“Virgínia Berlim [uma experiência]” foi o primeiro romance escrito pelo autor americanense Luiz Biajoni, a obra começou a ser elaborada no ano de 1996 e publicada em 2007, pela extinta editora paulistana OsViraLata, em uma tiragem de 200 exemplares – que se esgotaram na noite de lançamento.
A obra tornou-se cultuada e chamou a atenção rendendo várias resenhas na internet e em 2007 ganhou uma nova edição pela Editora Penalux em comemoração aos 10 anos da primeira publicação. A obra é uma oportunidade para que leitores das demais obras do autor e principiantes em sua escrita, como é o meu caso, possam conhecer o início de um autor procurando o seu estilo, mas com a prosa já característica, mesmerizante. Uma curiosidade é que o projeto foi concebido com uma trilha sonora que você pode conferir no site do autor.
Virgínia era uma escriturária sem sal, não era bonita, era uma loira pálida de peitos pequenos e bunda caída, porém, ainda tinha certo frescor da juventude, sobrancelhas bonitas e arqueadas, inquisidoras. Mas, no geral, era ninguém. Virgínia só passou a ser alguém quando após um dos happy hour pediu que o nosso narrador, sem nome, que a acompanhasse até o ponto de ônibus, dando-lhe um beijo nos lábios antes de pegar seu ônibus.
A partir deste beijo, vindo de uma garota sem sal que tinha um relacionamento sério com um médico e trabalhava na mesma empresa que o narrador, o nosso narrador é fisgado e descobre-se apaixonado por Virgínia.
Soturno e calado, o personagem acaba ficando confinado em seu apartamento quando sofre um pequeno acidente doméstico e fere seu pé. Afastado do mundo lá fora, ele é obrigado a ficar sozinho, dependendo de ajuda de um farmacêutico para tratar de seus curativos e recebendo eventuais visitas de Virgínia, sendo elas solicitadas ou não, mas sempre muito aguardadas, a garota sem sal que não era ninguém passou a exercer um poder incrível sobre ele.
Com encontros regados à poucas palavras, muito sexo, música e bebida, o narrador vai se tornando íntimo de Virgínia sem que a troca seja exatamente recíproca, até o dia em que Virgínia para de aparecer em seu apartamento.
A trama do livro é bem simples e veio da experiência do próprio autor que se viu sozinho em seu apartamento após o término de um relacionamento, porém, o personagem cria alguns contornos imaginativos acerca de Virgínia por estar privado de sair de seu apartamento, de frequentar a vida lá fora, o real. A garota que não era ninguém é a única personagem com nome, a única que realmente era alguém e que com a sua presença mostra ao narrador que ele também pode vir a ser.
Venho ficado com menos fome a cada dia. A dor nos tira a fome, o amor nos tira a fome, a desilusão nos tira a fome, a morte nos tira a fome. Aliás, tudo só nos subtrai.
“Virgínia Berlim [uma experiência]” não é um livro com uma trama inovadora, o que creio ter deixado o autor surpreso com o sucesso e repercussão do trabalho, o que chama a atenção aqui é a escrita do autor e a forma com que ele prende o leitor na história, não precisando de muitas descrições, personagens e páginas, assim como o narrador, também somos hipnotizados pelo mistério que é Virgínia, Luiz Biajoni fez da garota sem sal que não era ninguém o centro de uma boa estória de amor com traços de romance policial que se torna importante ao mostrar que a falta de importância que você dá as coisas pode ser um engano.
Assim como a primeira edição, a nova tiragem possui um número de exemplares limitado, dessa vez ao número de 100 exemplares numerados, sendo que os 50 primeiros exemplares vendidos foram autografados pelo autor, caso goste da minha resenha e queira adquirir a obra, basta acessar este link.
Quantos cafés “Virgínia Berlim” merece?