“A silenciosa inclinação das águas” é a continuação de “O frágil toque dos mutilados”, o premiado romance de estreia do autor Alex Sens. Lançada pela Autêntica Editora em maio deste ano, a sequência ainda contará com uma segunda parte com lançamento previsto para o próximo ano e uma conclusão ainda sem previsão de lançamento, tornando a história de Magnólia e sua família uma trilogia de drama familiar em quatro volumes.
Sete anos após os eventos de “O frágil toque dos mutilados”, Magnólia encontra-se ainda mais afastada de seu irmão Orlando e enfrenta uma crise em seu casamento com Herbert. O casamento de mais de uma década foi se enfraquecendo entre mentiras, palavras não ditas e traições, além do inesperado aborto de uma indesejada gravidez.
“O problema das coisas pequenas e aparentemente sem importância é que elas têm uma força perniciosa e aliciante de acumulação, e quanto mais se acumulam, maiores são os problemas criados, como insignificantes grãos de areia que, com o virar de um vento inesperado, formam uma imensa duna.”
Herbert organiza um jantar entre casais onde Magnólia poderá conhecer Sylvia, colega de trabalho de Herbert, e seu marido Ângelo. Magnólia nutre certas desconfianças quanto à fidelidade do marido em decorrência de alterações em seu comportamento e Sylvia é personagem chave dessa desconfiança, fato que faz com que a enóloga vá ao jantar armada com sua língua ferina.
Contudo, logo é desarmada ao descobrir que o marido de Sylvia é Ângelo, seu chefe e amante, com quem acabou de passar a tarde na cama que divide com Herbert. Enquanto o casamento de Herbert e Magnólia esfarela ao entrar em atrito com as protuberâncias de seus segredos e mentiras, acompanhamos o relacionamento de Tomas e Alister, um contraponto importante que se fará presente até o final da obra.
Quando finalizei a minha leitura de “O frágil toque dos mutilados”, fiquei com o coração apertado para saber como se desenrolaria a relação de Tomas e Alister, as respostas chegam nessa sequência. Tomas está indo atrás de seu sonho e para isso precisa se afastar de Alister por um período curto de tempo. Durante esse afastamento físico, eles se correspondem via e-mail, recurso narrativo utilizado com primor pelo autor nesse segundo volume, contando sobre os seus dias, expressando saudades, sentimentos e expectativas, mas acima de tudo contando os dias para o reencontro.
Os sentimentos de Tomas e Alister possuem a intensidade própria da juventude, a troca de e-mails entre os dois é recheada de açúcar, metáforas, poesia e cerceada pela hipérbole. Tomas é escritor e acompanhar suas tentativas de descrever seus sentimentos, sensações e desassossegos é simplesmente lindo, ao ler esses trechos epistolares me senti extremamente próximo dos dois e me identifiquei bastante em diversos aspectos, pois também sou bem hiperbólico, exagerado e propenso ao melodrama quando tento transfigurar meus sentimentos em palavras.
O livro é dividido em duas partes, sendo a primeira ambientada no Brasil e a segunda na Noruega. Na segunda parte, os personagens são reunidos novamente por uma tragédia e a trama muda totalmente de rumo e clima, ganhando o peso e a melancolia do luto aliados às temperaturas baixas da Noruega.
Eu não posso falar muito sobre a trama dessa segunda parte do livro, pois correria o risco de acabar revelando um acontecimento que estragaria sua experiência de leitura. Quero que você tenha a mesma reação que eu, ou pelo menos mais contida, (passei umas 3 páginas chorando e tive que tacar o livro no chão em certa passagem) ao se deparar com o que o autor reservou para a conclusão da primeira parte e também para o desfecho da segunda parte, que é absolutamente desesperador! Alex, se você estiver lendo essa resenha, saiba que nunca vou te perdoar pelo que fez, mas ainda assim, quero a sequência desse livro PRA ONTEM!
O que eu posso falar sobre essa segunda parte é que a forma com a qual cada personagem lida com esse desastre é muito interessante de acompanhar, assim como as motivações que os levam à se deslocar. Mas, a melhor coisa dessa sequência é, sem dúvidas, os momentos de interação entre Magnólia e Tomas, eu lia essas passagens com uma apreensão gigante e com os olhos cheios d’água sempre.
“– A dor não é líquida, não evapora e some diante dos nossos olhos. É dura, é sólida. Podemos destruir nossas dores em milhares de cacos, transformá-las em pó, mas elas continuarão lá. E, juntas, podem voltar a formar muralhas que nunca vamos ousar atravessar.
…
– Você já atravessou alguma muralha? ….
– Eu vivo presa em uma.”
Mais uma vez Alex Sens nos presenteia com uma história tocante, repleta de significados e reflexões acerca de relações, laços, começos, meios e fins. Com uma escrita tocante, metafórica, poética e uma capacidade impar para capturar e transcrever dramas humanos, construir personagens intrigantes, incômodos, multifacetados e extremamente reais. Sem dúvidas, descobrir a escrita e as obras do autor foi um dos meus pontos autos como leitor este ano.
“A silenciosa inclinação das águas” é um livro que cavuca a ferida, investiga a dor da morte, as reações que nós temos frente a ela, a construção de relações de afeto e também a destruição dessas relações, a cumplicidade, o exercício de tentar continuar apesar das adversidades e todos os espectros sejam eles bons ou nem tão bons assim das relações familiares. Agora que já conhecemos os personagens psicológica e emocionalmente mutilados e presenciamos as águas dos olhos se inclinarem rumo ao chão, me pergunto o que o autor reserva para quando essas gotas salgadas cederem, para quando as ondas se chocarem no próximo volume dessa saga familiar, que até aqui, tem sido incrível.
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Quantos cafés “A silenciosa inclinação das águas” merece?
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