LIVRO: NA CASA DO MEU PAI – GABRIEL CALÁCIA

Na casa do meu pai é um livro de terror escrito por Gabriel Calácia, escritor e músico, e publicado pela editora Dame Blanche. O autor já teve histórias publicadas por aqui na  Faísca e no exterior, na revista norte-americana Clarkesworld, contudo esse foi o meu primeiro contato com a escrita dele, e que baita primeira experiência.

Laís é uma adolescente movida à música, quando não está com seus amigos assistindo filmes de terror, a adolescente de catorze — quase quinze — anos está em seu quarto tocando violão ou guitarra. Seus pais são divorciados, ela mora com a mãe e vê seu pai muito raramente.

Um desses raros dias de visitar o pai que mora em outra cidade finalmente chegou, então Laís deixa para trás sua rotina, sua mãe, sua guitarra e violão — pois sabe que seu pai se desagrada de seu gosto musical — e parte de carro para passar alguns dias com ele no interior de Goiás.

Sem seus artefatos demoníacos hahahah ai ai instrumentos musicais para se distrair, a jovem leva consigo um livro do Stephen King, com uma capa sóbria que não denuncie seu conteúdo, e seus inseparáveis fones de ouvido com os quais pode escutar as músicas vindas direto do inferno das suas bandas favoritas sem interferir na paz de seu pai religioso.

Entre os riffs de guitarra nos fones de ouvido, as paisagens bucólicas pelas janelas do carro, os momentos de conversa com seu pai e pensamentos intrusivos, Laís começa a ter algumas lembranças fragmentadas de um acontecimento específico que ocorreu em sua infância.

Quando criança, Laís tinha apenas uma amizade de verdade e algo de muito ruim aconteceu com sua amiga, ela não lembra ao certo o que houve, sequer se lembrava dessa grande amizade, as peças dessas lembranças vão chegando aos poucos conforme vai se aproximando da casa de seu pai e começam a tomar mais forma quando estranhos eventos começam a acontecer durante sua estadia.

Além de ter que administrar essas lembranças que retornam aos poucos, a adolescente também precisa entender se um evento sinistro que ocorreu durante sua primeira noite na casa do seu pai foi apenas um truque de luz e vapor, ou se havia mesmo uma pessoa nas sombras a observando.

Como se já não fosse coisa bastante para administrar, Laís acaba descobrindo um segredo de seu pai. Segredo este que vai atormentá-la, desestabilizá-la e destruir de vez barreiras de contenção construídas em sua mente, despertando algo desconhecido.

Na casa do meu pai é um prato cheio para fãs do autor Stephen King por dois motivos, sendo o mais óbvio deles as referências à obras do autor como O iluminado, CarrieJogo perigo e A espera de um milagre, mas principalmente pela opção de construir atmosfera e personagens ao invés de apostar em apenas uma coleção de sustos.

Inclusive, há uma passagem no texto onde o próprio autor fala sobre isso “…Mas o susto por si só não é nada demais. A gente se recupera fácil deles. É por isso que os filmes de terror populares atuais pareciam tão ruins em comparação com os filmes antigos do Jônatas: era só susto, sem história de verdade. É a história que machuca, são as pessoas que machucam.” e ele é bem-sucedido justamente ao fazer com que os personagens sejam o foco.

Tendo esse foco nos personagens e construindo eles com personalidades interessantes, camadas e segredos que vão os transformando no meio do caminho, o autor consegue fazer com que o leitor tema tanto pela ameaça sobrenatural quanto pelas consequências e conflitos que a exposição de segredos podem causar nas relações dos personagens.

De verdade, chegou em um momento da leitura que eu não sabia se temia mais o que o segredo do pai poderia desencadear, se poderia colocar a Laís em risco, ou a ameaça sobrenatural à espreita, que também poderia colocá-la em risco. E é nesse grande campo minado de segredos enterrados e lembranças pontiagudas que Gabriel Calácia me manteve preso do começo ao fim dessa história, que venham mais obras do autor, pois por aqui já está devidamente cadastrado no meu radar.

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Quantos cafés Na casa do meu pai merece?

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