CINEMA: O DOUTRINADOR

“O Doutrinador” é a adaptação do quadrinho homônimo do quadrinista e designer gráfico nacional Leandro Cunha e acaba de chegar às telonas apresentando um anti-herói tupiniquim que, cansado e traumatizado com as consequências da corrupção, decide fazer justiça com as próprias mãos.

Miguel (Kiko Pissolato) é um agente de uma divisão especial da polícia que atualmente se encarrega da Operação Linforma, uma grande investigação sobre o desvio de verbas vultuosas que deveriam ser destinadas à saúde pública e acabaram indo parar nos bolsos de figuras corruptas. Quando o governador Sandro Corrêa (Eduardo Moscovis) consegue se safar das acusações e sair impune, a população se revolta e Miguel, como principal envolvido nas investigações e na prisão de Sandro, sofre uma retaliação que o abala emocionalmente na mesma intensidade que provoca uma sede por justiça, ou seria vingança?

Em meio ao protesto da população contra o governador inocentado, surge o Doutrinador, vencendo as barreiras da polícia e tomando as rédeas da situação com seus próprios punhos. Por descuido, em sua primeira ação, Nina (Tainá Medina), descobre a identidade do agente da polícia, porém, para proteger seus próprios segredos, não só ajuda o anti-herói a permanecer oculto, como também se utiliza de seus talentos para ajudá-lo em sua missão de acabar com a corrupção arrancando o mal pela raiz e tornando o solo infértil.

Com direção de Gustavo Bonafé e produção de Renata Rezende, “O Doutrinador” apresenta uma cinematografia interessante e bonita, as sequências de ação são bem feitas, as lutas são bem coreografadas e Kiko Pissolato com sua fisicalidade colaboram para que elas não pareçam falsas ou sem peso, pelo contrário, há cenas bem gráficas, violentas e brutais aqui. Eu particularmente gostei bastante da trilha sonora, os efeitos práticos são muito bem utilizados, o design de produção é muito bom e o filme foi filmado de uma forma que remete bem à sua origem, com certeza você vai assistir certas cenas e pensar que aquele frame se assemelha à alguma HQ, eu pensei em Batman em alguns momentos!

O argumento do roteiro é extremamente atual e é inevitável fazer links com a situação política atual, a corrupção enraizada, o dinheiro que deveria ser utilizado em serviços públicos sendo utilizados como propina, a falta de opções de voto, o messias que aparece falando merda quando o permitem falar em público,  o arquivamento de algumas investigações importantes e a abertura de investigações risíveis e inacreditáveis, a corrida em tempos de eleições, onde candidatos fingem se importar com a população e outros exemplos infelizmente tão verossímeis.

Contudo, o longa não é isento de falhas, há alguns diálogos bem ruins, se utilizando de frases de efeito em sua construção e uma repetição de certas cenas que soam um tanto quanto desnecessárias, por exemplo, volta e meia o Doutrinador aparece em cima de um prédio observando a cidade e é só isso mesmo, não há nada depois, não há uma continuidade para a cena, a cena em si fica bonita, mas quando se repete pela terceira vez sem nenhum propósito, perde a magia inicial. Há também a falta de profundidade e construção de certos personagens que se tivessem tido mais tempo em tela, poderiam ter subido a carga dramática que certas cenas precisavam e não tiveram.

“O Doutrinador” é um projeto muito interessante e revigorante para o cinema brasileiro, é incrível termos um anti-herói lutando contra a corrupção nas telonas, surgindo em um momento onde carecemos de esperança; engraçado que trabalhos envolvendo heróis sempre surgem em momentos onde ou a população está descrente ou há uma grande mensagem para se passar para a sociedade, vide os X-Men que surgiram para mostrar que as minorias importam e deveriam ser respeitadas. Ver esse projeto envolto por um trabalho de direção bem executado, com atores bem escalados, cenas de ações energéticas e empolgantes, fazem com que as falhas do longa fiquem em segundo plano, ainda mais com a notícia de que o projeto se tornará uma série no próximo ano. Espero que no formato seriado seja possível ter mais tempo para desenvolver e construir os personagens, pois o legado do Doutrinador merece ser levado adiante pela sua importância, relevância e porquê não, perigo para aqueles que não se comportam direito!

Quantos cafés “O Doutrinador” merece?

Um comentário sobre “CINEMA: O DOUTRINADOR

  1. Rodrigo disse:

    Que resenha incrível!! Deu mais vontade ainda de ver o filme. Não sei como não surgiu ainda uma campanha contra o filme, afinal tudo que estimula a justiça e o pensamento crítico é encarado como doutrinação, atribuindo a palavra apenas um sentido negativo.

    Curtido por 1 pessoa

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