom e verdadeiro em você.

Eu nunca tive vontade de morrer, mas perdi as contas de quantas vezes desejei apenas parar de existir por um tempo. E todos esses anos segurando as aparências, me escondendo de mim mesmo, tentando viver duas vidas completamente diferentes e sustentando minhas mentiras me deixaram cansado.

Com personagens incríveis, dramas infelizmente reais, um excelente senso de humor e uma mensagem que precisa ser ouvida e discutida, “Um Milhão de Finais Felizes” é uma clara evolução do autor não só em sua escrita, mas também em sua intenção, que desde o primeiro livro tem sido incrível.

Eu fico admirado com a sutileza com a qual o autor toca em assuntos tão delicados quanto a homossexualidade, religião e preconceito, sem nunca perder a gravidade destes assuntos, mesclando a fantasia com o mundo real de forma verossímil, associável  e absolutamente crível. As palavras de Vitor com toda a certeza são expressadas com propriedade e com a vontade de ver certas coisas mudando, e quer forma melhor de começar isso do que escrevendo um livro sobre tais temas para atingir um público que daqui há alguns anos serão aqueles que educarão as próximas gerações? Eu creio no poder das palavras, no poder da literatura e fico feliz de ver que as pessoas não desistiram e nunca vão desistir de tentar fazer o mundo melhorar, pouco a pouco.

Eu fiquei tão imerso na leitura que devorei o livro inteiro em um dia, eu simplesmente não conseguia desgrudar os olhos do livro enquanto não descobrisse o que aconteceria com aqueles personagens, o Vitor consegue criar personagens de empatia inevitável, creio que todas as pessoas que lerem vão se pegar desejando fazer parte do ciclo de amigos de Jonas. Eu gostei tanto do livro e considero a mensagem tão importante que decidi, assim que terminei a leitura, que deveria arrumar alguma forma de espalhar essa mensagem, então, além dessa resenha, vou sortear um exemplar do livro lá no Instagram do blog, então, caso tenham curtido a resenha, fiquem ligados por lá essa semana!

Quantos cafés “Um Milhão de Finais Felizes” merece?

11 comentários sobre “LIVRO: UM MILHÃO DE FINAIS FELIZES – VITOR MARTINS

  1. Rodrigo disse:

    Ótimo livro. Ótima resenha. Ótima mensagem. Ótimas ilustrações (barba ruiva com a camiseta do teen Wolf *.*)

    Vitor Martins precisa lançar um livro por ano. A mensagem dele é muito válida e a dosagem entre drama e humor está na medida certa. Única decepção foi o descuido da editora em lançar Um milhão num tamanho diferente do Quinze dias. Como é um autor novo que só publicou com eles, deviam ter um cuidado maior, afinal ele está vendendo bem e tendo visibilidade! Você ganhou os broches dos piratas?

    Curtido por 1 pessoa

  2. Jeniffer Geraldine disse:

    Que resenha maravilhosa! Fiquei com muita vontade de ler esse livro. Sinto que é uma obra que precisa ser espalhada mesmo, por todos os cantos. Vou ler com certeza!
    Bjão, Luke!

    Curtido por 1 pessoa

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