LIVRO: NUNCA VI A CHUVA – STEFANO VOLP

Nunca vi a chuva é um romance lançado inicialmente de forma independente por Stefano Volp, escritor, roteirista, tradutor e produtor editorial, e mais recentemente relançado pela editora Galera. Volp possui outros trabalhos publicados, como O segredo das larvas (Independente, 2020) Homens pretos (não) choram (Harper Collins, 2022) e O beijo do rio (Harper Collins, 2022).

Quem acompanha o blog desde o início sabe que em certo ponto da minha vida de leitor embarquei em uma jornada para ler e descobrir mais obras nacionais ao perceber que minhas leituras e minha estante era majoritariamente ocupada por literatura internacional.

Desde essa percepção, meu radar para novos autores e novas publicações tornou-se mais atento e sensível, eu já havia descoberto Volp alguns anos atrás buscando livros na Amazon e me deparando com O segredo das larvas, que não cheguei a ler ainda, mas foi com Nunca vi a chuva que pude conhecer sua escrita.

Capa da versão independente com ilustração de @meusolhossaocastanhos

Lucas é um jovem negro adotado que recentemente começou a registrar seus dias em um diário como tarefa da terapia. Essa tarefa se mostrou necessária por alguns motivos, sendo eles: o distanciamento da família, que sempre muito ocupada acaba sendo pouco presente, e também pelo fato de que o jovem já pensou/tentou acabar com a própria vida algumas vezes.

Em um período especialmente complicado e com um espaçamento muito curto de eventos pessoais acontecendo na vida de Lucas, eventos que envolvem traições em diversos sentidos em suas poucas relações de afeto, ele decide novamente tentar colocar um fim a sua vida, mas esse ato é interrompido quando ele recebe uma mensagem anônima com um link para um vídeo no YouTube onde um rapaz idêntico a ele canta uma música do Tiago Iorc.

Decidido a fugir de sua realidade atual, o jovem tenta encontrar esse garoto e descobrir mais sobre ele e, quem sabe, ter a chance de finalmente saber quem são seus pais biológicos. Lucas consegue entrar em contato com seu sósia e descobre algumas similaridades além da aparência e algumas diferenças importantes também, Lucas pode ver e sempre teve tudo na vida, mas não consegue sorrir, enquanto seu sósia mesmo privado da visão e de todos os luxos que Lucas muitas das vezes desdenha, possui um sorriso aberto e solto.

Nesse início do livro eu não estava conseguindo me identificar com o Lucas, estava bem complicado sentir empatia, o personagem tem atitudes de jovem rico e mimado que fizeram meus olhos revirarem até ser possível dar uma piscadinha para o meu cérebro.

Lucas parte rumo ao interior do Rio de Janeiro para conhecer seu sósia, é lá se depara com uma realidade bem diferente da sua, uma vez que sua família é rica e a de seu sósia Rafael não. Tudo na vida de Rafael é diferente, mas a diferença que mais salta aos olhos de Lucas são as relações de afeto que ele encontra na casa de seu irmão.

No período de tempo que Lucas passa na casa de Rafael, ele permite, por estar aberto, que mudanças aconteçam dentro de si. Conforme os dias passam e a relação com seu irmão e família crescem, ele passa a traçar alguns paralelos com sua própria vida, identificando de forma natural pontos de melhoria que vão amadurecendo aquele personagem mimado, imaturo e ingrato que me fez revirar os olhos no começo do livro.

Além da questão de encontrar um possível irmão gêmeo do qual nunca soube da existência, Lucas precisará lidar com o trauma de Rafael para que consiga ajudá-lo, encontrar uma forma de melhorar sua relação com a família, descobrir definitivamente se ele e Rafa são mesmo irmãos de sangue, lidar com as inseguranças do irmão e atribuir novos significados à diversas atitudes, certezas e chatices que cultivou durante toda a sua vida e uma gaiolinha dourada.

Eu gostei da revelação sobre a família biológica e a lição que Rafa dá em Lucas, foi algo que trouxe certo movimento para a trama. Inclusive, mais para o final do livro, há uma cena lindíssima que basicamente dá o nome ao livro e ela foi escrita com uma sensibilidade ímpar, eu amei muito e confesso que me emocionei bastante.

Eu dei quatro estrelas no final por não ter me afeiçoado ao Lucas e, como o livro é basicamente um diário dele, é uma questão complicada, embora eu entenda que o personagem precise ser um tanto intragável para que sua transformação seja mais visível. A escrita do Volp é bem gostosa e te dá vontade de seguir acompanhando, espero poder ler mais obras dele em breve e acompanhar a evolução da sua escrita.

Gostou das minhas impressões? Você pode adquirir Nunca vi a chuva utilizando meu código de afiliado (https://amzn.to/3Cd0sDL).

Quantos cafés Nunca vi a chuva merece?

2 comentários sobre “LIVRO: NUNCA VI A CHUVA – STEFANO VOLP

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.